São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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DATAFOLHA

Em rastreamento feito apenas entre quem tem telefone, Ciro tem 32% das intenções de voto, Lula, 27%, e Serra, 17%

Folha estréia pesquisa eleitoral por telefone

DA REDAÇÃO

A Folha começa hoje a publicar uma modalidade de pesquisa eleitoral conhecida como "tracking", que é pouco divulgada pela mídia, mas muito empregada pelas equipes de marketing dos candidatos e por instituições financeiras.
A pesquisa é feita pelo Datafolha apenas entre os eleitores que possuem telefone fixo em casa e, por isso, reflete as opiniões de um público de mais renda e escolaridade e mais concentrado no Sudeste do que a média nacional -não é, portanto, representativa do total de eleitores do país.
No primeiro levantamento, feito anteontem -um dia depois do início do horário eleitoral gratuito-, Ciro Gomes (PPS) obteve 32% das intenções de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 27%, José Serra (PSDB), 17%, e Anthony Garotinho (PSB), 11%.
Segundo Mauro Francisco Paulino, diretor-geral do Datafolha, esses números não podem ser comparados com os da pesquisa tradicional feita pelo instituto -nem mesmo com a parcela que tem telefone no universo da pesquisa tradicional.
"Apesar de serem públicos semelhantes, a forma de abordagem é diferente. Na rua, o entrevistador mostra um cartão com os nomes dos candidato. Por telefone, os nomes são lidos pelo pesquisador", explica Paulino.
Por exemplo, na última pesquisa tradicional do Datafolha, feita nos dias 15 e 16 deste mês, Lula obteve 37%, Ciro, 27%, Serra, 13%, e Garotinho, 12%.
Quando o instituto separa deste público entrevistado na rua apenas os que têm telefone fixo em casa, o resultado obtido é: Lula, 37%, Ciro, 30%, Serra, 14%, e Garotinho, 11%.

Objetivo
O objetivo do Datafolha ao divulgar essa pesquisa "é tornar público um instrumento usado na campanha que poucos eleitores conhecem", diz Paulino.
O "tracking" (rastreamento, em inglês) do Datafolha é feito todo por telefone. É, portanto, mais ágil e mais barato, mas não é representativo do universo dos eleitores. Por isso, sua utilidade principal é antecipar possíveis tendências causadas pela influência do horário eleitoral.
Ele é um estudo contínuo no qual a evolução do quadro é o principal objeto de análise.
Por ele, é possível saber dia-a-dia como os eleitores estão reagindo às propostas dos candidatos e se isso tende a surtir efeito nas taxas de intenção de voto.
Diversos institutos realizam esse tipo de pesquisa a pedido de candidatos, mas os resultados são mantidos em sigilo pelos comandos das campanhas.
Pela lei, uma pesquisa para ser publicada precisa ser registrada antes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O Datafolha registrou essa pesquisa neste mês e vai realizá-la três vezes por semana, sempre no dia seguinte às exibições de propaganda gratuita de presidenciáveis na TV.
Seus resultados serão divulgados diariamente de hoje até o fim das eleições presidenciais, em outubro.
O Datafolha não vai medir apenas a intenção de voto. Vai buscar saber qual a avaliação que os eleitores do segmento dos que têm telefone estão fazendo dos programas dos candidatos na TV.
Para isso, perguntará se o entrevistado viu o programa e o que achou dele.
Também vai perguntar o que o eleitor acha que seria um programa ideal e, a partir disso, verificar qual candidato chegou mais perto desse "ideal".
Fará o mesmo quanto à imagem do candidato, buscando determinar qual candidato tem a imagem mais próxima daquilo que o eleitor considera como "ideal" para um presidente.

As diferenças
Em sua pesquisa tradicional, o Datafolha elabora uma amostra que representa o perfil do eleitorado brasileiro.
Ou seja, como 13% dos eleitores brasileiros tem 60 anos ou mais, 13% dos entrevistados pelo instituto estão nessa faixa de idade.
A partir disso, depois de um processo de sorteios sucessivos, chega ao bairro de determinada cidade onde deve ouvir um eleitor de determinado sexo e idade.
O funcionário do Datafolha vai a esse local e busca a primeira pessoa que se enquadra nesse perfil para entrevistá-la.
No último levantamento desse tipo, nos dias 15 e 16 de agosto, foram ouvidas 4.916 pessoas em 263 municípios.
No "tracking" telefônico, o Datafolha usa os mesmos critérios, mas limita aos que tem telefone fixo em casa. De acordo com levantamento do instituto, os "com-telefone" são cerca de 54% dos eleitores e têm um perfil bem diferente dos outros.
Por exemplo, se na média nacional 8% dos eleitores estão na faixa mais alta de renda, esse percentual praticamente dobra -vai a 15%- quando o Datafolha seleciona apenas os "com-telefone".
Por isso, diz Paulino, os resultados tendem a ser diferentes.
Para fazer o "tracking", o Datafolha liga para a casa das pessoas e busca falar com moradores que estejam dentro do perfil traçado pelo instituto.
Na pesquisa tradicional, as entrevistas são feitas pessoalmente.
Outra diferença grande é a margem de erro. Como a amostra da pesquisa tradicional é maior, a margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
No "tracking", essa margem é de até 4 pontos percentuais.

Empate
Três candidatos empataram na avaliação do eleitor sobre qual foi o melhor no horário eleitoral gratuito na TV exibido na terça-feira, de acordo com o rastreamento feito no dia seguinte.
Segundo o Datafolha, Lula foi considerado o melhor por 17% dos entrevistados, Ciro, por 16%, e Serra, por 14%. A margem de erro é de quatro pontos percentuais.
Como nesse caso o pesquisador não não forneceu a lista de candidatos -a resposta foi espontânea-, a taxa de entrevistados que não souberam apontar nenhum candidato como o melhor foi alta, de 44%.
Dos entrevistados, 4% citaram Garotinho, 3%, outros candidatos, e, para 1%, todos os candidatos foram os melhores.

Avaliação
Numa avaliação individual de cada candidato, Lula obteve o índice mais alto.
Dos entrevistados, 70% avaliaram seu programa como ótimo ou bom, 20% como regular, 6% como ruim ou péssimo, e 4% não souberam responder.
A taxa de "ótimo/bom" de Ciro foi de 65%, de Serra, de 59%, de Garotinho, de 39%, de Zé Maria (PSTU), de 5%, e de Rui Costa Pimenta (PCO), também de 5%.

Audiência
A pesquisa também mediu a audiência do programa, e 40% dos entrevistados disseram ter visto pelo menos um dos programas.
A taxa de audiência de cada candidato foi: Ciro (28%), Lula (27%), Serra (27%), Garotinho (25%), Zé Maria (9%) e Rui Costa Pimenta (6%).


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