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Sobrevivente do Araguaia vai orientar buscas
Abandonado pelo PC do B na selva, João Carlos Campos Wisnesky aceitou voltar à região para ajudar na localização de ossadas
Radicado no Rio Grande do Norte, médico viaja hoje para Marabá, no Pará, para apontar lugares onde a guerrilha se estabeleceu
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A GROSSOS (RN)
Um dos poucos a sobreviver
aos combates no Araguaia nos
anos 70, o ex-guerrilheiro João
Carlos Campos Wisnesky, 66,
aceitou voltar à região quase 37
anos após a fuga para mostrar
ao grupo de buscas do Ministério da Defesa locais onde podem estar ossadas de cerca de
60 colegas desaparecidos.
Indisposto com a comissão
militar da guerrilha, Wisnesky
voltou ao Rio ao ser abandonado na selva. Ao se ver só após
esperar três dias por companheiros, largou a guerrilha.
Foi a sua sorte. Nos meses seguintes, os militares dizimaram os três destacamentos
montados pelo clandestino PC
do B no Araguaia (sudeste do
Pará, sul do Maranhão e norte
de Tocantins). Só outros dois
comunistas conseguiram escapar. Os demais constam da lista
oficial de desaparecidos.
Neste ano, levado por integrantes do GTT (Grupo de Trabalho Tocantins), Wisnesky esteve em Brasília para falar sobre como poderia ajudar. O
GTT foi formado em 2009 pelo
Ministério da Defesa em obediência à sentença da juíza federal Solange Salgado, que em
2003 mandou o governo devolver as ossadas às famílias.
A pesquisadora Myrian Alves
mostrou a ele fotos de corpos.
Ele reconheceu o ex-deputado
Maurício Grabois, o Mário, que
liderava a guerrilha e foi morto
em 1973. "Era o Mário, não tenho dúvidas. Ele ficou muito
tempo no [destacamento] A."
Radicado no Rio Grande do
Norte, o médico Wisnesky
(chamado de Paulo na guerrilha) viaja para Marabá (PA) hoje. Percorrerá lugares em que a
guerrilha se estabeleceu.
Wisnesky é hoje um crítico
da organização do movimento.
Diz que, na floresta, foi posto
"na geladeira" por contestar ordens absurdas, como a de não
poder usar barba ou falar com
as pessoas da terra. "Quando
cheguei [em outubro de 1971]
achei tudo muito estranho. Como fazer um exército popular
se não podia se comunicar
[com a população]? Falei isso a
eles. Não me responderam."
Sua fuga começou a se esboçar quando os guerrilheiros do
A, do qual fazia parte, foram à
Transamazônica atacar um
posto policial em setembro de
1973. Paulo não foi chamado.
Com Hélio Navarro de Magalhães, o Edinho, hoje desaparecido, e três rapazes do Araguaia
que aderiram à guerrilha, foi
para outra área. "Ia de batedor.
Chegamos a uma roça. Edinho
me mandou atravessar com
cautela. Cheguei lá, mas eles,
não. Fiquei três dias parado. Ficou claro que havia sido abandonado. Decidi voltar ao Rio."
No Rio, conta ter contatado o
PC do B, mas, ao verificar que
quase todos os correligionários
foram presos ou mortos, abandonou a militância e voltou à
faculdade de medicina. Nos livros sobre a guerrilha, Wisnesky pouco é citado. Nunca o
localizaram. Em 1993, à revista
"Veja", deu declarações curtas
sobre o Araguaia.
No Relatório Arroyo, em que
o PC do B analisa a guerrilha,
Paulo é tido como desertor. O
ex-deputado Aldo Arantes, representante da sigla no GTT,
não comentou a ajuda de Wisnesky. Renato Rabelo, presidente do partido, não quis falar.
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