São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Nenhum senador diz ver indício para cassar Renan

Apenas 24 dos 66 parlamentares que se manifestaram falam em esperar perícia da PF

Outros 42 nomes ouvidos em enquete da Folha são categóricos em dizer que não enxergam elementos para perda de mandato

SILVIO NAVARRO
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do agravamento do caso e das divergências apontadas pela perícia da Polícia Federal nos papéis que sustentariam a versão da venda de gado, nenhum senador hoje avalia que já há elementos suficientes para a cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A Folha ouviu 70 dos 81 senadores nos últimos dois dias, logo após a derrota de Renan em tentar encerrar o processo no conselho. Desse total, 66 disseram que os agravantes ainda são insuficientes. Quatro não responderam às perguntas.
Além do próprio Renan, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), licenciado por problema de saúde, não foi procurado. Nove senadores não foram localizados.
Na sondagem, os senadores tinham a opção de manter a opinião em sigilo. Para eles, a declaração poderia ser traduzida como "prejulgamento", já que o caso pode terminar no plenário. Outros optaram por se pronunciar abertamente.
Foram feitas três perguntas: 1) O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deveria se afastar do cargo durante o processo?; 2) Já há elementos suficientes para a cassação do mandato dele?; 3) Se ele deixar o posto, quem deveria sucedê-lo?
Dos 66 senadores consultados, 24 (36,4%) afirmaram que há indícios graves de quebra de decoro, mas que é preciso aguardar a finalização da perícia da PF para selar o destino do peemedebista. Outros 42 (66,6%) foram categóricos ao declarar que não há elementos para perda do mandato.
"Por enquanto não. Isso vai depender das explicações que ele [Renan] apresentar", disse Eduardo Suplicy (PT-SP). "Acho que há indícios graves, mas é prematuro afirmar sem a perícia da Polícia Federal. É preciso clareza de que os documentos são fraudados", afirmou José Nery (PSOL-PA), cujo partido foi o autor da representação contra Renan.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) disse que teria dificuldade em fazer o julgamento. "Espero que eu não tenha que tomar esta decisão. Se esse momento chegar, vou avaliar e votar pela justiça. Pessoalmente, mantenho uma relação muito fraterna e de respeito com o senador Renan."
Os aliados de Renan irritaram-se com o questionamento. "Não farei julgamentos rápidos. Sócrates e Cristo tiveram julgamentos rápidos e deu no que deu", disse o senador Mão Santa (PMDB-PI).
A maioria dos entrevistados não defende nem o afastamento de Renan da presidência enquanto durar o processo no Conselho de Ética: 19 apóiam que ele fique no cargo; outros 18 se dizem indiferentes.
Esse cenário de cautela extrema, entretanto, não significa que a base de sustentação do alagoano não esteja abalada. Para uma Casa reconhecidamente corporativa, não é de todo irrelevante o fato de que 29 senadores defendam que Renan se licencie do cargo até a conclusão do processo.
"Seria melhor para a Casa e para ele", disse Raimundo Colombo (DEM-SC). "O afastamento seria importante para retomar a normalidade", afirmou Osmar Dias (PDT-PR).
"O licenciamento tira o constrangimento da presença dele como nosso presidente", disse Cristovam Buarque (PDT-DF).
Assim como o próprio presidente, os defensores de Renan, entretanto, rechaçam a possibilidade de vê-lo fora do posto. "Pedir a licença do cargo seria passar recibo e mostrar fragilidade", afirmou Gilvam Borges (PMDB-AP). "Isso não está em questão, ele está indo bem e agora não tem mais prazo [para votar o processo]", disse Valdir Raupp (RO), líder do PMDB e cotado para a relatoria.
Muitos senadores mostraram resistência à pergunta sobre eventual sucessor na presidência. Embora já tenha ganhado os corredores do Senado, o assunto ainda é tratado veladamente já que a avaliação é que o caso tende a esfriar, cenário favorável a Renan.
O nome mais recorrente para substituí-lo foi o do primeiro-vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC). Pelo regimento do Senado, se Renan deixasse o posto, Tião Viana assumiria interinamente. Alguns senadores da base governista que citaram seu nome como caminho natural também sugeriam que ele poderia se viabilizar em eventual eleição.
Na oposição, houve menções ao nome de dois senadores do DEM: Marco Maciel (PE) e o líder da bancada, José Agripino Maia (RN), derrotado por Renan na última eleição. Na base governista, o nome do senador José Sarney (PMDB-AP), antecessor de Renan, foi citado.


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