São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2004

Prefeita culpa ex-presidente por crise econômica de 2002 e afirma que houve boicote de bancos oficiais a SP

A embaixadores europeus, Marta ataca FHC

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para uma platéia formada por embaixadores de países europeus no Brasil, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, fez na tarde de ontem duras críticas ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Marta, vice-presidente nacional licenciada do PT e candidata à reeleição em outubro na capital paulista, jogou sobre FHC a culpa pela crise econômica pré-eleitoral de 2002 e disse que houve "boicote" à cidade de São Paulo nos empréstimos dos bancos estatais.
A prefeita começou suas críticas falando sobre o período pré-eleitoral. "Diferentemente do que se falou na imprensa, que a economia andava mal porque existia o medo do que faria o governo Lula, (...) existia uma conseqüência da política econômica de oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, com endividamento gigantesco do país, ameaça inflacionária muito grande, desemprego sério e o país podendo chegar a uma situação tipo a da Argentina", disse Marta, na abertura de encontro de embaixadores da União Européia no Brasil.
Segundo ela, Lula herdou essa situação e, ao ser eleito, anunciou uma política econômica de restauração da credibilidade. "E, se pudéssemos [dizer], até um choque de capitalismo, porque este país precisa de investimentos", completou a petista.

Covas e o capitalismo
O termo "choque de capitalismo" é associado ao ex-governador Mário Covas, que, em 28 de junho de 1989, escolhido como o candidato tucano à Presidência, discursou: "Basta de tanto subsídio, de tantos privilégios sem utilidade comprovada. O Brasil não precisa apenas de um choque fiscal. Precisa também de um choque de capitalismo, um choque de livre iniciativa, sujeita a riscos e não apenas a prêmios".
Marta seguiu seus ataques dizendo que a cidade "viveu um bloqueio de transferência de qualquer coisa durante o governo do PSDB". "O empréstimo do BNDES para transporte em São Paulo não saiu enquanto o PSDB esteve no poder. Agora, somos tratadas como todas as cidades."

Imprecisão
Logo em seguida, Marta Suplicy desfilou elogios ao governo federal e uma série de realizações políticas e econômicas da gestão Lula -sendo que algumas são, no mínimo, imprecisas.
Ao citar a recente redução da taxa básica de juros para 16%, disse: "Temos que ser realistas e pensar que foi a taxa mais baixa que o país viveu nos últimos sete anos". Em janeiro de 2001, ainda na gestão FHC, a taxa chegou a 15,25%.
Em outro momento, a prefeita afirmou que o início do governo Lula "foi extremamente bem sucedido", citando "a conquista de duas reformas muito importantes, a tributária e a da Previdência, que foram perseguidas oito anos pelo outro governo sem sucesso".
A reforma da Previdência foi aprovada, mas alguns itens seguem sem regulamentação. Já a tributária provoca polêmica no Congresso, pois pontos centrais do texto foram modificados no Senado e não há consenso entre os partidos políticos.
Segundo o embaixador irlandês Martin Greene, anfitrião do evento, Marta comentou durante o almoço fechado que a mídia é mais dura com o atual governo federal do que com o anterior.
Depois do evento, questionada pela Folha sobre suas críticas ao governo do ex-presidente, Marta preferiu não responder.
Contactada na tarde de ontem, a assessoria de imprensa do ex-presidente não respondeu até o início da noite. A secretária do Instituto Fernando Henrique Cardoso disse que ele está nos EUA.


Texto Anterior: Mídia: Jô Soares adia entrevista com Lula
Próximo Texto: Eleições 2004: Alckmin elogia Saulo e contraria tucanos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.