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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Ministérios Públicos dos Estados, do Trabalho e Militar farão paralisação entre 5 e 12 de agosto

Promotores seguem juízes e decidem parar

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Promotores públicos em reunião em Brasília, em que ficou acertada greve por tempo determinado


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de os juízes estaduais e trabalhistas terem decidido fazer uma greve por tempo determinado, entre os dias 5 e 12 de agosto, as entidades que representam os Ministérios Públicos dos Estados, do Trabalho e Militar também decidiram fazer uma paralisação, no mesmo período da greve dos magistrados.
No país, existem 12.135 promotores estaduais, 576 trabalhistas e 130 militares.
Os procuradores federais não aderiram à paralisação.
Segundo Marfan Martins Vieira, presidente da Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público), o protesto é legítimo. No entanto, a cúpula do Judiciário entende que a paralisação de promotores e juízes é inconstitucional.
"Entendemos que há legalidade e estamos na esteira do pensamento de vários constitucionalistas, como Celso Antônio Bandeira de Mello e Ives Gandra Martins."
Os promotores querem o mesmo que os juízes estaduais: a elevação do subteto estadual de 75% (o que equivaleria a R$ 12.879) da remuneração de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), como está previsto no relatório da reforma, para 90,25%, como é hoje (R$ 15.496,65).
Outra reivindicação é a manutenção da aposentadoria com o salário integral e a paridade de reajuste de remuneração entre ativos e inativos.

Desmoralização
Vieira disse que a estratégia do governo para aprovar a reforma da Previdência passa por uma "campanha de desmoralização do Poder Judiciário e do Ministério Público". Segundo ele, se o texto da reforma for aprovado com o teto de 75%, há o risco de uma "crise institucional".
"Estamos criando [com a greve] uma situação para contornar a crise, para que o governo perceba que a crise institucional é iminente se não houver um diálogo responsável e sério em torno dessas questões", disse.
Ontem, Vieira se encontrou com o líder do PT na Câmara dos Deputados, Nelson Pelegrino (PT-BA), de quem ouviu que "não há clima no governo para mudanças no texto", segundo a Folha apurou.
"O governo continua conversando, mas num processo de cozimento. Vai nos levando em banho-maria e não decide exatamente como combinou na véspera. No dia seguinte faz coisa diferente", disse o presidente da Conamp antes do encontro.
A negociação com o governo, segundo Vieira, seria mais difícil devido ao comportamento que o Congresso tem tido em relação às reformas.
De acordo com ele, haveria uma relação de "subserviência".
"O governo hoje mantém o Legislativo em rédea curta. Como não consegue fazer isso com outro Poder, como o Judiciário, leva a um processo de desmoralização. Talvez faça parte de uma estratégia", afirmou.

"Aprendendo a fazer greve"
Segundo os promotores, ainda não está definido como a greve acontecerá. Vieira disse apenas que os serviços emergenciais serão mantidos.
Além da paralisação, também será feita uma "vigília institucional", cujo formato também não foi fechado.
"Estamos aprendendo a fazer greve por uma imposição dos grevistas maiores. Esse governo que aí está é formado por grevistas históricos", afirmou José Carlos Cosenzo, presidente da APMP (Associação Paulista do Ministério Público).
Apesar de serem ligados à União e não aos Estados -não estão sujeitos ao subteto de 90,25%-, os representantes dos Ministérios Públicos do Trabalho e Militar também aderiram ao protesto previsto para agosto.
"Queremos um Ministério Público forte e um Judiciário forte para evitar que quem mais sofra seja o povo. Estamos aqui para balizar os desmandos do governo. Quem mais comete desmando é o governo", disse Cosenzo. (IURI DANTAS)


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