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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Para presidente da CPT, sem-terra que invadiram engenho em PE são vítimas da violência há seis anos

Pastoral envia telegrama com críticas a Lula

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Aliada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na defesa pela reforma agrária, a Comissão Pastoral da Terra criticou ontem declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que "partiram de grave desinformação e foram ofensivas aos camponeses".
Lula condenou, anteontem em Balsas (MA), as invasões de terra feitas com violência e defendeu uma reforma agrária pacífica. Sem citar o caso, o presidente fazia referência à invasão do engenho Prado, em Tracunhaém (PE), por lavradores ligados ao MST e à CPT. Os sem-terra também depredaram e incendiaram casas, galpões e tratores.
Em telegrama enviado ontem a Lula, o presidente da CPT, dom Tomás Balduíno, disse que no caso de Pernambuco "não se trata de ocupantes de terra, mas de 300 famílias de lavradores que há seis anos vêm cultivando eficientemente a terra e que tiveram suas lavouras totalmente destruídas".
Em Balsas, Lula afirmou que: "Não é possível imaginar que num país deste tamanho, com a quantidade de terra que tem, precisa ter ocupação com violência contra quem quer que seja. Nós precisamos fazer uma reforma agrária tranquila e pacífica".
No telegrama, dom Tomás diz que a área em Pernambuco teve o decreto de desapropriação "injustamente anulado por ação" judicial. O engenho, que ocupa um terreno de 800 hectares, foi desapropriado há seis anos. Mas a medida foi suspensa há quatro anos pela Justiça.
"Este e outros conflitos só serão superados por meio de uma adequada e efetiva reforma agrária", termina o documento assinado por dom Tomás. O Palácio do Planalto não quis comentar o telegrama enviado pela CPT a Lula.
Em entrevista à Folha, dom Tomás defendeu os sem-terra que invadiram o engenho Prado.
"O que se vê como violência é reação de um pessoal abandonado pelo poder público. O excesso de violência é o crime que vem sendo feito contra as 300 famílias", afirmou ele.
O presidente da CPT disse que as famílias são vítimas de violência há seis anos, mas só agora o caso ganhou repercussão por causa da depredação no local.
Dom Tomás evitou criticar a política de reforma agrária do governo, mas cobrou a solução do problema de famílias acampadas.
"Pode ser que o governo ainda não tenha tido tempo de mostrar resultados. Para falar em ritmo, é preciso esperar mais um pouco. Porém, essa questão precisa ser resolvida."


Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília


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