São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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Presidenciável, Ciro já não é unanimidade dentro de seu partido

Presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos avalia a possibilidade de integrar chapa à sucessão de Lula

Neto de Arraes, Campos carrega o sonho de ser eleito vice-presidente em 2010 em chapa com José Serra, Aécio Neves ou até Dilma Rousseff

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Reza a sabedoria popular que o perigo às vezes surge de onde menos se espera. Presidenciável do campo lulista mais forte nas pesquisas sobre a sucessão de 2010, o deputado federal Ciro Gomes (CE) corre risco de sofrer uma decepção dentro de seu próprio partido, o PSB.
Presidente nacional do PSB, o governador Eduardo Campos (PE) alimenta o sonho de ser candidato a vice-presidente em 2010. Segundo a Folha apurou, ele cogita ser vice até de um inimigo figadal de Ciro, o governador José Serra (PSDB-SP).
Outras opções são coadjuvar uma eventual chapa presidencial encabeçada pelo governador de Minas, o tucano Aécio Neves, ou ser vice de um petista que tenha o suporte do presidente Lula. Campos controla com mão-de-ferro o PSB, partido que herdou do avô, Miguel Arraes, que morreu em 2005.
Ciro já admitiu à Folha ser vice de um petista e fez gestos de aproximação com Aécio. Se o destino do PSB em 2010 for coajduvar um candidato a presidente, Campos avalia que ele, e não Ciro, poderia ser o companheiro de chapa.
Em 2006, quando Lula flertou com a idéia de trocar o candidato a vice -José Alencar (PRB) já estava doente-, Campos atuou nos bastidores para tentar obter a vaga. Chegou a jogar contra a possibilidade de Ciro assumir o posto, hipótese aventada, que morreu quando Lula confirmou Alencar.
Em retaliação, Campos manobrou para que o PSB não integrasse formalmente a aliança para reeleger Lula. Quis deixar aberta uma porta para entendimento com o tucano Geraldo Alckmin, derrotado em 2006.
Em conversas reservadas, Campos já disse que o PSB poderia indicar o vice do PSDB, seja o postulante Serra ou Aécio. A ponte com Serra foi pavimentada pelo deputado e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP). Os palmeirenses Serra e Aldo são amigos.
No início de março, na festa de 30 anos de vida pública de Aldo, Campos e Serra se encontraram. Duas semanas depois, a convite de Campos, Serra foi a Pernambuco assistir à encenação da "Paixão de Cristo".
Serra fez um giro recente pelo Nordeste que incluiu até encontro com Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro e governador do Ceará. Com cerca de 30% de intenção de voto na região, Serra quer dar atenção ao Nordeste para se vacinar contra a crítica de que seria um político mais preocupado com São Paulo do que o Brasil. Aécio prega que seria hora de São Paulo não eleger o próximo presidente.
Mais: Campos e Aldo se queixam do PT. Dizem que os petistas tratam com desdém os aliados históricos. Exemplo: apoiado por Campos e Ciro, Aldo foi derrotado pelo PT quando tentou se reeleger presidente da Câmara em 2007. Aldo convenceu Campos de que seus partidos não devem descartar a possibilidade de aliança com Serra, um político com trajetória de esquerda. O principal obstáculo a esse entendimento é justamente Ciro, que tem cerca de 20% nas pesquisas.
Mas Campos e Aldo avaliam que, se um petista alcançar taxa semelhante nas pesquisas, Lula poderá desconsiderar a hipótese de apoiar Ciro.
Outras opções de futuro político para Campos estão ligadas ao destino do PT e de Lula. Se o presidente estiver forte para bancar a eventual candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff, Campos seria alternativa de vice. O flerte com a oposição ajuda Campos a assustar o PT caso queira tentar a reeleição ao governo de Pernambuco em 2010. Petistas planejam lançar o prefeito de Recife, João Paulo, ao governo.


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