São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Até autoridades

Para a Globo, nas manchetes do Jornal Nacional, trata-se de um caso de "espionagem comercial" que "envolve dois gigantes da telefonia". E "os arapongas investigam até autoridades do governo".
Uma espionagem cujos "detetives de aluguel vasculharam a correspondência de Luiz Gushiken, antes de se tornar ministro da Secretaria de Comunicação". E tome explicação de Gushiken. E tome declaração do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de que "o governo está apurando esses fatos, para não fazer injustiça, desde março".
A rádio CBN, da Globo, foi na mesma linha, concentrando-se na espionagem do "alto escalão", na decisão do governo de "ir à Justiça". Ouviu o presidente do PT, José Genoino.
 
Já o "Financial Times" e o "New York Times", em reportagens adiantadas ontem, concentram-se no banco Opportunity, que contratou a "investigação" -e que representa o americano Citigroup no Brasil.
O "FT" dá a reação de Gushiken, mas nota que "o episódio vem depois de escândalo envolvendo um alto funcionário do governo", Waldomiro Diniz.
Sobre o Opportunity, diz que é "controlado por Daniel Dantas, considerado um dos mais astutos banqueiros do país, que age em defesa do Citigroup". E encerra descrevendo que "a privatização das telecomunicações em 1998" está sob investigação, "para determinar se o Opportunity ou funcionários do governo agiram ilegalmente".
O "NYT" diz que "a disputa empurra o Citigroup para um indesejado foco de luz no maior país da América Latina". E também perfila Dantas:
- Um jogador agressivo na privatização das telecomunicações nos anos 90, ele tem estado no centro de várias disputas acionárias e legais. Até aqui, o Citigroup tem se mantido ao seu lado, apesar da especulação de que busca saídas para seus investimentos no Opportunity.
 
De sua parte, a oposição ainda está confusa sobre como reagir. O governador Geraldo Alckmin defendeu investigação, na Jovem Pan, mas sobretudo defendeu seu secretário Andrea Calabi, mencionado no episódio.
Para Alckmin, não existe "qualquer possibilidade de envolvimento" do secretário.

EQUILÍBRIO

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Demorou semanas, mas a "Economist" respondeu às críticas que recebeu do Ministério da Agricultura, por relativizar a propriedade da Amazônia brasileira pelo Brasil. E a revista respondeu com um tijolo. Uma das versões de sua nova capa é dedicada ao tema.
A "Economist" não teme, ao contrário de outros, defender com todas as letras que "as florestas tropicais do mundo são dos países mais pobres que elas cobrem -mas ao mesmo tempo elas são uma propriedade global". E mais, "é preciso achar um equilíbrio entre os interesses locais e os interesses globais". E mais, descreve os países com florestas tropicais como "proprietários-ocupantes". Ironiza o Ministério da Agricultura e sua crítica, dizendo que "o jeito mais fácil de irritar funcionários brasileiros é sugerir que a Amazônia pertence mais à humanidade do que ao Brasil".
 
Para não provocar demais, a revista diz que "não se deve negar aos países os benefícios" de destruir parte ou "todas" as florestas. Busca argumentar -e convencer- que os próprios países destruidores saem perdendo.
E propõe que se crie, para estimular nações como o Brasil a parar com a destruição, uma forma de levar os países ricos e demais "beneficiados" a pagar pela floresta.

CONCILIAÇÃO

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Na "Economist", a estrada que rasga a Amazônia

A "Economist", para provar que não está tão contra o Brasil, dá como sustentação de sua opinião sobre a Amazônia uma reportagem sobre a BR-163, cujo trecho mais controverso vai de Cuiabá a Santarém. Segundo a revista, "o projeto da rodovia na Amazônia pode ser a tentativa mais arrojada de conciliar crescimento e conservação" da natureza. Por outro lado, como demonstra a própria reportagem, pode não ser.

Campanha
A Globo pressionou o governo até o limite, por uma campanha de desarmamento -e agora está ela própria em campanha, como nunca. Até a idéia de um Dia dos Avós dedicado a entregar armas é destaque.
Do Jornal Nacional ao Jornal da Globo, dos telejornais locais ao Bom Dia Brasil, do Hoje ao JN de novo, o esforço de desarmamento é notícia sem trégua -ainda que o Rio, sede e atenção maior da emissora, não seja das regiões mais destacadas na entrega das armas.

Articulador
A campanha global tem tamanho impacto que já disputam, em Brasília, os louros.
Segundo o site da Agência Nordeste, o senador Renan Calheiros, descrito como "principal articulador do Estatuto do Desarmamento no Senado", avaliava ontem que "a campanha pegou", que é "uma vitória da cidadania" etc.

Não é fácil
Jornal Nacional, Jornal da Record e toda a cobertura de TV e web levaram a nova queda no desemprego às manchetes. Mas o Jornal da Band já observava, um dia antes, que "na prática" o emprego segue escondido. São todas "boas notícias":
- Mas não é fácil achar as vagas citadas nas pesquisas.
O JN, ontem, também já relativizava a estatística.

Há vagas
Na home do UOL, ontem à tarde, na seção UOL Empregos, o destaque era inusitado:
- Agência Brasileira de Inteligência oferece 166 cargos.
Tem vaga para psicólogo, engenheiro, para quem fala mandarim, árabe. Quase todos serão "analistas de informações".

Mudança
Esta coluna, a partir de agora, passa a ser publicada de segunda a sexta-feira, diariamente.



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