São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Feministas reprovam discurso de Heloísa

Candidata do PSOL é contrária à descriminalização do aborto, o que é atacado por movimentos em defesa da mulher

Para escritora, aliada pela metade é melhor que nada; ONG diz que, para ser do movimento, candidata tem de se assumir por inteiro

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com discurso voltado ao eleitorado feminino, a candidata do PSOL à Presidência, senadora Heloísa Helena (AL), não é considerada por feministas representante do movimento de mulheres. O distanciamento se deve, principalmente, ao fato de a senadora ser contra a descriminalização do aborto.
Na última pesquisa Datafolha, a candidata do PSOL cresceu de 6% para 12% entre as mulheres. Entre os homens, Heloísa oscilou de 7% para 8%. O crescimento mais significativo entre o eleitorado feminino ocorreu na região Sul, onde ela cresceu de 3% para 15%.
A senadora, única mulher entre os sete candidatos à Presidência, divide opiniões entre as feministas. É consenso, porém, que a candidatura é importante para a democracia e pode incentivar outras mulheres a concorrerem a cargos eletivos.
O programa do PSOL afirma que o partido está "na linha de frente da luta feminista" ao defender o fim da discriminação sexual no trabalho, prioridade para as mulheres nos programas habitacionais e de geração de emprego, existência de creches públicas nos locais de trabalho e estudo, casas-abrigo para mulheres vítimas da violência doméstica e punição para agressores e para quem pratica assédio ou abuso sexual.
A senadora, porém, foi contra o projeto de descriminalização do aborto, enviado ao Congresso no ano passado. Ela defende o planejamento familiar e a democratização do acesso a métodos anticoncepcionais.
A escritora e editora Rose Marie Muraro considera a candidata uma "simpatizante" da causa e afirmou que, se Heloísa defendesse a descriminalização do aborto, perderia os votos da periferia, onde as mulheres seriam mais conservadoras.

Pela metade
"É um direito que ela tem [ser contra], e ter uma aliada pela metade é melhor do que nada", diz Rose, membro-fundadora do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Já Alice Libardoni, da ONG Agende (Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento), diz que Heloísa não é candidata da bancada feminina.
"A gente conta com o apoio da senadora no combate à violência doméstica, mas ela é contra a descriminalização do aborto, que sempre foi grande bandeira nossa. Para ser candidata do movimento, tem que se assumir por inteiro."


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