|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
Lula é o astronauta do blablablá
"N osso guia" confessou
que "teria coragem de ir
numa nave espacial". Não disse
para onde, mas uns bons milhões
de brasileiros fariam fila para
custear a viagem. Na noite anterior, Lula entrara em órbita, em
Porto Alegre, ao revelar que "o
Brasil não está longe de atingir a
perfeição no tratamento de saúde". Com as mordomias que usufrui, tem médico no serviço e hospitais prontos para atendê-lo.
Consertou a parte interna do nariz e tem direito a botox-delivery.
A megalomania presidencial é
um delírio de ignorância embebida em leviandade. Pode-se confrontar Lula com inúmeros cenários vividos pela turma que precisa dos serviços de medicina pública. O sucateamento do hospital
federal Gaffrée e Guinle, no Rio,
está provocando a morte de pacientes soropositivos. A greve de
dois meses da Agencia de Vigilância Sanitária compromete a entrega de medicamentos e hemoderivados importados.
Mesmo assim, talvez seja melhor lembrar o que "nosso guia"
disse a respeito do "tratamento de
saúde" à jornalista Denise Paraná, autora do memorável livro
"Lula, Filho do Brasil". Ele contou a morte de sua primeira mulher, em 1971:
"A Lurdes tinha ficado grávida
e, no sétimo mês de gravidez, ela
pegou hepatite. Ninguém me tira
da cabeça que ela morreu por negligência da rede hospitalar do
Brasil, por problema de relaxamento médico. (...) Hoje eu tenho
consciência do que um desgraçado de um pobre passa nos hospitais, passa para ser atendido, para ter uma consulta. (...) Tudo isso
depende da classe: quem tem dinheiro pode tudo, quem não tem
dinheiro não pode nada, não tem
direitos estabelecidos. Como morreu a Lurdes, morrem milhões de
pessoas por aí neste país sem ter o
menor atendimento médico".
Lula disse isso em 1993, e o livro
foi publicado em 2002. Ou não sabe do que fala hoje, ou serviu-se
de um drama pessoal para fazer
demagogia. A primeira hipótese
parece ser a mais provável, mesmo sendo a mais triste para um
país de 170 milhões de habitantes
governados por um astronauta
do blablablá.
"Nosso guia" alterna grandiosidades pessoais com lamúrias contra o caráter do Brasil, país habitado por um povo que bem ou
mal o tratou bem. Dois exemplos,
ambos da semana passada:
"É sempre assim que funcionam
as coisas no Brasil. Estamos sempre nivelando por baixo, estamos
sempre apostando na desgraça,
estamos sempre apostando na
miséria". "No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz."
Se "nosso guia" não se sente
bem no Brasil, o próximo avião
para o Cazaquistão decola de Paris às 12h do próximo dia 4. A passagem (só de ida) custa US$ 580.
Eremildo é um leitor de Mantega
Eremildo é um idiota, mas ofereceu seus serviços às quitandas
de consultoria. Considera-se habilitado a prever decisões macroeconômicas do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O professor é
um velho conhecido do idiota,
que tem na sua estante um volume de "Sexo & Poder", livro organizado por Mantega e editado em
1979. Por cretino, Eremildo lastimou a ausência da obra no currículo oficial do ministro. Afinal,
ela está no acervo das universidades de Yale e da Califórnia. O professor tinha 30 anos quando escreveu o seguinte, comentando as
idéias de outros pensadores:
"Nos primórdios do capitalismo, a moral repressiva deveria facilitar a formação de novos contingentes de trabalhadores, e, assim, o sexo "normal" era aquele
restrito à procriação e que não
desperdiçasse o tempo e as energias que os trabalhadores tinham
de guardar para o seu trabalho
na fábricas".
"O prazer mecanizado da sociedade de consumo (com bonecas
de plástico, vibradores a pilha e
outros engenhos) ilustra bem a
solidão e alienação da sexualidade contemporânea."
"Tem-se a noção de que o trabalho pode tornar-se uma fonte
de prazer tão gratificante quanto
uma relação sexual." Eremildo
acredita que será convidado para
uma tarde na Casa das Garças.
Bruxaria
Sonho de uma noite de frio,
numa conversa entre um petista e um tucano: Lula e Anthony Garotinho vão para o
segundo turno. Baixa um espírito de Romano Prodi na
política brasileira e o PT e o
PSDB aliam-se para governar
juntos.
Boa notícia
É provável que o professor
Cesar Benjamin venha a ser
convidado para disputar a vice-presidência da República
na chapa da senadora Heloísa Helena, do PSOL. Benjamin ajudou a fundar o PT e
soube abandoná-lo com o
bolsos e o cérebro intactos.
Desde 1995 ele foi uma das
vozes mais duras e precisas
na denúncia do que viria a ser
a quadrilha-companheira.
Aqui vai uma de suas rajadas
recentes:
"Lula sempre compartilhou
da intimidade do grupo e foi
o principal beneficiário de
suas ações. Garante, porém,
que nada sabia. Respeito
quem acredita nisso, assim
como respeito quem acredita
em duendes".
°°°Benjamin é um militante
político que escreve livros
com idéias claras e texto elegante. Seus dois últimos trabalhos são "Bom Combate" e
"Contraponto".
Franco-filmadores
Como surgiram grupos de
simpatizantes e antipatizantes do governo que usam
eventos oficiais para trocar
insultos e até bofetadas, seria
bom que essa degradação
fosse congelada na infância.
A polícia e os próprios partidos podem formar núcleos
de franco-filmadores. Se os
desordeiros souberem que
estão sendo filmados e que isso lhes valerá um processo,
perderão uma parte do ardor. Ademais, os locadores
de milicianos perceberão que
têm muito a perder.
Pizza aérea
Turbulência na Infraero.
Há dois anos a empresa
comprou um programa de
computador para administrar a publicidade de seus
painéis eletrônicos. Custou
R$ 30 milhões e foi contratado sem licitação, para
contrariedade da Procuradoria Jurídica e dos órgãos
de controle da estatal.
°°°A nota fiscal do primeiro
pagamento à empresa FS3,
de São Paulo, tinha o número 001. Passou o tempo,
a Infraero não tirou proveito do programa, mas ganhou encrencas com o Ministério Público, o Tribunal
de Contas e a Controladoria da República.
°°°Como isso pareceu pouco, a empresa começou a
discutir um novo contrato,
ao preço de R$ 25 milhões.
Ela garante que desta vez
tudo funcionará direito.
O Livro do Guia
O relatório completo da
CPI dos Correios está a
venda em bancas de jornais
de São Paulo. Tem 768 páginas, jeitão de catalogo telefônico e custa R$ 29,90.
Pena que não tenha qualquer índice.
Pouco asfalto
Apesar da propaganda, vão
mal as estradas nacionais.
Em 2005, a produção de asfalto caiu para 4,5 milhões
de toneladas, menos de
metade do nível de 2002.
°°°Em janeiro produziram-se 107 mil toneladas, equivalentes a 25% do resultado
do mesmo mês em 2005.
°°°Antes que a oposição peça uma CPI, vale lembrar
que o Brasil tem uma malha pavimentada de cerca
de 200 mil quilômetros. O
governo federal cuida de 58
mil quilômetros. Os Estados ficam com 115 mil e os
municípios com 23 mil.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Seca: Falta de água atinge expulsos por usina Índice
|