São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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Companhia telefônica é espionada no Brasil há ao menos 3 anos e meio

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Telecom Italia e seus executivos no Brasil vêm sendo investigados pela Kroll, a mando da Brasil Telecom, há, pelo menos, três anos e meio. A espionagem empresarial foi descoberta por causa das trapalhadas de três arapongas, que seguiram o homem errado e acabaram presos pela Polícia Federal no Rio de Janeiro.
O fato ocorreu no final do mês de novembro de 2000. O então presidente mundial da Telecom Italia, Roberto Colanino, veio ao Brasil encontrar-se com autoridades do governo e fechar a compra de 37% do capital da Maxitel (empresa de telefonia celular de Minas Gerais, Bahia e Sergipe, que hoje opera com a marca Tim), que pertenciam aos grupos Vicunha e UGB (União Globo Bradesco).
Dois homens e uma mulher vigiavam os passos de Colanino e de Andrea Calabi -atual secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo-, que integrava o conselho de administração da Brasil Telecom, como representante da Telecom Italia.
O trio estava em frente ao hotel Copacabana Palace (na zona sul do Rio), onde se encontravam Colanino e Calabi. Por coincidência, o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, também estava no hotel. Um dos espiões perseguiu o carro de Armínio, pensando tratar-se de Calabi. Acionada pelo escritório do BC no Rio, a PF acabou prendendo o perseguidor, que estava de moto.
Muito nervoso, ele disse que tinha instruções para seguir ""um sujeito meio careca, meio gordinho e de barba", descrição que correspondia à de Calabi. ""Eu não era o alvo, eles fizeram uma baita confusão", recorda Armínio.
Os outros dois espiões foram presos em frente ao Copacabana Palace. Os três disseram à PF que eram funcionários do CIE (Centro de Inteligência Empresarial ), de Curitiba, que não aparece na lista telefônica. A empresa, por sua vez, informou à PF que havia sido contratada pela Kroll para vigiar os executivos da Telecom Italia. Na ocasião, a Kroll negou que estivesse envolvida no episódio.
Em outubro de 2003, a própria Brasil Telecom admitiu que estava usando os serviços da empresa de investigação para obter informações sobre o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
Um grupo de fundos de pensão -liderados pela Previ, do Banco do Brasil, e pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)- destituiu o Opportunity do cargo de gestor do fundo de investimentos CVC/ Opportunity e transferiu a gestão para a distribuidora do Banco do Brasil. O CVC é um dos maiores acionistas da Brasil Telecom.
O presidente do conselho de administração da Brasil Telecom, Luís Octávio da Motta Veiga, divulgou uma nota dizendo que havia recebido informação da Kroll de que o presidente do Banco do Brasil havia pressionado os fundos de pensão menores para que votassem contra o Opportunity.
O flagrante da espionagem, em novembro de 2000, foi uma das primeiras evidências da guerra existente entre os acionistas da Brasil Telecom, com os fundos de pensão e Telecom Italia de um lado, e o Opportunity de outro.
Uma semana antes da prisão dos espiões, a Telecom Italia havia entregue um relatório aos ex-ministros Alcides Tápias (Desenvolvimento) e Pimenta da Veiga (Comunicações), com violentas críticas à atuação do Opportunity como gestor da Brasil Telecom.
O documento qualificava o plano de negócios para antecipação de metas da empresa como "pouco articulado" e "dispersivo", ao que a Brasil Telecom respondeu afirmando que o relatório era "tendencioso" e "mentiroso".
Os membros do conselho de administração da empresa iam para as reuniões com gravador, tal era a desconfiança entre eles. Os sócios continuam em guerra pelo controle da Brasil Telecom.


Colaborou ELIANE CANTANHÊDE, diretora da Sucursal de Brasília

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