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NOVELA MINISTERIAL
Após ultimato de Severino, presidente adiou mudanças; Jucá assumiu Previdência, e Bernardo, Planejamento
Contrariado, Lula engaveta reforma ampla
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa tentativa de fugir do carimbo de arranjo fisiológico explícito para sua reeleição e contrariado com o ultimato do presidente
da Câmara, Severino Cavalcanti
(PP-PE), o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva decidiu ontem mudar apenas dois ministérios (Previdência e Planejamento). Suspendeu, pelo menos por ora, a reforma mais ampla que adiava
desde novembro.
Após reunião com a ala governista do PMDB, Lula decidiu indicar o senador peemedebista Romero Jucá (RR) para ministro da
Previdência, em substituição do
também senador peemedebista
Amir Lando (RO), e nomear o deputado federal petista Paulo Bernardo (PR) para o Planejamento,
até então ocupado pelo interino
Nelson Machado.
Segundo relato dado à Folha
por três auxiliares, Lula disse que,
se cedesse, acabaria com seu governo, referindo-se à decisão de
não atender às pressões fisiológicas de aliados por ministérios.
Com a surpreendente decisão,
Lula reforça a blindagem do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, vitorioso mais uma vez, e aposta numa aproximação maior com
o PMDB para 2006, em detrimento do PP. Bernardo é um petista
afinado com Palocci e que tem
boas relações com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu,
político que também sai fortalecido -retomou as articulações políticas e comandará as negociações da reeleição em 2006.
A exemplo de Dirceu e Palocci,
Bernardo não deverá concorrer
em 2006, apostando na reeleição
de Lula e evitando ser ministro
por apenas um ano. Quem for disputar eleições em 1º de outubro
de 2006 deverá se desincompatibilizar dos cargos até a meia-noite
de 31 de março de 2006 -seis meses antes, como reza a lei.
PMDB e reeleição
A idéia de Lula e Dirceu é recompor pontes com a ala oposicionista do PMDB, reforçando o
grupo governista, que também sai
fortalecido da reforma. Jucá é ligado ao presidente do Senado, o
habilidoso Renan Calheiros (AL).
O senador José Sarney (PMDB-AP), que tinha a expectativa de
nomear a filha, a senadora Roseana (PFL-MA), para um ministério, ouviu ontem de Lula que será
atendido no futuro. Ontem, na
reunião com a cúpula da ala governista e dois petistas, Lula chamou Sarney e Renan num canto
de seu gabinete para dizer que resolveria esse problema. Sarney
aceitou a promessa.
Até ontem, ela estava cotada para a pasta da Coordenação Política, na qual foi mantido o ministro
Aldo Rebelo, deputado federal do
PC do B bombardeado pelo PT
nos últimos meses.
Nas conversas de ontem, Lula
disse que o tema reforma ministerial "acabou". No entanto, ministros e auxiliares dele disseram à
Folha que, mais à frente, quando
houver menos pressão dos políticos, ele poderá fazer mudanças
pontuais, como nomear Roseana.
Não há prazo, porém, para essas
eventuais alterações.
Recado em nota
O ultimato de Severino, que cobrava a nomeação de um ministro do PP para evitar aliança do
partido com a oposição, serviu de
pretexto, mas não apenas isso.
Lula ficou mesmo irritado com o
ultimato. Avaliou que, se fizesse
uma reforma mais ampla, perderia autoridade e pagaria um preço
político alto, desmoralizando-se
perante aliados. O próprio Lula
avalia que demorou a decidir e
complicou tudo.
A contrariedade presidencial ficou evidente na abertura da nota
oficial que comunicava as trocas.
O documento fez questão de dizer
que, "conforme estabelece a
Constituição, é de competência
privativa do presidente da República a nomeação de ministros" e
que Lula "decidiu encerrar as
conversações em torno da reforma ministerial".
Não apenas o PP mas o PMDB,
que relutava em tirar Eunício Oliveira (CE) das Comunicações, e o
PT, que buscava derrubar Aldo e
manter seus ministros, pressionavam Lula. Por isso ele usou o ultimato de Severino para reagir. A
avaliação de Lula e Dirceu é que é
mais provável conseguir a adesão
do PMDB à reeleição do que a do
PP, partido que tem mais divergências com o PT nos Estados. Ou
seja, dificilmente o PP estará na
chapa da reeleição de Lula.
A reforma, antes pensada para
tirar petistas do governo, acabou
sem baixas no PT. O partido manteve as 19 posições entre 35 ministros e secretários com status de
ministro. O único demitido foi
Lando, do PMDB, substituído por
outro senador. Bernardo entrou
numa vaga que já era do PT.
Os ajustes no primeiro escalão
são a continuação de mudanças
feitas no fim de 2004, quando o vice-presidente José Alencar substituiu o embaixador José Viegas na
Defesa, e Guido Mantega saiu do
Planejamento para chefiar o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Ou seja, a segunda reforma
ministerial foi, na prática, uma
microrreforma. A primeira mudança do primeiro escalão ocorreu em janeiro de 2004.
Hoje, Lula deverá realizar reunião ministerial para dizer a todos
os ministros que está encerrado o
assunto sobre mudanças no primeiro escalão e que todos, inclusive aqueles que foram avisados de
que sairiam e ficaram, como o petista Humberto Costa (Saúde),
devem trabalhar normalmente.
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