São Paulo, Segunda-feira, 23 de Agosto de 1999
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PAINEL

Malufinho 1
O acordo de Pitta para rolar a dívida da Prefeitura de São Paulo está com pinta de bomba-relógio. Ele sai do cargo, se não for reeleito (o que é muito provável), antes que acabe o prazo de 30 meses dado pela União para abater R$ 1,8 bi. O prefeito honra sua escola malufista: deixar os pepinos para os sucessores.

Malufinho 2
Não será fácil para Pitta privatizar o Pacaembu e o autódromo de Interlagos, modo que bolou para pagar parte dos R$ 1,8 bi. Terá de usar argumentos valiosos para convencer vereadores. E, no caso do estádio, enfrentará protestos de associações de moradores, que fizeram Maluf desistir da idéia em 1996.

Cortina de fumaça
Os deputados federais estão pedindo aumento de salário para acertar em outra coisa: um adicional para a atual verba de gabinete de R$ 20 mil. Temer (PMDB-SP) já a aumentara de R$ 10 mil para o patamar atual. Agora, os parlamentares querem pelo menos R$ 30 mil.

Cheiro de laranja
Levada ao pé da letra, a reivindicação de maior verba de gabinete para compensar a falta de aumento salarial é fisiologia pura. A verba deveria ser usada para sustentar atividades do parlamentar, não para ser embolsada pessoalmente pelo deputado de forma indireta.

Tiro de misericórdia
A antecipação de royalties pagos por Itaipu para a administração pefelista de Jaime Lerner é a causa do rompimento do PSDB do Paraná com o governo. Lerner receberia algo em torno de R$ 1,5 bi. Dinheiro vivo, o que os tucanos locais consideram quase uma sentença de morte para o seu grupo político.

Rolando o lero
Falando claro: o governo aceita a reforma tributária desde que ela não crie "incerteza na receita" e resolva a questão do ICMS (torne-o federal) de modo a tirar dos governadores qualquer margem de manobra. Ou seja: vai continuar empurrando o assunto com a barriga.

Falar é fácil
Arrumaram, finalmente, um horário para as reuniões da comissão mista do Congresso que vai tratar das propostas para o combate à pobreza. Vão ocorrer sempre às quintas, às 14h, quando já começou a debandada dos parlamentares de Brasília. Só vai dar Suplicy.

Piada brasiliense
FHC, que promete dar uma de bravo com os manifestantes da ""Marcha dos 100 Mil", está pensando em convocar o coronel Pantoja para liderar a tropa de choque tucana que promete defendê-lo. Pantoja, que comandou o massacre de Eldorado do Carajás, foi absolvido.

Não seguram a matraca
Líderes petistas estão contrariados com a meta de 100 mil para o protesto de quinta em Brasília. É que ele pode se transformar na ""Marcha dos 20 mil". Mesmo que o ato seja grande, deve ser carimbado como fracasso se não atingir a cifra.

Época de namoro
Romeu Tuma está dando corda aos caciques do PTB, pois teme que o PFL não lhe dê legenda para disputar a prefeitura paulistana em 2000. Uma corrente do PFL defende composição com Alckmin (PSDB). Há também quem queira ir de Afif.

Criador e criatura
Marcelo Barbieri (PMDB-SP) encampou uma campanha para retirar os trilhos do centro de Araraquara e levar R$ 13 mi de indenização da União. A especulação imobiliária agradece. Segue os passos do guru Quércia, que também trabalhou com trilhos no início da carreira.

Sonhando alto
O plano de Menem é obter a presidência do PJ (Partido Justicialista) após sair do governo da Argentina. E aí tentar voltar a presidir o país, que enfrenta uma grave crise econômica.

E-mail: painel@uol.com.br

TIROTEIO
De Wilson Santos (PMDB-MT), sobre a atuação dos líderes dos partidos aliados na negociação do perdão das dívidas agrícolas:
-Eles estão numa situação de dar dó. Querem agradar Fernando Henrique, mas têm receio de ficar mal com a base. Só que a gente sabe que, com o governo batendo o pé, os leões viram todos gatinhos.

CONTRAPONTO

Boca fechada

Eleito para a Câmara Municipal em 82, Antônio Carlos Fernandes costumava dizer que era o "pior vereador de São Paulo".
Entre os seus colegas, Fernandes era tido como um cara folclórico e inofensivo. Falava muito, gostava de aparecer, mas não seria capaz de entregar práticas ainda hoje recorrentes.
Até começar a dar na vista. Primeiro, sua mulher foi flagrada em um carro oficial nas cidades históricas de Minas.
Depois, passou a contar sobre seu trabalho clientelista: distribuição de cadeira de rodas, pagamento de despachantes para quem tinha perdido documento. Tudo com dinheiro público.
A gota d'água ocorreu quando fez a seguinte declaração:
- Os vereadores são todos corruptos, inclusive eu.
Irritados, os parlamentares ameaçaram cassá-lo. Fernandes passou a se controlar. Até que, tempos depois, tentou apartear um discurso de Brasil Vita.
Vita esquivou-se:
- Nobre colega, o seu silêncio vai engrandecer o meu discurso.


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