São Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999
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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
ACM diz que erradicar pobreza é projeto de vida e que, se tiver êxito, não disputará Presidência
"Mágica" não extingue miséria, diz FHC

do enviado especial a Lima e

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que não acredita que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) esteja propondo um imposto para combater a pobreza por questões eleitorais, visando sua candidatura à Presidência da República. "Seria um erro tão grande", afirmou FHC em Lima, Peru.
"Eu tenho certeza de que não é por razões eleitoreiras que um senador da importância de Antonio Carlos vá apresentar uma sugestão. Vai apresentar porque está interessado no Brasil", afirmou o presidente. ""Eu tenho talvez a felicidade de não ser candidato." FHC fez questão de afirmar que erradicar a pobreza não acontece "como um passe de mágica". ""Ele sabe melhor do que ninguém que é muito difícil acabar com a pobreza (estalando os dedos) com um gesto assim. Porque ele não conseguiu, nem eu".
"Não se resolve um problema da magnitude da pobreza com uma medida. É um conjunto de medidas. E ela não dispensa um conjunto de medidas de crescimento econômico. Seria enganoso pensar que, com uma medida, resolve-se a desigualdade social", disse o presidente, durante entrevista coletiva, ao lado do seu colega peruano, Alberto Fujimori.
FHC disse que ACM sabia dessas dificuldades, por conhecer bem a realidade da Bahia, e insistiu que não estava fazendo essas considerações por causa de uma possível candidatura à Presidência.
"Eu não estou dizendo que alguém queira ser nem estou dizendo que alguém seja candidato. Não acredito que seja, porque seria um erro tão grande, a três anos da eleição, alguém se expor a ser candidato. É só desgaste."
FHC disse que não conhece ainda a proposta de taxação de riquezas de ACM e ontem não quis dar sequência à disputa pela paternidade da idéia, iniciada por ele anteontem, quando lembrou que há dez anos ele tenta fazer algo semelhante, ao propor o imposto sobre grandes fortunas.
"Eu não conheço o (teor da proposta) dele. Tomara que seja melhor. Se for uma solução boa para o Brasil, eu endosso na hora, venha de onde vier e de quem vier", disse o presidente.
O senador Antonio Carlos Magalhães disse ontem que sua proposta de criação do fundo é mais abrangente do que o projeto de taxação de grandes fortunas, apresentado pelo presidente FHC quando ainda era senador. Atualmente, o projeto de FHC tramita no Congresso.
"Minha proposta atinge não apenas as grandes fortunas, mas todas as fortunas. Ela é melhor porque a taxação de grandes fortunas não deu certo em outros países. Aqui será diferente porque é a sociedade que irá tomar conta desses recursos", disse.
"Não há disputa nenhuma (entre os dois projetos), até porque o projeto do presidente foi para lá (Congresso) há muito tempo. Pode passar na frente, não tem problema. Agora, eu vou modificar o dele para fazê-lo mais coerente com o momento em que vivemos. O dele já tem dez anos. Infelizmente, esse projeto do Fernando Henrique não deu certo no mundo inteiro."
O senador disse também que, se a sua proposta for aprovada pelo Congresso, ele não concorrerá à sucessão presidencial em 2002.
"Se esse projeto tiver êxito, eu não serei candidato. Assim, eu deixo o PT e os outros partidos mais sossegados. A erradicação da pobreza no Brasil é, agora, o projeto político da minha vida."
ACM informou que a proposta de criação do fundo para a erradicação da pobreza está sendo elaborada pela assessoria da presidência do Senado e que deverá ser analisada pelo Congresso antes da votação da reforma tributária, ainda neste semestre.
ACM, que declarou ter pensado na criação do imposto durante o "exílio" em Porto Seguro, onde isolou-se para aguardar a decisão do governo federal sobre a Ford, disse que o projeto surge agora porque "não dá para esperar mais".
"Eu sou político e vou aos locais da pobreza. Não dá para esperar mais. Se isso não for feito, vai acontecer o que já está acontecendo: aumentar a criminalidade, ninguém ter segurança, e o país vai entrar numa situação mais grave."


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