São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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Tucano pede que Tasso vá a Conselho de Ética

RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de saber ser difícil obter uma punição, o coordenador do programa de governo do tucano José Serra, o prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Vellozo Lucas, subiu o tom dos ataques ao ex-governador tucano Tasso Jereissati (CE) a fim de tentar evitar uma debandada no PSDB.
Vellozo Lucas pediu ontem que Tasso seja submetido ao Conselho de Ética do PSDB, por causa da carta que divulgou anteontem se desligando da campanha de Serra. O gesto objetiva intimidar Tasso e conter a dissidência no PSDB a favor de Ciro Gomes (PPS). O ex-governador tem feito articulações políticas e empresariais para o candidato do PPS.
"Se ele [Tasso] tiver dignidade, vai pedir para sair do partido", disparou Vellozo Lucas, já sabendo que o PSDB não convocará o conselho. O prefeito quis apenas marcar uma posição, que, aliás, não é endossada por toda a campanha Serra nem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não interessa ao candidato um enfrentamento interno neste momento. Implementada a estratégia de desconstrução de Ciro, Serra acredita que estará no segundo turno e unirá o partido.
Serra, segundo o líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA), considerou até "agressiva" a declaração dada por FHC sobre a dissensão de Tasso, segundo a qual a carta fora uma "punhalada pela frente". O próprio Jutahy avalia a posição do presidente como uma defesa: "Na minha terra, ruim é tomar facada pelas costas. Pela frente é só delito. Por trás, é traição".
Tasso divulgou a carta após consultar o coordenador político de Serra, Pimenta da Veiga (MG), e o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG). Eles acharam melhor o tucano do Ceará esclarecer agora sua posição.

Objetivos
O movimento de Tasso também é conveniente para os tucanos que não desejam apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), caso Serra não vá para o segundo turno. Tasso tem dois objetivos imediatos:
1) Tentar impedir que o presidente Fernando Henrique Cardoso apóie Lula na segunda fase. O candidato do PSDB e seu entorno já decidiram que, entre Lula e Ciro, ficarão com o petista.
O presidente será pressionado por Tasso a ficar neutro, assumindo posição de magistrado. O ex-governador também quer inibir eventuais articulações de FHC para avalizar Lula perante o mercado -principal desejo petista em relação ao presidente.
2) Arregimentar apoios tucanos para Ciro já no primeiro turno, pavimentando caminho para abocanhar o máximo possível de adesões no segundo turno.
Caso Serra fique fora do segundo turno, as situações estaduais ditarão o destino das seções regionais do PSDB. Tasso, cotado para ser o principal nome político de um eventual governo Ciro -como ministro da Fazenda, por exemplo-, crê que poderá arregimentar o apoio de grande parte da bancada federal do PSDB e o apoio de caciques importantes.
A interlocutores, Tasso disse que estava se sentindo incomodado com a pecha de "traidor" e resolveu assumir de vez sua opção. Na carta, ele não diz que fará campanha por Ciro. Mas alegou questões regionais, sua aliança informal com o PPS do Ceará e a amizade com Ciro para dizer que se retiraria da campanha.
Em conversa com o conselheiro político da Embaixada dos Estados Unidos, William Barr, Vellozo Lucas disse que só 15 dias após o início do horário eleitoral gratuito a campanha terá condições de avaliar as reais possibilidades do tucano na eleição.
O conselheiro norte-americano está conversando com todas as campanhas à Presidência.


Colaborou RAQUEL ULHÔA, da Sucursal de Brasília



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