São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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OUTRO LADO

Sócio da Rodvias nega ter sido favorecido

DA REPORTAGEM LOCAL

O sócio da Rodvias Engenharia Municipal, Ricardo Pereira da Silva, disse que depois de constituir a empresa, em 1997, foi procurar serviço "onde conhecia pessoas". Ele negou que tenha sido beneficiado por ter trabalhado como secretário em uma prefeitura do PT. Ricardo também disse que não favoreceu a Emparsanco, para a qual prestou serviço, nem a Tetralix, cujo sócio trabalhou com ele:

Folha - Em 1998, sua empresa foi contratada em Santo André para o gerenciamento de obras no Hospital Municipal. A presidente da comissão de licitação, Rosana Senna, depois atuou como advogada em sua empresa, em um contrato em Belém. Ela trabalhou para o sr.?
Ricardo -
A Rosana também foi funcionária da Prefeitura de Santos. Ela foi trabalhar em Santo André depois que o Klinger já era secretário. Em um período que ela estava de licença, trabalhou comigo em Belém. É minha amiga. Fizemos auditoria em um processo de contratação do terminal pesqueiro de Belém, mas ela nunca foi advogada da Rodvias.

Folha - Em Belém, o sr. fez parte da comissão de licitação para escolher as empresas de lixo, ao lado de Francisco Eduardo Pasetto Lopes?
Ricardo -
Fui indicado por ele, e a Prefeitura de Belém me contratou para ajudar no processo de licitação das empresas de lixo. Eu tinha experiência da época da [Luiza" Erundina e também fui presidente da Prodesan, em Santos.

Folha - Em Belém, uma das empresas escolhidas foi a Emparsanco. O fato de o sr. já ter trabalhado para a Emparsanco não influenciou na escolha da empresa? Ela nunca havia feito serviço de limpeza.
Ricardo -
Eu acho que deve ter influenciado porque eu tenho um nome no mercado porque fiz dois mestrados e doutorado na França, conduzi o maior programa de recapeamento em São Paulo na época da Erundina. A minha presença em algum espaço é sinal de seriedade e coisa bem feita.

Folha - O fato de o sr. ter trabalhado na Emparsanco não influenciou na escolha, uma vez que o sr. integrava a comissão de licitação?
Ricardo -
Eu era um dos membros da comissão. Todos os critérios foram extremamente objetivos, tanto que ela ganhou um lote e perdeu o outro. A comissão tinha umas cinco pessoas. Nenhuma delas iria colocar seu nome em jogo por influência minha. Eu também não seria louco de, por uma única licitação, borrar meu nome. Não vi nenhum problema. A Emparsanco sempre teve dificuldades nas obras que fiscalizamos e é por isso que ela acredita muito em meu trabalho e sabe da seriedade do meu trabalho.

Folha - O sr. já havia feito algum trabalho anterior em Belém para ser indicado para participar da comissão de licitação?
Ricardo -
Não. Mas depois fiz mais alguns trabalhos por lá em virtude do sucesso desse trabalho. Foram quatro contratos, mas todos muito pequenos.

Folha - Juvenal Nigro fez algum serviço para sua empresa?
Ricardo -
Fez. Ele me ajudou no canal de Tucunduva.

Folha - Ele fazia parte da Tetralix, que foi subcontratada pela Emparsanco. O sr. sabia?
Ricardo -
Fiquei sabendo depois. Essa foi uma das razões de eu o ter contratado para me ajudar, já que ele estava indo para Belém e o trabalho que desenvolvemos não tinha nada a ver com lixo. Era obra de drenagem. Um dos trabalhos que faço é a montagem de editais. Assim como o do lixo, em Belém, ajudei a montar o do Tucunduva.

Folha - O que quero entender é isso. O sr. era secretário em Santos, trabalhou com duas pessoas que depois viraram secretários em outras prefeituras do PT, e sua empresa acaba sendo contratada em Santo André, cuja presidente da comissão presta um serviço para o sr., depois o sr. integra uma comissão de licitação em Belém, cuja empresa vencedora é sua cliente, aí a Emparsanco subcontrata a Tetralix, cujo um dos sócios também presta serviço para o sr. Não são vários contratos ligados?
Ricardo -
Na vida profissional, você sempre procura serviço onde é bem recebido. Você indica pessoas que conhece ou já viu trabalhar. O Juvenal Nigro eu o conheci da época em que eu trabalhava na Secretaria das Administrações Regionais, em São Paulo. Ele era de uma empresa que nem me lembro o nome. Por que o Pasetto me convidou? Porque fizemos um bom trabalho em Santos. Eu também indico várias pessoas. Quando resolvi montar minha empresa fui oferecer serviço onde conhecia pessoas. Não poderia trabalhar em São Paulo porque sou funcionário da prefeitura. Eu tinha uma empresa pequena e fui procurar emprego onde tinha certeza de que seria recebido, de que não seria sacaneado, de que receberia minhas faturas. Estrategicamente, do ponto de vista profissional, foi perfeito. Também trabalho na região do ABC, na Bahia, Alagoas, Minas Gerais.

Folha - O sr. atua mais no ABC?
Ricardo -
É, em Santo André, Mauá e São Bernardo. Só não entrei ainda em Diadema [administrada pelo PT" porque a situação econômica da prefeitura está ruim e não conseguiria suportar o não-pagamento. Tentarei entrar lá quando as coisas melhorarem.

Folha - O fato de essas prefeituras serem do PT e o sr. ter sido secretário do PT não influenciam a escolha de sua empresa?
Ricardo -
Em São Bernardo não é PT. Fiz obras para o governo do Estado, na época de Mário Covas. Apesar de ter uma simpatia pelo PT, tenho atuado como empresário. Meu objetivo é fazer um bom trabalho social e ter lucro.

Folha - Como o sr. concilia seu trabalho na Prefeitura de São Paulo com sua empresa?
Ricardo -
Costumo trabalhar na parte da manhã na minha empresa e à tarde na prefeitura, onde fico até altas horas da noite.



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