São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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ANÁLISE

Chuchu sobe a serra

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL

A não ser na hipótese, hoje remota, de uma reversão total de expectativas que leve José Serra a desistir da disputa presidencial, o candidato do PSDB ao governo paulista em 2010 só por muita teimosia poderá deixar de ser Geraldo Alckmin.
Entre os tucanos, como se sabe, tudo é possível, mas o resultado do Datafolha em São Paulo, divulgado ontem, joga um balde de água gelada sobre as pretensões do secretário da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira. Menos pelos índices inexpressivos que alcança -é provável que não esperasse mais do que seus 2% ou 3%- e muito mais pelo resultado do ex-governador -acima de 40 pontos em qualquer cenário, chegando a 46% num deles.
Há aí, parece óbvio, muito mais do que o simples recall do candidato que foi derrotado no primeiro turno das eleições municipais do ano passado.
Votos na largada não bastam, é verdade, e o próprio Alckmin hoje deve saber algo a respeito do poder da máquina (Serra-Kassab) sobre o voluntarismo.
Aloysio pode ser agora o homem da engrenagem tucana, aquele que costura sua indicação por dentro, entre partidos da base e prefeitos do interior. Mas é um erro supor que vá desfrutar das mesmas chances e condições que viabilizaram a reeleição de Kassab. Não vai.
Tucanos de peso acham que Serra já abusou o bastante do eleitorado paulista. Largou a prefeitura no meio do caminho depois de prometer não fazê-lo. Foi eleito governador. No cargo, deixou Alckmin arder na fogueira e apostou no afilhado azarão. Venceu de novo. Já chega -pedem os mais escaldados.
Alckmin segue um estranho no ninho serrista, mas foi resgatado do limbo pelo próprio governador, que o fez secretário para neutralizar a aproximação com Aécio. No governo, qual seria agora o discurso para demovê-lo da candidatura?
Mas e o PT? E os demais nomes? Maluf e Paulinho precisam da imunidade parlamentar como do ar. Devem disputar a Câmara, a exemplo de Erundina e Soninha. Já a aventura do empresário Paulo Skaf é vista como um eventual segundo palanque para Dilma Rousseff no Estado, não mais do que isso.
Esse, de resto, parece ser o destino do candidato do PT em São Paulo, qualquer que seja ele: servir de linha auxiliar para a disputa presidencial, alavancar Dilma em ambiente hostil.
Contra Alckmin, Marta chega a 13%, Palocci tem 3% e Fernando Haddad, 1% -o PT reúne nomes queimados na praça e nomes que mal pontuam, ou ambas as coisas. Soma-se a isso o isolamento político do partido no Estado, estrangulado pela hegemonia demo-tucana. O terreno está mais do que propício para o chuchu subir a serra.


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