São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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QUESTÃO AGRÁRIA

Invasão de fazenda em Goiás leva a formalização de 1º contrato

Ruralistas fazem convênio para ter segurança privada

Mantovani Fernandes/"O Popular"
Famílias de sem-terra resistem à reintegração de posse da fazenda Florzeira, em Campestre (GO)


ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

Dois dias após o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadir a fazenda Florzeira, no município de Campestre (49 km de Goiânia), a Anpru (Associação Nacional dos Produtores Rurais) anunciou ontem um convênio com a Federação Nacional das Empresas de Segurança Patrimonial.
Segundo o presidente da associação, Narciso Rocha, o objetivo é colocar seguranças particulares nas fazendas para "garantir o direito de propriedade dos produtores rurais em todo o país".
O primeiro contrato seria firmado ontem entre fazendeiros de Campestre e a empresa A Nacional, de Goiânia. A Anpru afirma ter mais de 100 mil associados no Brasil. "É o nosso último recurso para defender as propriedades. A segurança privada é um direito previsto na Constituição. Não queríamos tomar essa medida. Os produtores rurais não querem confronto nem conflito, querem poder produzir", disse Rocha.
A Anpru está dando assistência jurídica aos donos da fazenda Florzeira, considerada a maior invasão do Estado de Goiás. O MST informou que 2.100 famílias estão no local desde a madrugada de terça-feira. A Polícia Militar discorda do número e diz que a área foi invadida por 1.800 sem-terra.
Nos próximos dias, a associação também deve assinar um convênio com a Ouvidoria Agrária Nacional para a implementação da Central Nacional de Atendimento ao Produtor Rural, que pretende monitorar invasões, tentativas e ameaças de invasão em todo o país em tempo real. "Há 400 proprietários de terras invadidas com ordens de reintegração de posse descumpridas em 22 Estados", afirmou Rocha.
Anteontem, o juiz plantonista do município vizinho de Trindade, Vanderlei Caires Pinheiro, concedeu liminar para a reintegração de posse da fazenda Florzeira ao proprietário, Aleixo Alves de Carvalho Neto. A decisão decorre de uma ação de interdito proibitório (com finalidade de proteger a posse) que já tramitava na Justiça goiana desde abril.
Um grupo de cerca de 15 lideranças ligadas à Faeg (Federação da Agricultura do Estado de Goiás) esteve no local ontem de manhã para dar apoio a Carvalho Neto. Às 16h, terminou o prazo dado pela PM para que os sem-terra deixassem pacificamente os cerca de 8.000 ha da fazenda.

Permanência
De acordo com o coordenador do MST em Goiás, Valdir Misnerovic, as famílias decidiram ficar na fazenda. "O Incra tem interesse em adquirir a propriedade."
A Coordenação de Planejamento da PM informou que aguardava autorização da Secretaria da Segurança Pública para fazer a retirada das famílias.
O superintendente substituto do Incra em Goiás, Antônio Pereira de Almeida, disse que uma comissão tentaria negociar com os sem-terra hoje. "No início do ano, o Incra enviou 10 mil ofícios a donos de propriedade acima de mil hectares, inclusive a essa invadida, mas ela não foi avaliada."


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