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CELSO PINTO
Bancos vivem de títulos públicos
Os bancos privados, especialmente os estrangeiros, tiveram
muito mais receita, ano passado,
aplicando em títulos, basicamente do governo, do que concedendo
empréstimos. Voltou-se à situação que existia na época de hiperinflação e que havia sido revertida nos primeiros anos do Plano
Real.
De forma geral, o sistema financeiro avançou no processo de consolidação em 98. Houve menos
quebras, mas o sistema ficou menor e com maior presença estrangeira.
Todas essas são conclusões possíveis a partir de um interessante
trabalho feito pela Associação
Nacional das Instituições de Mercado Aberto (Andima), que será
divulgado nesta semana.
É impressionante o aumento
das aplicações em títulos no total
das receitas. Os bancos estrangeiros foram os primeiros a avançar
nessa direção. Em 94, as operações de crédito somavam 11,9%
das suas receitas, e os títulos, apenas 3,9%.
Já no quarto trimestre de 97, os
títulos, com 35% do total, tinham
um papel maior do que os empréstimos, com 21%. No ano passado,
a tendência se agravou: no terceiro trimestre, os títulos representavam 43% da receita, enquanto os
empréstimos eram apenas 17%.
Em outras palavras, quase metade da receita dos bancos estrangeiros passou a vir da aplicações
em títulos, basicamente do governo, mais do que o dobro da receita
vinda de empréstimos produtivos.
No caso dos bancos privados nacionais, as receitas com títulos superaram as com empréstimos no
primeiro trimestre do ano passado. No terceiro trimestre, os títulos eram 25% do total, e os empréstimos, 24%.
Também nos bancos oficiais aumentou a participação da receita
com títulos, mas os empréstimos,
no terceiro trimestre de 98, ainda
eram 33% do total, acima da receita com títulos (20%). Em compensação, a inadimplência nos
bancos públicos saltou de 7,4%,
em 97, para 10,5%, em 98, enquanto nos privados pulou de
4,6% para 5,3%.
A razão óbvia da transformação
dos bancos em rentistas de títulos
públicos foi a política que se seguiu à crise asiática de 97. Para
tentar defender a moeda, os juros
foram para a Lua, enquanto a
economia entrava em recessão.
Assim, como os bancos foram os
grandes beneficiários da valorização inicial do real, em 94, tomando em dólares e aplicando em
reais, também foram os maiores
beneficiários da política (mal sucedida) de defesa do real em 97 e
em 98, graças aos juros altíssimos.
O número de liquidações de instituições financeiras caiu de 34
em 97 para 10 em 98. Em compensação, o número de reestruturações por mudança no controle subiu de 13 para 35, das quais um
terço por controle estrangeiro.
A consolidação do sistema, portanto, continuou, mas de outra
forma. Sumiram 14 bancos em 98
(o total caiu de 245 para 231) e 140
agências (de 16.443 para 16.273).
Desapareceram 37 corretoras e
distribuidoras (sobraram 435).
Em 94, dos 245 bancos, 37 eram
estrangeiros, ou 15%. Em outubro
de 98, do total de 202 bancos, 55
eram estrangeiros, ou 27% do total. Enquanto o número de bancos públicos caiu 25%, e de privados nacionais, 30%, o de estrangeiros subiu 48%.
O número de empregados no setor, nesse período, caiu de 104,7
mil para 523,7 mil. A queda foi de
20% nos bancos públicos e de 32%
nos privados nacionais. Nos estrangeiros, aumentou de 17 mil
para 66 mil, mais 284%.
Os bancos públicos continuaram sendo os com maior número
de empregados (279 mil comparados a 243 mil nos privados) e com
piores indicadores relativos. Enquanto o número de empregados
por agências caiu 16% nos privados nacionais e 20% nos estrangeiros, subiu 4% nos bancos públicos, de 94 a 98.
Despesas com pessoal explicavam 87% das despesas administrativas dos bancos públicos em
98. Nos bancos privados nacionais, a proporção era de 53% e
nos estrangeiros de 60%.
A receita por prestação de serviços, via aumento de tarifas, subiu
muito: nos bancos privados nacionais, de 2,6% do total em 94
para 5,8% em 98; nos estrangeiros, de 0,7% para 4,2%; e, nos públicos, de 2,2% para 8,5%. Nos
bancos públicos, contudo, ainda
assim essas receitas cobriam apenas 45% das despesas com pessoal
em 98, enquanto nos privados nacionais cobriam 78% e nos estrangeiros 66%.
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