São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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"Desconfiança" levou à guarda dos papéis

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A jornalista e pesquisadora Anna Lúcia Brandão disse ontem que esperou os principais líderes do regime militar morrerem para devolver à Câmara as notas taquigráficas da sessão de julgamento do ex-deputado federal Márcio Moreira Alves, do dia 12 de dezembro de 1968.
"Eu não tinha confiança de entregar para qualquer pessoa. Esperei todos morrerem, o Geisel (ex-presidente Ernesto Geisel), o Médici (ex-presidente Emílio Garrastazu Médici), o Golbery (Golbery do Couto e Silva, chefe do Gabinete Civil do governo João Figueiredo)", afirmou.
A pesquisadora disse que o ex-deputado federal José Bonifácio de Andrada, presidente da Casa na época, pediu ao Arquivo da Câmara que as notas fossem entregues a ela para pesquisa.
"As do dia 13 (de dezembro de 1968), eu devolvi porque não tinha nada de importante. Essas eu guardei no meu baúzinho. Eu queria impedir que alguém sumisse com elas", afirmou.
Para ela, todas as pessoas deveriam ter acesso aos discursos da sessão do dia 12 de dezembro de 1968. "Isso é uma página importante da nossa história. Eu tinha de trazê-las antes de morrer. Os discursos são maravilhosos", afirmou a pesquisadora.

Livro
Anna Lúcia, 64, funcionária aposentada da Câmara, afirmou que pegou as notas taquigráficas daquela sessão para fazer um trabalho que pretendia inscrever num concurso sobre os 150 anos do Poder Legislativo.
"Aí um professor meu disse: "Você não vai inscrever isso num concurso. Você vai fazer um livro'", relatou Anna Lúcia. O livro foi publicado em 1984, com o título: "A Resistência Parlamentar após 1964".
A pesquisadora disse que era "muito amiga" do ex-deputado José Bonifácio de Andrada, a quem chama de "dr. Zezinho", e de seu filho, o deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), a quem chama de "Andradinha".
A Folha tentou falar com o deputado. Segundo seu gabinete, ele estava no interior de Minas Gerais, sem telefone para contato.
Anna Lúcia, que ontem estava em Brasília, afirmou que não mora na capital federal porque quer ficar "bem longe do presidente" (Fernando Henrique Cardoso).


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