São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2007

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Operação Têmis só foi autorizada na véspera

DA REPORTAGEM LOCAL

O MPF (Ministério Público Federal) e os agentes da Polícia Federal envolvidos no planejamento da operação Têmis, que contavam com dias de antecedência para colocá-la em prática, ficaram frustrados com o longo intervalo entre o pedido de mandado para a busca e apreensão e a autorização, pelo ministro-relator Felix Fischer.
A portaria autorizando as buscas foi expedida às 16h da quinta-feira, dia 19, véspera da Têmis. Uma operação de busca e apreensão do porte da Têmis ou da Hurricane (furacão), no Rio, realizada em 13 de abril, exige uma antecedência de três a quatro dias para organizar a logística, convocar agentes da PF de outros Estados, escalar procuradores da República que acompanhariam cada equipe.
A Operação Têmis foi montada prevendo-se que haveria prisões. A PF escalou, inclusive, superintendentes de alguns Estados, uma vez que seriam detidos juízes e desembargadores. Foi na véspera que o MPF e a PF souberam que Fischer não havia autorizado as prisões.

Pedidos reiterados
Instaurado pelo Superior Tribunal de Justiça em 15 de dezembro de 2006, o inquérito 547, que suscitou a Operação Têmis, tramitou normalmente nos primeiros meses. Em determinado momento, o relator autorizou o MPF a compartilhar o acervo de provas com o fisco, o que permitiu um trabalho integrado entre os órgãos. A PF formalizou o pedido de busca e apreensão e de prisão para todas as 43 pessoas envolvidas na suposta quadrilha. A expectativa era a de uma grande operação policial a ser realizada antes da Semana Santa.
Quando foi identificado o vazamento de informações relacionadas à investigação, em março, o MPF e a PF reforçaram os pedidos ao ministro Felix Fischer -em caráter de urgência- para que fosse marcada a data da operação Têmis, com a prisão dos suspeitos, e para que fossem expedidos os mandados.
Depois da Operação Hurricane, a PF reiterou o pedido de expedição de mandado de busca e apreensão, agora ampliando os endereços a serem cobertos pela operação.

Vazamento
Diálogos interceptados pela Polícia Federal revelaram que o empresário Sidney Ribeiro -que atuava como lobista e intermediário na suposta quadrilha- contratara os policiais civis Celsio Pereira de Almeida (vulgo "Xuxinha") e José Luiz Costa Álvares para rastrear os telefones usados pelo grupo.
O objetivo era verificar se havia algum "grampo". Um funcionário da Telefônica confirmou que os telefones indicados estavam sendo monitorados.
Os membros da suposta quadrilha foram alertados. Mas persistiu a dúvida entre os parceiros no esquema: saber se havia uma interceptação autorizada pela Justiça, ou um "grampo" de outra origem.
Quando eclodiu a Operação Hurricane as conversas monitoradas entre membros do grupo sob investigação passaram a ser ainda mais cautelosas.
Funcionários da Justiça Federal revelaram ao MPF que, dois dias antes da deflagração da Têmis, alguns funcionários retiraram caixas com documentos dos gabinetes dos juízes Djalma Moreira Gomes, da 25ª Vara Cível, e Maria Cristina Barongeno Cukierkorn, da 23ª Vara Cível.
Os dois policiais, "Xuxinha" e Costa Álvares, também foram alvo da busca e apreensão realizada no dia 20. Foi instaurada uma sindicância interna para apurar a responsabilidade pelo vazamento na empresa de telefonia. Um funcionário foi afastado. (FV)


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