|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Instituição tenta esvaziar mobilização dos produtores
BB faz mutirão para rever
dívidas do crédito rural
da Sucursal de Brasília
O Banco do Brasil inicia hoje
mutirão nas suas agências para
renegociar as dívidas do crédito
rural, de acordo com as novas
medidas adotadas pelo governo.
O objetivo do mutirão é tentar
desmobilizar a manifestação dos
produtores rurais em Brasília a favor do projeto de lei que perdoa
até 60% das dívidas do setor.
Já o governo oferece descontos
de no máximo 30% das dívidas,
restritos a agricultores adimplentes -o que deverá custar R$ 4,5
bilhões aos cofres públicos.
O diretor de crédito agrícola do
Banco do Brasil, Ricardo Conceição, disse que a instituição está
disposta a refazer os cálculos dos
contratos de crédito rural de todos os credores que estejam se
sentindo lesados.
As agências do banco foram
orientadas a tomar a iniciativa de
procurar os devedores ""insatisfeitos" para prestar esclarecimentos
sobre os contratos.
Com isso, o BB quer afastar dúvidas sobre as regras adotadas para o cálculo das dívidas. Os ruralistas têm acusado o BB de inflar
artificialmente os valores devidos
pelos agricultores.
Conceição contesta as críticas e
afirma que todos os contratos
obedecem às regras de financiamento agrícola aprovadas pelo
Conselho Monetário Nacional.
""Jamais colocamos algo fora das
regras nos contratos", afirmou.
O BB também irá renegociar as
dívidas do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) dos pequenos
agricultores de 130 municípios do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina afetados por seca.
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) participou do
anúncio do mutirão feito pelo BB
como novo coordenador do Pronaf, que saiu da esfera do Ministério da Agricultura.
Segundo Jungmann, o governo
está procurando "tratar desigualmente os desiguais", dando tratamento diferenciado para os pequenos agricultores.
"Inchaço"
Grandes produtores rurais que
fizeram acordo com o Banco do
Brasil afirmam que os valores finais de suas dívidas estão "inchados" em até 20 vezes.
Eduardo Parera de Sá tomou
um empréstimo no BB em 1989
para construir silos na sua fazenda, a Agropecuária Seival, em São
Desidério (BA). Tem hoje uma dívida de R$ 19,5 milhões, mas afirma que o valor do empréstimo foi
de R$ 1 milhão.
Ele fechou uma negociação com
o banco há um mês, para pagar a
dívida em 20 anos. Mas quer mais
vantagens. Conta com a aprovação do projeto da Câmara.
"Os 40% ajudam (o desconto
para grandes devedores). Se não
houver redução, ninguém vai ter
como pagar."
A Companhia Açucareira Vale
do Ceará Mirim tem duas dívidas
com o Banco do Brasil, no valor
total de R$ 130 milhões.
O vice-presidente do Senado,
Geraldo Melo (PSDB-RN), é um
dos sócios da empresa. Ele afirmou que o empréstimo tomado
teve o valor de R$ 27 milhões garantido por bens avaliados em
US$ 72 milhões. Ele contestou o
valor atual da dívida.
O senador disse que o banco
chegou a executar uma dívida da
empresa no valor aproximado de
R$ 50 milhões. A empresa, segundo ele, recorreu à Justiça e venceu
em todas as instâncias.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: "Marcha é dos sem-rumo", diz FHC Índice
|