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Quadrilha vendia ambulâncias com
defeitos a prefeitos
Além de superfaturados, veículos fornecidos por sanguessugas apresentavam problemas, como falta de instrumentos médicos
Irregularidades constatadas pela CGU incluem aparelhos que deviam ser novos, mas tinham dez anos de uso, e dinheiro investido em fundo
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A máfia dos sanguessugas
não se limitava a vencer licitações de cartas marcadas e a
vender veículos superfaturados. Documentos da CGU
(Controladoria Geral da União)
mostram que a quadrilha repassava às prefeituras ambulâncias cujas portas traseiras
não abrem, sem instrumentos
médicos básicos e com aparelhos odontológicos com mais
de dez anos de uso, entre outras
irregularidades.
Periodicamente, a CGU realiza sorteios para fiscalizar os
municípios, mais especificamente os gastos das prefeituras
a partir de recursos repassados
pela União. Ao todo, foram
identificados indícios de fraudes em 60 municípios.
A CGU relatou também situações de descaso das prefeituras com as ambulâncias. Veículos parados em estacionamento sem emplacamento, esquecidos em oficinas mecânicas e utilizados para outras finalidades, como servir à Guarda Municipal. Em um dos casos, o dinheiro liberado pela
União para a compra de uma
ambulância ficou aplicado num
fundo de investimento por
mais de um ano, dando como
resultado prejuízo de R$ 1.735.
No estacionamento
O município de São João de
Meriti (RJ) abriu concorrência
até 2004 para a compra de 20
ambulâncias, quase todas em
licitações vencidas por empresas ligadas à Planam, principal
beneficiária das fraudes. Foram gastos ou empenhados, de
acordo com a CGU, R$ 2,436
milhões com as unidades.
O órgão concluiu que a prefeitura comprou mais ambulâncias do que o necessário. A
CGU fiscalizou, em junho de
2004, 11 ambulâncias, das quais
6 se encontravam num estacionamento da prefeitura. Duas
não haviam sido emplacadas,
embora tivessem sido entregues havia meses. Outras duas
não funcionavam devido ao
descarregamento das baterias.
A Controladoria Geral da
União constatou também que
as portas de trás de dois veículos não abriam, "mesmo depois
de muita insistência". Uma das
duas ambulâncias não havia sido emplacada. "Portanto, o
problema não decorre de sua
utilização", escreveram os técnicos. Eles ressaltaram também que, mesmo com vários
veículos parados, havia convênio em andamento para a compra de mais três ambulâncias.
A Prefeitura de Doutor Ulysses (PR) desembolsou R$ 76,8
mil por uma unidade para atendimento dentário vendida pela
Santa Maria, apontada como
laranja da Planam. Embora o
edital previsse instrumentos
novos, a unidade foi equipada
com aparelhos com dez anos de
uso. Além disso, a CGU concluiu que o mesmo veículo, porém com material novo, sairia
por R$ 60 mil ou menos.
Em Várzea Grande (MT), a
CGU constatou que, por "falta
de manutenção adequada",
uma ambulância passou a ser
usada pela guarda municipal.
Em 2001, Santa Maria Madalena (RJ) recebeu da União recursos para a concorrência de
uma unidade móvel para tratamento cardiológico no valor de
R$ 96 mil. Em vez de adquirir o
veículo, a prefeitura aplicou o
dinheiro por mais de um ano,
obtendo prejuízo de R$ 1.735.
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