São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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INCIDENTE

Presidenciável discute com pessoa contratada pelos petistas para filmá-lo

PT utiliza cinegrafista para espionar campanha de Ciro

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O PT do Ceará utilizou ontem uma prática da qual o partido sempre se considerou vítima: contratou um cinegrafista para filmar as ações de Ciro Gomes (PPS), adversário do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva.
O cinegrafista do PT foi descoberto na Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará, que Ciro visitou para gravar parte de seu programa eleitoral. O coordenador da campanha de Lula no Estado, o deputado José Nobre Guimarães, assumiu a idéia da filmagem, que visaria provar que Ciro estava cometendo crime eleitoral ao fazer campanha dentro de prédio público, o que é vedado por lei.
"Recebemos um telefonema anônimo informando que as aulas da Escola de Saúde Pública tinham sido suspensas e que todos os alunos estavam lá vendo a campanha do Ciro", disse Guimarães -que é irmão do deputado federal José Genoino, candidato do PT ao governo paulista: "Eu mesmo fui impedido de entrar outro dia no Detran para fazer campanha por causa da lei, e isso tem de ser respeitado por todos".
A escola é mantida pelo Estado com cursos de especialização para médicos e enfermeiros. O deputado Guimarães afirma que a direção nacional do partido não sabia da filmagem, mas disse que já mandou uma cópia da fita para a coordenação geral da campanha de Lula. Guimarães nega que a filmagem tenha sido "clandestina".
Durante as gravações, Ciro empurrou a câmera do cinegrafista Pedro Paulo e chegou a xingá-lo: "Seu pilantra, você está sendo pago pelo [José] Serra".
A discussão começou quando Ciro percebeu que havia um cinegrafista sem crachá entre a equipe de filmagem de sua campanha e o cinegrafista de uma emissora de TV. O candidato, então, perguntou para quem ele trabalhava. Ele não se identificou: "Trabalho para mim mesmo. Aqui é um lugar público e tenho o direito de filmar o que quiser". A partir daí, começou uma discussão ríspida. Ciro afirmou que ele não tinha o direito de filmar sem se identificar.
No meio da discussão, Ciro, exaltado, colocou a mão na lente da câmera e empurrou o equipamento. O cinegrafista deixou o local em um carro com um adesivo de Lula. Logo após o incidente, Ciro disse que "só podia ser uma provocação a serviço da candidatura de algum outro candidato".
Em Porto Velho (RO), Lula ironizou a acusação de espionagem: "Ciro foi vítima do Paraguai, e não de espionagem, porque a seleção brasileira foi fazer o jogo lá [em Fortaleza], ele assistiu e a seleção perdeu." Segundo Lula, ele próprio está se policiando para ser "mais comedido" nas entrevistas pois "espiões existem em todo lugar". (KAMILA FERNANDES)


Colaborou a Enviada a Porto Velho



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