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Fazendas de Renan têm contabilidade fictícia, afirma PF
Segundo perícia, maior lacuna não é valor de venda do gado, mas falta de recibos que provam despesas de custeio nas propriedades
Um dos problemas é sobre a mão-de-obra nas fazendas do senador: desde 2002, só há registro de despesa
com funcionários em 2006
SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com um rebanho que se multiplicou ao longo dos últimos
anos, mas sem registros de despesas para manter a criação de
gado nas fazendas, a contabilidade rural do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), "implica em resultado fictício", segundo os
peritos da Polícia Federal.
Segundo o laudo da PF, a
principal lacuna na atividade
rural declarada pelo senador
não é o valor de venda do gado
mas a ausência de recibos que
provam despesas de custeio nas
fazendas. Além disso, essa falta
de registros gerou distorções
em sua evolução patrimonial.
A conclusão consta de um estudo que a PF redigiu para subsidiar as respostas às 30 perguntas feitas pelo Conselho de
Ética e que acompanha o laudo
entregue anteontem. Ao responder especificamente aos
questionamentos, os peritos
não são tão taxativos.
Mas, na análise dos livros-caixa das fazendas, eles dizem:
"A ausência de registros de despesas de custeio, sob o aspecto
da disponibilidade de recursos
como justificativa patrimonial,
implica resultado fictício da
atividade rural, que se reflete
na evolução patrimonial".
O exame do custeio das fazendas detalha gastos com vacinação, medicamentos, compra de sal, de animais, pagamento de funcionários, arrendamento de pasto e impostos.
Nesse ponto, aparece uma
série de lacunas. Por exemplo,
desde 2002, só há registro de
despesa com funcionários em
2006 (R$ 31.349,12). Ou seja,
nos anos anteriores, não saiu
nenhum centavo do caixa para
pagar mão-de-obra.
Outros exemplos são a falta
de comprovantes de pagamento de ITR (Imposto Territorial
Rural) anteriores a 2006 e a ausência de gasto para comprar
sal para o gado em 2004. Não
foi encontrado recibo de pagamento de uso de pasto em
2002, quando Renan criava gado a título de "condômino".
Foram detectados problemas no estoque de bois, constatados no cruzamento das declarações de vacinação com o tamanho do rebanho declarado
no Imposto de Renda. Em
2004, por exemplo, "surgiram"
cem animais machos embora
não haja registro de compra
nem de nascimentos.
Especialistas consultados
pela Folha ironizaram o sucesso pecuário de Renan. "Ele é
um mágico. Por que será que o
boi do Renan é diferente? O
custo da produção no Brasil,
hoje, é maior do que o da comercialização, há prejuízo na
pecuária de corte", afirmou
Luiz Antonio Nabhan Garcia,
presidente da UDR (União Democrática Ruralista).
Nas fazendas de Renan, entretanto, só houve lucro. Uma
tabela elaborada pelos peritos
mostra o que o percentual de
lucratividade anual foi alto:
2002 (82,77%), 2003 (85,79%)
e 2006 (80,47%). Em 2004 e
2005 girou em torno de 50%.
A PF também descobriu problemas nas transações de venda. A nota fiscal número 0001
discrimina a venda de 45 bois
para José Leocádio de Souza
no dia 11 de novembro de 2003.
Mas, em agosto deste ano, o suposto comprador negou: "Em
tempo algum mantive qualquer transação direta de aquisição de gado com o senador".
A defesa do senador alegou
que, no caso dos empregados,
eles estavam registrados em
nome do espólio do pai de Renan. Sobre demais despesas,
disse que as declarações de IR
só consideraram aquelas efetivamente pagas.
O senador Almeida Lima
(PMDB-SE), relator aliado de
Renan, afirmou que o fato de o
preço do gado vendido estar de
acordo com a média do mercado alagoano "prova que Renan
não tinha gado de ouro".
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