São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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RIO GRANDE DO SUL

Servidor afirma que havia esquema durante governo de Britto

Motorista denuncia cobrança de propina

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Em meio ao clima de acusações mútuas na disputa eleitoral no Rio Grande do Sul, polarizada entre Antônio Britto (PPS) e o candidato do PT, Tarso Genro, surgiu, ontem, a denúncia de um esquema de propinas no governo quando Britto foi governador.
O motorista João Pedro de Oliveira denunciou a existência de um esquema de propinas no departamento de desporto da Secretaria da Educação do governo gaúcho entre setembro de 1996 e dezembro de 1998 -durante a administração do ex-governador.
De acordo com JP, como ele é conhecido, o "staff" do departamento comandado pelo diretor José Loureiro Gomes, o Arataca, superfaturava eventos, criava competições, levava atletas a Porto Alegre superfaturando patrocínios e falsificava notas fiscais.
Para não se comprometerem, o dinheiro resultante dos eventos -um total de cerca de R$ 1 milhão- ia parar na conta bancária de JP, que disse não ter conhecimento de vínculos do ex-governador com o esquema.
A Agência Folha ouviu JP por mais de uma hora, assistiu a um vídeo no qual ele conta o esquema para se preservar das ameaças de morte que diz ter recebido e teve acesso a extratos bancários do motorista na época, com altos valores para seus padrões.
Logo após a entrevista, JP seguiu até o Ministério Público Estadual, onde apresentou documentos como extratos bancários e conversou com o promotor João Nunes Ferreira durante aproximadamente três horas.
A Agência Folha procurou entrar em contato com o promotor para saber as medidas que ele tomaria em relação ao caso, mas ele respondeu, por intermédio da assessoria de imprensa do órgão, que não comentaria o caso.
Com salário de R$ 747,83, JP recebeu em sua conta valores de R$ 14.500 no dia 16 de abril de 98 e de R$ 50 mil em 4 de junho de 98. Movimentou valores como R$ 22 mil, R$ 18 mil e R$ 30.800.
"Resolvi contar tudo porque estou sendo ameaçado e porque fiquei com uma dívida de R$ 108.400. Não sei se o Arataca era usado pelo seu "staff" ou por outras pessoas, ou se o dinheiro ia para ele mesmo. Eu passava cheques que seriam cobertos depois para pagar algumas despesas, incluindo até boates. Havia lavagem de dinheiro, com compra de material esportivo para doação. O dinheiro parou de entrar na minha conta. As dívidas ficaram", diz.


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