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DIPLOMACIA
Antecipação da reunião, inicialmente prevista para ocorrer em setembro, será oficializada hoje em Brasília
Lula e Bush se encontram em junho nos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os presidentes do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, e dos Estados
Unidos, George W. Bush, vão se
encontrar em Washington no dia
20 do mês que vem. O ministro
das Relações Exteriores, Celso
Amorim, confirmou a visita e a
data ontem, no Peru.
A iniciativa de antecipar o encontro, inicialmente previsto para
setembro, partiu da Casa Branca e
vai ser oficializada hoje, às 11h, em
Brasília, ainda de acordo com o
ministro. Amorim disse que será
uma "visita de trabalho", da qual
participam também ministros.
O convite inicial de Bush a Lula
foi feito em dezembro de 2002, em
Washington, quando os dois presidentes combinaram um "encontro de cúpula". Além do interesse comercial para a formação
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas), os EUA estão buscando "aparar arestas" e uma
aproximação estratégica.
Embora sempre duramente criticado na área comercial, o Brasil
vem sendo reconhecido pelos
americanos como uma democracia sólida na América Latina. Os
EUA consideram legítimo o esforço que o país vem demonstrando para se tornar uma liderança na região.
A iniciativa brasileira de formar
o Grupo de Amigos da Venezuela
e, mais recentemente, a aproximação de Lula com o presidente
eleito da Argentina, Néstor Kirchner, são vistas como exemplos
desse esforço.
Os americanos estão bem impressionados também com o rigor fiscal e as medidas "pró-mercado" adotadas por Lula.
Se a liderança brasileira na região é inevitável, os EUA esperam
ter no Brasil um parceiro político
-e eventualmente comercial-
para ajudar a lidar com crises como as da Venezuela e de "países-problema", como a Colômbia.
No momento, dois dos principais países da América Latina,
Chile e México, estão na "geladeira" dos EUA por não terem apoiado a guerra americana no Iraque.
Ambos integram o Conselho de
Segurança da ONU.
Embora o Brasil também tenha
se manifestado contra a guerra, os
EUA consideram que a posição
brasileira não teve nenhuma consequência prática. O Brasil também não tem com os EUA os mesmos laços que os chilenos e mexicanos, antigos parceiros comerciais dos americanos.
Outro ponto fundamental do
encontro, que deve incluir reuniões de ministros e secretários
dos dois países, é um aumento da
pressão americana para que o
Brasil aceite participar da Alca.
O recente discurso de Brasil e
Argentina pró-Mercosul foi considerado em Washington um
grande revés nos planos americanos de concluir o acordo em janeiro de 2005, prazo já tido como
praticamente irreal pelos americanos, que começaram a aprofundar a estratégia de fazer acordos
bilaterais com outros países da região. Depois do Chile, que deveria
já ter assinado um amplo acordo
não fosse o "gelo" de depois da
guerra, a Colômbia deve ser o
próximo da lista.
No caso do Brasil e da Alca, a
proposta apresentada pelos EUA
em fevereiro foi muito mal recebida. Os americanos tiraram da mesa tudo o que interessava ao Brasil, como as negociações sobre
barreiras não-tarifárias, e colocaram o país "no fim da fila" para a
redução de tarifas americanas.
É possível, porém, que os EUA
ofereçam acordos bilaterais ao
Brasil como alternativa.
Além da Alca, o governo norte-americano também tem uma
agenda extensa de problemas que
gostaria de ver resolvidos.
Há anos o Brasil é acusado pelo
Departamento de Comércio americano de adotar práticas desleais
para a importação, de ser leniente
com a pirataria e de não ter uma
Lei de Patentes que proteja a indústria dos EUA.
Atualmente, o Brasil é o 15º
maior mercado de exportações
dos americanos. O país compra
24% de todos os produtos exportados pelos Estados Unidos para a
América Latina e Caribe -com
exceção do México. No ano passado, os americanos tiveram um déficit comercial de US$ 3,4 bilhões
com o Brasil -em 2001, tiveram
superávit de US$ 1,4 bilhão.
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que
vê "com mais otimismo as negociações entre Mercosul e União
Européia do que as da Alca".
Segundo ele, as assimetrias de
poder e de interesses dentro da
Alca dificultam o avanço das negociações e a defesa dos interesses
do Brasil. O ministro lembrou que
os EUA representam cerca de
70% do PIB da região, e os 24 países menores, pouco mais de 1%.
"O interesse desses 24 países é
totalmente distinto do de um país
como o Brasil", afirmou Furlan.
Questionado se uma negociação direta entre o Mercosul e os
EUA seria uma solução, Furlan
respondeu: "Vamos ter uma noção mais concreta se esse é o caminho após a visita de Zoellick".
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) avalia que a negociação direta é uma opção.
Colaboraram a Sucursal de Brasília e PLÍNIO FRAGA, enviado especial a Cuzco
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