São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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Debate do PMDB opõe radicais e pragmáticos

Partido não se entende em discussão sobre programa de governo que o credencie a ser cogestor de eventual gestão Dilma

Legenda decidiu redigir um documento para se livrar da pecha de fisiologismo e servir de contraponto ao programa aprovado pelo PT


MARCIO AITH
DA REPORTAGEM

Decidido a apresentar um programa que o credencie a ser cogestor de um eventual governo de Dilma Rousseff (PT), o PMDB não sabe ao certo como produzir tal documento e muito menos o que colocar nele.
Na primeira reunião para discutir o texto, realizada na última quinta-feira, em Brasília, a já conhecida federação de interesses pessoais e regionais do partido, unificada pelo pragmatismo, chocou-se com o voluntarismo de convidados especiais. No fim, ninguém falou a mesma língua.
Na abertura do encontro, o presidente do partido, Michel Temer, conclamou o PMDB a redigir um texto que "não seja de extremos" e que seja "moderado para o Brasil".
Temer também disse que seus colegas de partido devem fazer um esforço para não "aderir" ao governo, mas influir em seus rumos.
A linha foi similar à do ministro da Defesa, Nelson Jobim, segundo o qual o programa deve ter "grandes linhas", e não se perder em detalhes.

Neopeemedebista
A introdução moderada de Temer e a observação panorâmica de Jobim não resistiram ao crivo do neopeemedebista Mangabeira Unger, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Mangabeira disse que moderação não deve significar "falta de personalidade", e que o momento requer ousadia. Para ele, o programa do PMDB precisa "surpreender a nação", e não alinhavar "platitudes".
Ligado na origem ao ex-governador Leonel Brizola, Mangabeira escreveu com Ciro Gomes (PSB), em 1996, o livro "O Próximo Passo", sobre os rumos do país.
A falta de sintonia prosseguiu no campo econômico. Incomodados com o protagonismo que Henrique Meirelles desejava ter nesse capítulo, Jobim e Mangabeira se esforçaram para diluir a influência do presidente do BC, visto por ambos como "conservador".
Meirelles pretendia coordenar um subgrupo de discussões econômicas, mas Jobim barrou a criação de grupos temáticos ao propor que, por escrito, todos opinem sobre tudo.
A proposta de Jobim foi aceita. Ao final, caberá ao deputado Eliseu Padilha (RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, compilar todas as propostas num só texto.
A solução agradou Mangabeira, para quem o programa do PMDB deve afastar-se da política monetária do BC para "ir além" do atual governo.
Neopeemedebista, assim como Mangabeira, Meirelles é visto pelo Planalto como um vice ideal na chapa de Dilma.

Pecha
O próximo encontro para discutir o programa do PMDB ocorrerá no dia 15 de abril.
Maior partido do país, a sigla decidiu redigir um documento para livrar-se da pecha de legenda fisiológica e servir de contraponto moderado ao programa aprovado pelo PT em um congresso recente.
Ele será entregue à pré-candidata Dilma. A ideia é divulgar esse programa em um grande evento que celebrará a aliança entre os dois partidos.


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