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JUSTIÇA
No último dia 30, liminar interrompeu apuração
Procuradoria quer retomar investigação de bens de juízes
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
O Ministério Público Federal
pediu a anulação de ato do presidente do TRF (Tribunal Regional
Federal) em São Paulo, desembargador José Kallás, que suspendeu provisoriamente as investigações sobre a origem do patrimônio dos desembargadores Paulo
Theotonio Costa e Roberto Luiz
Ribeiro Haddad, ambos da primeira turma do tribunal.
Em 30 de julho último, Kallás
concedeu liminar interrompendo
apurações iniciadas pela Procuradoria da República em São Paulo
a partir de reportagem da Folha.
O jornal revelou, na edição de 11
de julho, que Theotonio e Haddad ostentam riqueza que contrasta com o padrão de vida comum dos juízes brasileiros.
Em recurso ao tribunal (agravo
regimental), as procuradoras regionais da República Ana Lúcia
Amaral e Mônica Nicida Garcia
alegam que Kallás não tinha
"competência" para decidir sobre
um procedimento administrativo, ato que "não se encontra entre
as atribuições do presidente do
tribunal".
O Ministério Público também
contesta o fato de os autos terem
sido enviados ao presidente do
TRF a partir de um despacho do
desembargador Roberto Haddad,
que é parte no processo, e, por isso, "declarada e reconhecidamente impedido de funcionar nos autos", segundo as procuradoras.
O Ministério Público alega que,
por se tratar de "apuração de
eventual ato de improbidade administrativa", o julgamento caberia a uma das turmas de juízes do
TRF.
Na última quinta-feira, essa posição foi acolhida pela juíza relatora, desembargadora Sylvia Steiner. Ela despachou devolvendo os
autos à vice-presidência, por entender que o processo deveria ter
sido distribuído a um dos desembargadores da segunda seção -e
não a Kallás. Ele atuou, no caso,
como presidente do Órgão Especial, que reúne os 18 desembargadores mais antigos (o tribunal
tem 27 magistrados).
"É expresso o regimento interno ao atribuir aos desembargadores federais componentes das turmas a competência para julgamento de recursos interpostos
contra decisões dos juízes federais", disse Steiner no despacho.
O recurso dos advogados de
Theotonio e Haddad (agravo de
instrumento) teve distribuição
automática urgente, no dia 28 de
julho, para o Órgão Especial,
quando a juíza Steiner foi designada relatora. Segundo os registros do TRF, o processo foi então
encaminhado para "apreciação"
de Haddad, um dos membros da
turma de férias do tribunal.
"Invocando seu impedimento,
Haddad não se furtou a deixar registrado que o processo deveria
ser endereçado ao presidente do
TRF", afirmam as procuradoras
no recurso.
O despacho de Steiner não anula a decisão de Kallás, que deverá
ser examinada por outros desembargadores. Ou seja, as investigações continuarão suspensas até o
julgamento final do mandado de
segurança impetrado pelos advogados de Theotonio e Haddad
contra ato da procuradora Samantha Dobrowolski, que, em julho, decretara a quebra do sigilo
fiscal dos dois juízes.
A juíza federal substituta Tatiana Nogueira, da 14ª Vara Cível,
concedeu liminar parcial, determinando apenas a suspensão da
quebra do sigilo fiscal (os advogados haviam pedido ainda a decretação de sigilo do mandado, a suspensão das investigações e o arquivamento do processo). Os advogados recorreram, então, ao
TRF.
Ao conceder a liminar, Kallás
acolheu o argumento de que os
dois magistrados têm prerrogativa de serem investigados no próprio tribunal acerca de eventuais
irregularidades qualificadas como ato de improbidade administrativa e que possam levar à perda
de função.
As procuradoras Amaral e Garcia sustentam, no recurso, que
Dobrowolski -que atua na primeira instância do MPF- "tem
indiscutível atribuição para instaurar e conduzir procedimento
investigatório destinado a apurar
a prática de atos de improbidade
administrativa por parte de desembargadores federais".
Elas citam parecer do advogado
Fábio Konder Comparato, que se
manifestou "lapidar e expressamente no sentido de ser competente o juízo de primeiro grau para o julgamento de ação de improbidade contra juiz de tribunal".
Na mesma data em que protocolaram o recurso contra a decisão de Kallás, as procuradoras requisitaram a instauração de procedimento administrativo -uma
investigação interna no TRF, a ser
acompanhada pelo Ministério
Público Federal- "para o fim de
ser investigada e apurada a prática de ato de improbidade" pelos
desembargadores Theotonio e
Haddad.
"Parece-nos de extraordinária
importância, no momento atual,
sejam esclarecidas quaisquer situações equívocas que envolvam
os magistrados, para que se preserve a dignidade e o respeito devido ao Poder Judiciário", concluem as procuradoras, no requerimento enviado a Kallás.
Procurado pela Folha, desde a
última quarta-feira, o presidente
do TRF não se manifestou. A assessoria de comunicação do tribunal informou que o processo,
com o despacho do desembargador Roberto Haddad, teve uma
tramitação normal.
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