São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Ex-presidente diz que caso Waldomiro minou a aura do PT e critica governo Lula por impedir CPI

Para FHC, "estão querendo esconder algo"

DA REDAÇÃO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) disse que o caso Waldomiro Diniz minou "aura do PT" e que a reação anti-CPI do governo Luiz Inácio Lula da Silva "passou a sensação de que queria esconder algo".
Afirmou também que "não cogita" a hipótese de disputar um novo mandato, mas se contradisse ao admitir que poderia concorrer se o país enfrentasse uma "situação muito complicada" e não houvesse "outro" nome.
As declarações foram dadas em entrevista ao programa "Show Business", que vai ao ar no próximo domingo, às 22h, pela Rede TV!. O programa é comandado pelo empresário João Doria Jr., o mesmo que reuniu na semana passada empresários e políticos, entre os quais FHC, num luxuoso evento na ilha de Comandatuba (BA). Para comparecer e falar aos empresários em palestra, o ex-presidente cobrou US$ 50 mil.
Na entrevista, FHC diz que no seu governo foram realizadas várias CPIs, cita os casos, e dispara: "O caso Waldomiro minou a aura de que o PT não tem mácula. O que minou foi a sensação que passou de que estão querendo esconder algo. Não quiseram a CPI".
E continua: "O que ficou mal foi a idéia de que não pode chamar um ministro ao Senado [...]. Não deixaram investigar. Os mais responsáveis não foram ouvidos". E completa: "Cadê a democracia?"
Assim como o governo Lula impediu a abertura de CPI para investigar Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) flagrado em gravação de 2002 pedindo propina, o governo FHC também não permitiu a abertura de investigações. Exemplo: a CPI da compra de votos, em 97, proposta para investigar denúncias de que parlamentares receberam dinheiro para aprovar a emenda da reeleição.

Terceiro mandato
Na entrevista, FHC diz que não seria "normal" um terceiro mandato. "Não acho que seja o caso. Não pense que estou fugindo dessa idéia. Por que não estou dizendo não ou sim? Porque acho que em política nessas questões você é pego pelo pé depois. Não posso dizer que vá acontecer algo que me leve a aceitar [a candidatura]. Não acho que seria bom nem para mim nem para o país porque, para eu aceitar, é porque está muito complicada a situação e não tem outro [candidato]. Não quero a crise para o Brasil", disse.
FHC diz, porém, não acreditar que vá surgir situações que o levem a refletir se deve ou não aceitar entrar na disputa. "Acho que não é normal que eu vá de novo me candidatar. Não é normal um terceiro mandato. É boa a renovação. Não acho que faça parte do processo democrático repetir sempre os mesmos", diz.
Fez alguns elogios a Lula. Disse que mantém boa relação pessoal com ele e que uma característica positiva da gestão é "o sentido de responsabilidade na gerência" da economia. "O problema não é do setor financeiro nem do Ministério da Fazenda. É o conjunto do governo que gera sinais desencontradas e desconfiança." E ironizou: "o lado positivo foi consolidar o que estava vindo".
Ainda sobre a gestão do PT, diz não entender o porquê de a base aliada ser "tão grande", usando como contraponto as suas alianças na Presidência. "Fiz [aliança grande]. Mas por quê? Queria mudar a Constituição. Mudei mais de 20 vezes. Foi um processo difícil." FHC diz que Lula não precisa de tantos aliados, "que custam caro", pois a oposição vota com ele quando necessário.


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