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Mendes defende abertura dos arquivos do Araguaia
Presidente do STF diz que, pelo "direito à verdade", documentos devem ser apresentados
Para irmã de desaparecida, revelações de militar sobre mortes de integrantes do
PC do B pela ditadura podem ter sido feitas para confundir
ANA FLOR
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, defendeu ontem a
abertura de arquivos do período da ditadura (1964-1985) e da
guerrilha do Araguaia, ocorrida
entre 1972 e 1975, sustentando
o "direito à verdade".
"Eu acho que há um direito à
verdade. Se de fato esses documentos existem, eles devem ser
mostrados", disse Mendes. O
presidente do STF afirmou que
não vê possibilidade de proibição em relação à medida. "Tem
que haver abertura [dos arquivos]. Os documentos existentes
devem ser apresentados", disse
ontem, em São Paulo.
O tema da abertura dos arquivos voltou à tona com a divulgação de novas informações
contidas no acervo pessoal do
militar Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió, que fez parte
da repressão à guerrilha.
Segundo documentos do militar divulgados em reportagem
de "O Estado de S. Paulo", 41 integrantes da guerrilha, comandada por membros do PC do B,
foram rendidos e executados
pelas forças militares do governo brasileiro.
Segundo dados do Arquivo
Nacional, apenas 15% dos setores da administração pública
federal entregaram, até agora,
documentos da época. O governo chegou a anunciar que pretende criar uma lei para pressionar órgãos oficiais a divulgar
documentos da época.
Para a pedagoga Valéria Costa Couto, irmã da guerrilheira
Walquíria Afonso Costa, desaparecida desde 1974, as revelações de Curió foram influenciadas pelo fato de o governo brasileiro ter passado a ser réu na
Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão judicial
autônomo da OEA (Organização dos Estados Americanos),
por supostamente não revelar à
sociedade os arquivos a respeito da guerrilha do Araguaia.
"O país já começa a se sentir
coagido diante da Corte Interamericana. Isso [as revelações
de Curió] já é uma reação", afirmou a parente da desaparecida.
Valéria desconfia das afirmações de Curió. "Enquanto familiar já desgastada emocionalmente, não chego a acreditar na
veracidade das informações.
Talvez essas revelações tenham sido feitas para confundir mais ainda", disse.
Criméia Alice Schmidt de Almeida, membro da Comissão
de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e mulher
do desaparecido André Gribois,
afirmou que as declarações de
Curió causaram "repulsa" entre os parentes dos guerrilheiros do Araguaia.
"É incrível como essas informações ficaram escondidas da
sociedade durante tanto tempo. Essa situação mostra o descaso do Estado brasileiro em
relação aos fatos ocorridos no
Araguaia", afirmou Criméia.
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