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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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DIPLOMACIA

Antecipação da reunião, inicialmente prevista para ocorrer em setembro, será oficializada hoje em Brasília

Lula e Bush se encontram em junho nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, George W. Bush, vão se encontrar em Washington no dia 20 do mês que vem. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou a visita e a data ontem, no Peru.
A iniciativa de antecipar o encontro, inicialmente previsto para setembro, partiu da Casa Branca e vai ser oficializada hoje, às 11h, em Brasília, ainda de acordo com o ministro. Amorim disse que será uma "visita de trabalho", da qual participam também ministros.
O convite inicial de Bush a Lula foi feito em dezembro de 2002, em Washington, quando os dois presidentes combinaram um "encontro de cúpula". Além do interesse comercial para a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), os EUA estão buscando "aparar arestas" e uma aproximação estratégica.
Embora sempre duramente criticado na área comercial, o Brasil vem sendo reconhecido pelos americanos como uma democracia sólida na América Latina. Os EUA consideram legítimo o esforço que o país vem demonstrando para se tornar uma liderança na região.
A iniciativa brasileira de formar o Grupo de Amigos da Venezuela e, mais recentemente, a aproximação de Lula com o presidente eleito da Argentina, Néstor Kirchner, são vistas como exemplos desse esforço.
Os americanos estão bem impressionados também com o rigor fiscal e as medidas "pró-mercado" adotadas por Lula.
Se a liderança brasileira na região é inevitável, os EUA esperam ter no Brasil um parceiro político -e eventualmente comercial- para ajudar a lidar com crises como as da Venezuela e de "países-problema", como a Colômbia.
No momento, dois dos principais países da América Latina, Chile e México, estão na "geladeira" dos EUA por não terem apoiado a guerra americana no Iraque. Ambos integram o Conselho de Segurança da ONU.
Embora o Brasil também tenha se manifestado contra a guerra, os EUA consideram que a posição brasileira não teve nenhuma consequência prática. O Brasil também não tem com os EUA os mesmos laços que os chilenos e mexicanos, antigos parceiros comerciais dos americanos.
Outro ponto fundamental do encontro, que deve incluir reuniões de ministros e secretários dos dois países, é um aumento da pressão americana para que o Brasil aceite participar da Alca.
O recente discurso de Brasil e Argentina pró-Mercosul foi considerado em Washington um grande revés nos planos americanos de concluir o acordo em janeiro de 2005, prazo já tido como praticamente irreal pelos americanos, que começaram a aprofundar a estratégia de fazer acordos bilaterais com outros países da região. Depois do Chile, que deveria já ter assinado um amplo acordo não fosse o "gelo" de depois da guerra, a Colômbia deve ser o próximo da lista.
No caso do Brasil e da Alca, a proposta apresentada pelos EUA em fevereiro foi muito mal recebida. Os americanos tiraram da mesa tudo o que interessava ao Brasil, como as negociações sobre barreiras não-tarifárias, e colocaram o país "no fim da fila" para a redução de tarifas americanas.
É possível, porém, que os EUA ofereçam acordos bilaterais ao Brasil como alternativa.
Além da Alca, o governo norte-americano também tem uma agenda extensa de problemas que gostaria de ver resolvidos.
Há anos o Brasil é acusado pelo Departamento de Comércio americano de adotar práticas desleais para a importação, de ser leniente com a pirataria e de não ter uma Lei de Patentes que proteja a indústria dos EUA.
Atualmente, o Brasil é o 15º maior mercado de exportações dos americanos. O país compra 24% de todos os produtos exportados pelos Estados Unidos para a América Latina e Caribe -com exceção do México. No ano passado, os americanos tiveram um déficit comercial de US$ 3,4 bilhões com o Brasil -em 2001, tiveram superávit de US$ 1,4 bilhão.
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que vê "com mais otimismo as negociações entre Mercosul e União Européia do que as da Alca".
Segundo ele, as assimetrias de poder e de interesses dentro da Alca dificultam o avanço das negociações e a defesa dos interesses do Brasil. O ministro lembrou que os EUA representam cerca de 70% do PIB da região, e os 24 países menores, pouco mais de 1%.
"O interesse desses 24 países é totalmente distinto do de um país como o Brasil", afirmou Furlan.
Questionado se uma negociação direta entre o Mercosul e os EUA seria uma solução, Furlan respondeu: "Vamos ter uma noção mais concreta se esse é o caminho após a visita de Zoellick". O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) avalia que a negociação direta é uma opção.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e PLÍNIO FRAGA, enviado especial a Cuzco


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