São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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Assessor de CPI sabia de esquema

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A CPI do Banestado, criada no ano passado pelo Congresso para investigar remessas ilegais de dinheiro ao exterior via contas CC5 (de não-residentes), foi assessorada por Rafael Schimidt Neto, funcionário do Banco Central em Curitiba. Schimidt Neto sabia que contas CC5 estavam em nome de laranjas, segundo depoimentos à Justiça do doleiro Alberto Youssef, dono da Youssef Câmbios, e do ex-diretor de câmbio e operações internacionais do Banestado Gabriel Nunes Pires Neto.
De acordo com os depoimentos de Youssef e Pires Neto, revelados pela Folha, os responsáveis no BC pelas operações de câmbio no Paraná George Pantelíades, o "Grego", e Schimidt Neto, o "Alemão", sabiam das contas de laranjas.
O escândalo do uso de laranjas para a evasão de divisas e lavagem de dinheiro veio à tona no início de 1999, quando o então procurador da República em Cascavel (PR), Celso Antônio Três, quebrou o sigilo das remessas CC5 de 1992 a 1998. No período, foi enviado ao exterior R$ 124,1 bilhões. Grande parte disso, segundo Três, por contas em nome de laranjas.
A maioria das remessas usando laranjas foi de 1996 a 1998, quando houve a flexibilização da fiscalização pelo BC. Remessas de pessoas físicas superiores a R$ 10 mil tinham de ser informadas ao BC, o que não ocorreu no período.
A CPI do Banestado e o BC divergem sobre o período em que Schimidt Neto trabalhou para a comissão. Sua função era explicar tecnicamente à CPI as remessas por contas CC5. Segundo o relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), Schimidt Neto assessorou a CPI de 18 de julho a 10 de setembro de 2003. Já o Banco Central informou que o período foi menor, de 18 a 29 de julho.
Oficialmente, a CPI do Banestado alegou razões técnicas para devolver o servidor ao BC. A Agência Folha apurou, porém, que os parlamentares resolveram dispensar Schimidt Neto depois que sua assinatura apareceu em documentos do BC sobre o assunto.


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