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CAMPANHA
Eugênio Staub, presidente da Gradiente, afirma que o PT é o partido que mais respeita a opinião do empresariado
Empresário vê Lula estadista e declara voto
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Eugênio Staub, presidente da Gradiente, que vai votar em Lula e gravou apoio ao petista na TV |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Nos últimos meses, o empresário Eugênio Staub, 60, presidente
da Gradiente, uma das maiores
empresas do setor eletroeletrônico do país, viveu um dilema. Amigo há quase 20 anos do candidato
à Presidência José Serra e eleitor
histórico do PSDB, ele estava dividido entre votar no tucano ou no
petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Há um ano, ele mantinha conversas frequentes com Lula. Poucos
tinham conhecimento disso. Os
dois discutiam um projeto econômico para o Brasil.
Na semana passada, depois de
assistir ao programa de Serra com
ataques ao PT, ele comunicou ao
PT que iria votar no Lula e que
gostaria de tornar pública sua decisão. Na sexta-feira passada,
Staub gravou um depoimento de
30 segundos para o programa
eleitoral do PT, que foi ao ar na
noite de sábado. Foi o primeiro
grande empresário de São Paulo a
declarar o apoio a Lula.
Em entrevista exclusiva, concedida à Folha depois de gravar sua
participação no programa, Staub
diz que tomou essa decisão por
achar Lula, hoje, o candidato com
melhores condições de elaborar
um projeto nacional aglutinando
todos os segmentos da sociedade.
"O Lula é o nome mais capaz de
juntar empresários, trabalhadores e classe média", diz Staub.
Folha - Por que o sr. decidiu votar
no Lula?
Eugênio Staub - A questão é ampla. O Brasil está numa grave crise. Na verdade, o mundo está
num momento de grave crise.
Nós não sabemos se haverá uma
guerra e que consequências poderá trazer essa guerra. O momento
é extremamente crítico.
O governo Fernando Henrique
Cardoso fez o papel dele e ele
mesmo reconhece que há ainda
muita coisa por fazer. E essas coisas a fazer são difíceis. Só podem
ser conseguidas com união.
Quem tiver uma visão mais míope disso vai dizer que o melhor
candidato a promover essa união
é aquele que tenha maior apoio
do Congresso. Não é por aí.
Independentemente do partido,
nós temos que fazer parte do PC
no B, que é o Partido da Confiança no Brasil. Nós temos que restituir a auto-estima do país. Eu tenho certeza que esse é o sentido
do "Lulinha, paz e amor".
O Lula falou uma coisa importante, de improviso, na casa do
empresário Ivo Rosseti (Valisère),
que, mesmo que o PT perca as
eleições, iria continuar como um
partido muito importante para
ajudar a construir o país. Eu acho
essa uma visão de estadista.
Folha - O sr. acha que o Lula reúne
mais condições do que o Serra?
Staub - As pessoas podem ficar
assustadas com essa afirmação,
por todas as razões que a gente
conhece, mas o Lula tem essa visão de estadista. Por outro lado, o
José Serra, que eu conheço até
muito melhor, há 18 anos, e respeito e gosto, que é competente,
inteligentíssimo, eficiente, obsessivo nas coisas que faz, não é o nome que reúne hoje as melhores
condições para conseguir essa
união da sociedade.
O cargo de presidente da República exige uma pessoa 100% política, já o cargo de ministro, dependendo do ministério, é 50%
político e 50% técnico, e daí para
baixo é técnico. Nós temos de ter
um político na Presidência.
Um dos melhores presidentes
que tivemos foi o Juscelino Kubitschek. Ele era 100% político.
Fez Brasília, fez estradas, fez a indústria automobilística. Ele era
um estadista, um político, uma
pessoa que somava, que perdoava
os inimigos, tinha uma visão estratégica para o país.
Hoje nós não temos mais visão
estratégica para o país, não temos
mais planejamento e vivemos numa grande crise interna e externa.
É a hora de unir o país e é hora de
pôr na Presidência um candidato
com visão estratégica.
Folha - O Lula é essa pessoa?
Staub - Eu acho que os historiadores vão reconhecer o Lula melhor do que nós hoje. O Lula saiu
da situação de operário metalúrgico e conseguiu uma grande influência no cenário nacional nos
últimos 25 anos. Ele está sempre
presente e sempre crescendo.
A história vai registrar que ele
construiu um partido coerente,
um partido que tem um nível de
integridade moral e ideológica
acima dos demais, um partido
que expulsa um membro que saia
da linha. Eu não sou petista e não
tenho pretensão de pertencer a
partido nenhum, mas, se a gente
olhar para a vida do Lula, não tem
como não admirá-lo e, mais, não
é justo tratá-lo com preconceito.
