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Em Palmital, no Paraná, picape com 28 crianças capota; duas morrem
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A tragédia que atingiu 28 crianças da área rural de Palmital -cidade da região central do Paraná, a 380 km de Curitiba- pôs à mostra o grau de insegurança no
transporte escolar de uma massa considerável de estudantes no interior do país. Um acidente no final da tarde de segunda-feira retrasada provocou a morte de duas crianças.
Léia Maciel de Oliveira, 12, morreu na hora. O primo dela, Miguel
Correia, 9, morreu na madrugada do dia seguinte. Com traumatismo craniano, Fátima de Oliveira, 13, irmã de Léia, passou três dias em coma. Ela continua internada no hospital São Vicente de Guarapuava e não corre risco de morte.
As outras crianças feridas já deixaram os hospitais, mas o acidente ainda fez mais uma vítima fatal.
A mãe de dois alunos feridos sofreu um infarto ao receber a notícia. Ercília Silveira, 45, morreu no
hospital Mãe de Deus, de Palmital
-onde 21 feridos eram socorridos por quatro médicos.
A tragédia fez parar a cidade de
16.948 habitantes -segundo o
censo do IBGE de 2000-, baseada na agropecuária. O medo contaminou os pais dos cerca de 1.200
alunos da área rural de Palmital
-500 deles crianças matriculadas no ensino fundamental. Desde o dia do acidente, o transporte
está suspenso e os estudantes interromperam os estudos.
O transporte foi proibido pela
Polícia Militar e pelo Ministério
Público, por falta de segurança.
Pais e líderes comunitários cobram do prefeito Clério Benildo
Back (PFL) uma alternativa de
transporte seguro.
Em Palmital, a exemplo de outros municípios vizinhos, o transporte escolar vinha sendo feito
por picapes velhas e movidas a
gás de cozinha -com botijões
adaptados-, o que é proibido. As
crianças viajavam sentadas em
bancos na carroceria, coberta
apenas por lona.
A prefeitura local gasta R$ 50
mil por mês nesse tipo de transporte irregular, contratando fornecedores autônomos. Despende
mais R$ 30 mil na manutenção de
uma frota de oito ônibus próprios. Outros seis comprados, já
velhos, estão sendo consertados
antes de entrar em circulação.
No dia do acidente, o motorista
Damion Matule, 51, contou à polícia que faltou freio na picape que
dirigia. Ele viajava com as 28
crianças num trecho em declive
da estrada sem asfalto que liga o
centro à localidade de Arroio
Grande. O motorista teria tentado
reduzir a velocidade do carro, em
manobras de abalroamento nos
barrancos, até o capotamento.
Matule sofreu ferimentos leves.
Ele foi indiciado e vai responder
por homicídio culposo (sem intenção de matar).
"Se a gente não ficar em cima
agora, daqui a alguns meses acontece uma nova tragédia", disse a
médica Cristina Ribeiro, 27, do
hospital Mãe de Deus. Segundo
ela, esse não foi o primeiro acidente com alunos em Palmital.
"Estou aqui há um ano e lembro
de cinco casos. Faz quatro meses,
um garoto caiu de uma dessas picapes e teve traumatismo craniano". O menino sobreviveu, "e a
coisa ficou por isso mesmo".
Outro Lado
"[Esse transporte] está totalmente errado, mas funciona assim há dez anos e não posso mudar tudo de hora para outra", disse o prefeito Back.
Ele resiste à idéia de que a substituição por ônibus seria a solução
segura. "Ainda estamos discutindo alternativas". Segundo Back, a
topografia de Palmital exige carros com tração nas quatro rodas.
Back diz que antes terá de ir
atrás de dinheiro. Em setembro,
Palmital contou com R$ 335,3 mil
da arrecadação do FPM (Fundo
de Participação dos Municípios) e
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços). Este
ano fez investimentos de 31,3%
em educação, segundo o prefeito.
O Fundef entrou com a maior
parte, R$ 1,015 milhão.
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