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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTAS DO PT
Questionada desde domingo, Presidência se limita a dizer que informações devem ser buscadas no PT; presidente recebeu R$ 29,4 mil
Planalto não explica empréstimo a Lula
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Da mesma forma que o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares,
em seu depoimento à CPI dos
Correios na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não se manifestou sobre o empréstimo de R$ 29.436,26 concedido a ele pelo PT e a forma como
a dívida foi quitada, em quatro
parcelas mensais, pagas entre dezembro de 2003 e março de 2004.
A Folha questionou o Planalto
reiteradamente desde a noite de
domingo. No início da noite de
ontem, o Planalto se limitou a
uma nota de uma frase: "A Presidência da República não tem conhecimento dessas informações,
que devem ser buscadas junto ao
Partido dos Trabalhadores".
A falta de resposta deixou no ar
a dúvida lançada por pergunta
feita pelo deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) durante o depoimento de Delúbio Soares à CPI. O
deputado quis saber se a dívida de
Lula havia sido paga com o dinheiro do caixa dois operado pelo
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e Delúbio.
Protegido por habeas corpus
concedido pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) e que lhe dava o
direito de ficar calado, Delúbio recorreu à resposta-padrão adotada
para as questões mais delicadas
do depoimento: "Não vou me
pronunciar sobre esse assunto".
Sem juros
O débito consta na prestação de
contas do PT assinada por Delúbio e encaminhada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no ano
passado. As dívidas de Lula foram
lançadas em dois campos: R$ 20,1
mil como "adiantamento a empregados" e R$ 9.300 como
"adiantamento a terceiros", conforme a Folha noticiou na véspera
no depoimento do ex-tesoureiro.
Aos deputados e senadores da
CPI, Delúbio foi questionado sobre os empréstimos sem juros
com recursos públicos do Fundo
Partidário. Explicou que eram rotina no partido.
O documento apresentado ao
tribunal pelo PT registra o pagamento da primeira de quatro parcelas do empréstimo, a de valor
mais elevado (R$ 12 mil), em 30
de dezembro de 2003. O extrato
bancário do partido confirma um
"depósito on-line" no mesmo dia
na conta do diretório nacional.
Nos extratos da conta encaminhados ao TSE, aparece o nome
de Solange Pereira Oliveira. Funcionária do departamento financeiro do PT desde 97, Solange é
responsável pelas "contas a pagar" do partido, segundo o PT.
Seu nome foi um dos mencionados à Procuradoria Geral da
República pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza
na lista de 11 pessoas que teriam
sido autorizadas por Delúbio a receber do caixa dois do PT.
A quebra do sigilo das contas de
Valério e de suas empresas no
Banco Rural revelou pelo menos
um saque de Solange Pereira Oliveira. A funcionária do PT foi
identificada como autora da retirada de R$ 100 mil em 26 de março de 2004.
Solange desapareceu da sede do
PT. A nova direção do partido
disse que não se manifestará "por
enquanto" sobre os saques feitos
pela funcionária. Tampouco esclarece a forma que Lula usou para pagar a dívida -cheque, transferência bancária ou dinheiro.
Segundo a Folha apurou, a expressão "depósito on-line" tem
duas explicações possíveis: depósito em dinheiro ou cheque do
próprio Banco do Brasil.
No mesmo dia em que a primeira parcela de R$ 12 mil do empréstimo tomado por Lula foi quitada,
R$ 100 mil foram sacados em dinheiro da conta da SMPB, uma
das agências de publicidade de
Valério, no Banco Rural.
A operação já aparecia entre os
saques em dinheiro listados pelo
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras), subordinado ao Ministério da Fazenda.
Sumiço
Embora a quebra do sigilo bancário da conta da SMPB no Rural
tenha revelado os beneficiários
dos saques de mais de R$ 20 milhões -valor superior ao contabilizado pelo Coaf entre os saques
acima de R$ 100 mil-, a retirada
feita em 30 de dezembro de 2003
continua sem identificação.
O documento que permitiria a
identificação do nome do sacador
(um fac-símile com a identidade
do autorizado a sacar) e a cópia
do cheque número 413794 desapareceram da CPI dos Correios,
apurou a Folha. O cheque tem
numeração próxima à de outros
destinados ao caixa dois do PT,
constataram as investigações.
Questionado sobre a ausência
do documento referente a esse saque entre os remetidos à CPI, o
Rural forneceu uma resposta genérica: "Saques cujos sacadores
não estão identificados foram feitos por titulares autorizados pelo
cliente, com nomes explicitados
no cartão de assinatura da conta".
A CPI cobrará explicação.
A Folha questiona a Secretaria
de Imprensa do Palácio do Planalto sobre os débitos registrados na
prestação de contas do PT em nome de "Luiz I. L. Silva" desde a
noite de domingo. No final da tarde de segunda, o Planalto chegou
a responder que o dinheiro referia-se a viagens feitas por Lula como presidente de honra do partido, mas depois retirou a resposta.
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