São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Pré-candidato diz que EUA fazem "o que deveríamos fazer' na defesa de emprego, indústria e agricultura

Lula defende protecionismo como dos EUA

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O pré-candidato do PT a presi dente, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu ontem a política comer cial protecionista adotada pelo governo de George W. Bush nos Estados Unidos como modelo a ser adotado pelo Brasil.
"Há produtos pelos quais o Bra sil deveria brigar e não briga. O Brasil deve se comportar sabendo que tem competitividade, com vontade política para isso. Eles [os EUA" estão fazendo o que deve ríamos fazer: defendendo seu em prego, sua agricultura e sua in dústria'', disse o líder petista.
No final da tarde, após saber a repercussão das declarações do pré-candidato, seu porta-voz, An dré Singer, divulgou nota em que nega que Lula tenha defendido o protecionismo norte-americano.
"Lula cobrou do governo brasi leiro que agisse em defesa de nos sos empregos, da nossa indústria e da nossa agricultura com a mes ma agressividade usada pelos EUA em defesa dos seus", diz.
Duas decisões recentes dos Es tados Unidos prejudicam o co mércio exterior brasileiro. A pri meira, a sobretaxa às importações de aço; a segunda, a Farm Bill, ins trumento pelo qual a produção agrícola norte-americana é subsi diada. No primeiro caso, o Brasil registrou queixa na OMC (Orga nização Mundial do Comércio).
É a segunda vez em que Lula de fende o protecionismo de outros países como modelo a ser seguido pelo Brasil. No ano passado, fez o mesmo sobre os subsídios agríco las franceses (leia texto nesta pági na). O petista falava ontem a em presários em Porto Alegre.
Sobre se um presidente de es querda seria bem ou mal recebido para negociar em Washington, Lula afirmou que o Brasil pode negociar em igualdade de condi ções com outros países e usou o exemplo da China, que, segundo ele, apesar de comunista, é um parceiro preferencial dos EUA.
O petista disse que, se não fosse para ""radicalizar'' o combate à fo me e à miséria, não haveria moti vo para chegar ao poder. ""Quere mos uma ruptura desse modelo econômico para acabar com a fo me e com a miséria, para dimi nuir o desemprego, para fazer mos as reformas que têm de ser feitas. O PT vai radicalizar no combate à fome e à miséria. É pa ra isso que interessa o PT ganhar as eleições.''

Saia justa
Lula usou de diplomacia ao ter de defender o governador do Rio Grande do Sul, o petista Olívio Dutra (que estava presente), de fortes críticas feitas pelo presiden te da Federasul (Federação das Associações Empresariais do Rio Grande do Sul), Paulo Feijó.
De acordo com Feijó, no Estado, "os empresários não têm muito a agradecer ao governo petista, até porque nos encontramos à mercê de um forte ranço socialista, onde prevalece não só o desrespeito à propriedade privada, como uma aversão às atividades empresa riais lucrativas que afugentaram não só a Ford como vários micros, pequenos e médios projetos que estavam surgindo ao redor dessa grande empresa''.
Usando um tom agressivo em relação a Lula, Feijó disse ter ""me do'' do seu programa de governo e perguntou: ""Por que o presiden te Lula deseja ficar com a chave do Banco Central? Para emitir di nheiro falso, sem lastro produti vo, gerador de inflação? Qual é, enfim, o verdadeiro motivo?''.
Lula afirmou que ""não faltou es paço para negociação'' no gover no de Olívio e respondeu: ""Não mudei, sou o resultado da evolu ção da espécie humana''.



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