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JULGAMENTO DO MENSALÃO
comentário
STF restaura a primazia de Apolo
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando um crítico de
teatro é convidado para
comentar uma sessão do
STF, a impressão que se
tem é de uma prévia descrença sobre a possibilidade de chegar uma verdade,
nesse império de meias
verdades que se tornou a
democracia brasileira.
Tudo é teatro: a maioria
dos espectadores da TV
Senado já há muito formou sua convicção de culpa dos envolvidos, desde
os tempos empolgantes
em que cada depoimento
era acompanhado como
um capítulo de um tragicômico reality show, e
agora o único interesse de
uma audiência em queda
franca seria acompanhar
os recursos jurídicos até
que o caso morra no limbo
da prescrição.
No empolgante início
havia o arauto Jefferson,
que chegou a aquecer a voz
e o público com vocalizes
de ópera, e dominava a cena com bruscas variações
de tom e ritmo, alternando
causos espirituosos com
arroubos retóricos camicases, arremetendo contra
um rival que o completava
havia algo de eminência
parda, de Cardeal Richelieu em José Dirceu. Por
sua vez, Marcos Valério,
com seu físico de clown
shakespeareano, garantia
a diversão bufa, com uma
esperteza cândida com a
participação especial de
Duda Mendonça, que
compunha a dupla de publicitários com sua barba
de Pantalone.
O espetáculo, porém, já
se desgastou muito, depois
das várias reprises, cada
vez mais paródicas.
Agora no âmbito técnico
da Justiça, no qual o jogo
de cena não é mais para o
eleitor, mas para o cidadão, no maior julgamento
da história do STF, a retórica mais profissional dos
advogados poderia anunciar a volta do circo.
Não foi, e ainda bem. O
dia de quarta foi uma tediosa sucessão de togas
negras aqui e ali tintas por
uma gravata vermelha, e
retóricas comedidas, como se fosse um espetáculo
não de três mas de dezenas
de tenores, com seus egos
pesados no cronômetro da
Justiça. Evocações de efeito pipocavam nos prólogos: o chinês diante do
tanque, a invasão da faculdade de direito, a metáfora
de Saramago sobre a cegueira... mas tudo soava
como uma amostragem
rápida, já que as verdadeiras prima-donas dessa
ópera se reservaram o direito de ficar em silêncio,
Jefferson se colocando como cego, e Dirceu, como
mudo, na ambição talvez
de ganharem por WO.
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