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Nenhum senador diz ver indício para cassar Renan
Apenas 24 dos 66 parlamentares que se manifestaram falam em esperar perícia da PF
Outros 42 nomes ouvidos em enquete da Folha são categóricos em dizer que
não enxergam elementos para perda de mandato
SILVIO NAVARRO
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do agravamento do
caso e das divergências apontadas pela perícia da Polícia Federal nos papéis que sustentariam a versão da venda de gado,
nenhum senador hoje avalia
que já há elementos suficientes
para a cassação do mandato do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL).
A Folha ouviu 70 dos 81 senadores nos últimos dois dias,
logo após a derrota de Renan
em tentar encerrar o processo
no conselho. Desse total, 66
disseram que os agravantes
ainda são insuficientes. Quatro
não responderam às perguntas.
Além do próprio Renan, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), licenciado
por problema de saúde, não foi
procurado. Nove senadores
não foram localizados.
Na sondagem, os senadores
tinham a opção de manter a
opinião em sigilo. Para eles, a
declaração poderia ser traduzida como "prejulgamento", já
que o caso pode terminar no
plenário. Outros optaram por
se pronunciar abertamente.
Foram feitas três perguntas:
1) O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deveria se afastar do cargo durante o processo?; 2) Já há elementos suficientes para a cassação do mandato dele?; 3) Se
ele deixar o posto, quem deveria sucedê-lo?
Dos 66 senadores consultados, 24 (36,4%) afirmaram que
há indícios graves de quebra de
decoro, mas que é preciso
aguardar a finalização da perícia da PF para selar o destino
do peemedebista. Outros 42
(66,6%) foram categóricos ao
declarar que não há elementos
para perda do mandato.
"Por enquanto não. Isso vai
depender das explicações que
ele [Renan] apresentar", disse
Eduardo Suplicy (PT-SP).
"Acho que há indícios graves,
mas é prematuro afirmar sem a
perícia da Polícia Federal. É
preciso clareza de que os documentos são fraudados", afirmou José Nery (PSOL-PA), cujo partido foi o autor da representação contra Renan.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) disse que teria
dificuldade em fazer o julgamento. "Espero que eu não tenha que tomar esta decisão. Se
esse momento chegar, vou avaliar e votar pela justiça. Pessoalmente, mantenho uma relação muito fraterna e de respeito com o senador Renan."
Os aliados de Renan irritaram-se com o questionamento.
"Não farei julgamentos rápidos. Sócrates e Cristo tiveram
julgamentos rápidos e deu no
que deu", disse o senador Mão
Santa (PMDB-PI).
A maioria dos entrevistados
não defende nem o afastamento de Renan da presidência enquanto durar o processo no
Conselho de Ética: 19 apóiam
que ele fique no cargo; outros
18 se dizem indiferentes.
Esse cenário de cautela extrema, entretanto, não significa que a base de sustentação do
alagoano não esteja abalada.
Para uma Casa reconhecidamente corporativa, não é de todo irrelevante o fato de que 29
senadores defendam que Renan se licencie do cargo até a
conclusão do processo.
"Seria melhor para a Casa e
para ele", disse Raimundo Colombo (DEM-SC). "O afastamento seria importante para
retomar a normalidade", afirmou Osmar Dias (PDT-PR).
"O licenciamento tira o constrangimento da presença dele
como nosso presidente", disse
Cristovam Buarque (PDT-DF).
Assim como o próprio presidente, os defensores de Renan,
entretanto, rechaçam a possibilidade de vê-lo fora do posto.
"Pedir a licença do cargo seria
passar recibo e mostrar fragilidade", afirmou Gilvam Borges
(PMDB-AP). "Isso não está em
questão, ele está indo bem e
agora não tem mais prazo [para
votar o processo]", disse Valdir
Raupp (RO), líder do PMDB e
cotado para a relatoria.
Muitos senadores mostraram resistência à pergunta sobre eventual sucessor na presidência. Embora já tenha ganhado os corredores do Senado, o assunto ainda é tratado
veladamente já que a avaliação
é que o caso tende a esfriar, cenário favorável a Renan.
O nome mais recorrente para substituí-lo foi o do primeiro-vice-presidente da Casa,
Tião Viana (PT-AC). Pelo regimento do Senado, se Renan
deixasse o posto, Tião Viana assumiria interinamente. Alguns
senadores da base governista
que citaram seu nome como
caminho natural também sugeriam que ele poderia se viabilizar em eventual eleição.
Na oposição, houve menções
ao nome de dois senadores do
DEM: Marco Maciel (PE) e o líder da bancada, José Agripino
Maia (RN), derrotado por Renan na última eleição. Na base
governista, o nome do senador
José Sarney (PMDB-AP), antecessor de Renan, foi citado.
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