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Companhia telefônica é espionada
no Brasil há ao menos 3 anos e meio
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Telecom Italia e seus executivos no Brasil vêm sendo investigados pela Kroll, a mando da Brasil Telecom, há, pelo menos, três
anos e meio. A espionagem empresarial foi descoberta por causa
das trapalhadas de três arapongas, que seguiram o homem errado e acabaram presos pela Polícia
Federal no Rio de Janeiro.
O fato ocorreu no final do mês
de novembro de 2000. O então
presidente mundial da Telecom
Italia, Roberto Colanino, veio ao
Brasil encontrar-se com autoridades do governo e fechar a compra
de 37% do capital da Maxitel (empresa de telefonia celular de Minas Gerais, Bahia e Sergipe, que
hoje opera com a marca Tim), que
pertenciam aos grupos Vicunha e
UGB (União Globo Bradesco).
Dois homens e uma mulher vigiavam os passos de Colanino e de
Andrea Calabi -atual secretário
de Economia e Planejamento do
Estado de São Paulo-, que integrava o conselho de administração da Brasil Telecom, como representante da Telecom Italia.
O trio estava em frente ao hotel
Copacabana Palace (na zona sul
do Rio), onde se encontravam
Colanino e Calabi. Por coincidência, o então presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, também
estava no hotel. Um dos espiões
perseguiu o carro de Armínio,
pensando tratar-se de Calabi.
Acionada pelo escritório do BC
no Rio, a PF acabou prendendo o
perseguidor, que estava de moto.
Muito nervoso, ele disse que tinha instruções para seguir ""um
sujeito meio careca, meio gordinho e de barba", descrição que
correspondia à de Calabi. ""Eu não
era o alvo, eles fizeram uma baita
confusão", recorda Armínio.
Os outros dois espiões foram
presos em frente ao Copacabana
Palace. Os três disseram à PF que
eram funcionários do CIE (Centro de Inteligência Empresarial ),
de Curitiba, que não aparece na
lista telefônica. A empresa, por
sua vez, informou à PF que havia
sido contratada pela Kroll para vigiar os executivos da Telecom Italia. Na ocasião, a Kroll negou que
estivesse envolvida no episódio.
Em outubro de 2003, a própria
Brasil Telecom admitiu que estava usando os serviços da empresa
de investigação para obter informações sobre o presidente do
Banco do Brasil, Cássio Casseb.
Um grupo de fundos de pensão
-liderados pela Previ, do Banco
do Brasil, e pelo BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social)- destituiu
o Opportunity do cargo de gestor
do fundo de investimentos CVC/
Opportunity e transferiu a gestão
para a distribuidora do Banco do
Brasil. O CVC é um dos maiores
acionistas da Brasil Telecom.
O presidente do conselho de administração da Brasil Telecom,
Luís Octávio da Motta Veiga, divulgou uma nota dizendo que havia recebido informação da Kroll
de que o presidente do Banco do
Brasil havia pressionado os fundos de pensão menores para que
votassem contra o Opportunity.
O flagrante da espionagem, em
novembro de 2000, foi uma das
primeiras evidências da guerra
existente entre os acionistas da
Brasil Telecom, com os fundos de
pensão e Telecom Italia de um lado, e o Opportunity de outro.
Uma semana antes da prisão
dos espiões, a Telecom Italia havia
entregue um relatório aos ex-ministros Alcides Tápias (Desenvolvimento) e Pimenta da Veiga (Comunicações), com violentas críticas à atuação do Opportunity como gestor da Brasil Telecom.
O documento qualificava o plano de negócios para antecipação
de metas da empresa como "pouco articulado" e "dispersivo", ao
que a Brasil Telecom respondeu
afirmando que o relatório era
"tendencioso" e "mentiroso".
Os membros do conselho de administração da empresa iam para
as reuniões com gravador, tal era
a desconfiança entre eles. Os sócios continuam em guerra pelo
controle da Brasil Telecom.
Colaborou ELIANE CANTANHÊDE,
diretora da Sucursal de Brasília
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