São Paulo, Segunda-feira, 23 de Agosto de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA

Instituição tenta esvaziar mobilização dos produtores

BB faz mutirão para rever dívidas do crédito rural

da Sucursal de Brasília

O Banco do Brasil inicia hoje mutirão nas suas agências para renegociar as dívidas do crédito rural, de acordo com as novas medidas adotadas pelo governo.
O objetivo do mutirão é tentar desmobilizar a manifestação dos produtores rurais em Brasília a favor do projeto de lei que perdoa até 60% das dívidas do setor.
Já o governo oferece descontos de no máximo 30% das dívidas, restritos a agricultores adimplentes -o que deverá custar R$ 4,5 bilhões aos cofres públicos.
O diretor de crédito agrícola do Banco do Brasil, Ricardo Conceição, disse que a instituição está disposta a refazer os cálculos dos contratos de crédito rural de todos os credores que estejam se sentindo lesados.
As agências do banco foram orientadas a tomar a iniciativa de procurar os devedores ""insatisfeitos" para prestar esclarecimentos sobre os contratos.
Com isso, o BB quer afastar dúvidas sobre as regras adotadas para o cálculo das dívidas. Os ruralistas têm acusado o BB de inflar artificialmente os valores devidos pelos agricultores.
Conceição contesta as críticas e afirma que todos os contratos obedecem às regras de financiamento agrícola aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional. ""Jamais colocamos algo fora das regras nos contratos", afirmou.
O BB também irá renegociar as dívidas do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) dos pequenos agricultores de 130 municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina afetados por seca.
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) participou do anúncio do mutirão feito pelo BB como novo coordenador do Pronaf, que saiu da esfera do Ministério da Agricultura.
Segundo Jungmann, o governo está procurando "tratar desigualmente os desiguais", dando tratamento diferenciado para os pequenos agricultores.

"Inchaço"
Grandes produtores rurais que fizeram acordo com o Banco do Brasil afirmam que os valores finais de suas dívidas estão "inchados" em até 20 vezes.
Eduardo Parera de Sá tomou um empréstimo no BB em 1989 para construir silos na sua fazenda, a Agropecuária Seival, em São Desidério (BA). Tem hoje uma dívida de R$ 19,5 milhões, mas afirma que o valor do empréstimo foi de R$ 1 milhão.
Ele fechou uma negociação com o banco há um mês, para pagar a dívida em 20 anos. Mas quer mais vantagens. Conta com a aprovação do projeto da Câmara.
"Os 40% ajudam (o desconto para grandes devedores). Se não houver redução, ninguém vai ter como pagar."
A Companhia Açucareira Vale do Ceará Mirim tem duas dívidas com o Banco do Brasil, no valor total de R$ 130 milhões.
O vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN), é um dos sócios da empresa. Ele afirmou que o empréstimo tomado teve o valor de R$ 27 milhões garantido por bens avaliados em US$ 72 milhões. Ele contestou o valor atual da dívida.
O senador disse que o banco chegou a executar uma dívida da empresa no valor aproximado de R$ 50 milhões. A empresa, segundo ele, recorreu à Justiça e venceu em todas as instâncias.


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