|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SECA
Retirados das margens do Jequtinhonha para construção de hidrelétrica, lavradores sofrem com perda de safra
Falta de água atinge expulsos por usina
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
O início da operação da usina
hidrelétrica de Irapé, no Vale do
Jequitinhonha (MG), não pôs fim
aos problemas dos ribeirinhos
deslocados pela obra.
Nascidos e criados às margens
do Jequitinhonha e de seus
afluentes -áreas úmidas e naturalmente férteis-, esses lavradores enfrentam hoje dificuldades
no abastecimento de água e perdas de safra. Promessa de salvação econômica para uma das regiões mais pobres do país, a usina
de Irapé consumiu US$ 1 bilhão e
deverá gerar 360 MW, energia para 1 milhão de pessoas. A barragem da usina, com 208 metros de
altura, é a mais alta do Brasil.
Em dezembro, a Justiça Federal
embargou as obras de Irapé, três
dias depois do início do enchimento do lago da usina. Atendeu
pedido do Ministério Público Federal, que alegou descumprimento, pela Cemig (estatal mineira de
energia), do termo firmado em
2002 para reconstituição dos direitos das 1.151 famílias atingidas.
A Cemig, que já havia depositado R$ 4,9 milhões em juízo como
garantia aos reassentados, alegou
não ter como parar o enchimento
do lago. A Justiça Federal revogou
a liminar e as águas já subiram 122
metros na barragem -cota ainda
insuficiente para geração.
Transferidos para terras mais
altas, os expulsos pela usina de
Irapé sofrem com a falta de água,
agora bombeada de córregos distantes ou poços profundos. "A
água é o problema maior de todos
os reassentamentos", disse Maria
de Lourdes Souza, 40, da comunidade de quilombo de Porto Coris.
Segundo Souza, a água é retirada de um córrego "sujo", por duas
bombas que "dão problema todo
dia". Ela afirmou que a comunidade perdeu as duas últimas safras -uma porque a Cemig demorou a preparar as terras e a última por causa da seca.
A Folha ouviu quatro representantes de associações de reassentados (são 28 ao todo), e todos relataram problemas de falta de
água. Otarcísio Machado, 54, da
associação Mandassainha e Ventania, disse que o poço da comunidade secou e os carros-pipa pararam de chegar. "Estamos guardando água das goteiras."
Das 1.151 famílias atingidas em
sete municípios, 638 optaram pelo reassentamento. Nas novas
áreas, maiores, experimentam
um outro tipo de agricultura, com
uso de fertilizantes e longe dos padrões de lavoura familiar.
A Cemig afirmou que há problemas de abastecimento de água
em alguns reassentamentos de
Irapé, mas que eles estão sendo
sanados. Negou que haja casos de
contaminação de água.
Texto Anterior: Elio Gaspari: Lula é o astronauta do blablablá Próximo Texto: Campo minado: MST entrega arma que estava sumida em Recife Índice
|