Se prestar atenção no que ele
tem dito, conclui-se pela coerência e correção de quase a totalidade de suas afirmações.
Folha -O sr. já o tratou com preconceito?
Staub -Eu acho que todos nós,
em algum momento, tivemos
preconceito dele, até porque não
o conhecíamos. Um empresário
me falou que, após uma reunião
com o Lula, disse a ele que pensava que ele fosse o pior dos seres
humanos. Lula respondeu da seguinte forma: "Eu também, mas
hoje estamos nos entendendo".
Folha - Quando o sr. decidiu votar
no Lula?
Staub -Eu sempre fui PSDB,
sempre votei no PSDB, cheguei a
dizer que iria votar no Serra, mas
eu sentia desconforto com essa
decisão por inércia, e, nos últimos
dois meses, eu fui me convencendo de que numa situação tão crítica como essa nós precisávamos
de um nome que transcendesse a
coalizão dos partidos no Congresso. Eu estava sentindo esse desconforto e quando o PSDB lançou
essa nova tática eleitoral, não sei
se acertada ou não [de atacar o
PT", eu achei que era o momento
de apoiar um candidato que somasse. Qualquer um dos outros
candidatos não vai ter a mesma
condição de unir a nação em torno de um novo e dinâmico projeto estratégico. O Lula vai ter? Não
sei, mas é o que tem mais chances.
Folha - O sr. não aprovou a nova
tática de atacar o PT da campanha
de Serra?
Staub - É uma operação de guerra. É uma tática que não se coaduna...talvez ele não tenha mesmo
outra alternativa.
Folha - Como o sr. manifestou seu
apoio ao Lula?
Staub - Eu já tinha conversado
com o Lula. Eu disse a ele que, no
momento certo, eu iria me sentir
bem em declarar publicamente
meu apoio à sua candidatura. Eu
estava pensando até em juntar
um grupo de empresários, mas
acho que, como a maioria do empresariado está com Serra e o Serra aparentemente vai para o segundo turno, essa pretensão se
tornou muito difícil. Então, consultei minha consciência e falei
com a pessoa certa que está cuidando dos detalhes da programação da campanha.
Folha - O sr. não teme que essa
sua adesão, agora, na reta final, seja confundida com oportunismo?
Staub - As interpretações de alguns companheiros poderão ser
ruins, mas quem me conhece sabe
que não estou fazendo isso para
buscar alguma vantagem. Nem
para a empresa nem para mim.
Folha - O sr. quer que Lula o ouça?
Staub - Não estou esperando isso. O que posso dizer é que estou
muito impressionado com a
preocupação do PT em ouvir o
maior número de pessoas sobre o
que deve ser feito. Esta é uma diferença muito grande dos outros
partidos. Ultimamente, o PSDB
faz reuniões com empresários para pedir dinheiro. O PT faz reuniões com empresários para pedir
conselhos. Isso foi outra coisa que
pesou nessa minha decisão. Você
só constrói alguma coisa se você,
além de falar, também ouvir. Eu
vejo hoje no PT um respeito muito maior à opinião dos empresários do que nos outros partidos...
Folha - ...inclusive no PSDB?
Staub - ...inclusive no PSDB. O
PSDB não é um bom partido de
dialogar com os empresários. Ele
não valoriza o diálogo com os empresários. O PT valoriza muito.
No PT não tem nada a ver com
"você me dá a opinião e quanto
você vai doar para custear a campanha". Não tem nada disso. Eles
querem saber sua opinião e, se tiver uma dúvida, eles voltam e discutem. Já iniciou-se comigo um
diálogo na preparação de alguns
projetos. Eu recebi dois desses
projetos antes de ir para publicação. Portanto, esse negócio de
criar um projeto de consenso é
uma coisa legítima. Não é uma
enganação do Lula. Isto é uma
coisa que pesou muito numa decisão como essa. Nós temos de
pensar no "day after" e construir
um novo projeto para o Brasil.
Para isso, é preciso de alguém
com apoio político que transcenda o Congresso. As grandes mudanças feitas pelo Congresso na
última década partiram da sociedade. E a mídia teve um papel importantíssimo nesse processo. O
impeachment do Collor foi a sociedade que fez, e não o Congresso. A quase cassação dos senadores e a expulsão dos deputados
são coisas da sociedade. O Lula é o
mais capaz de juntar empresários,
trabalhadores e classe média.
Folha - Para fazer um pacto?
Staub - Eu não falo em pacto
porque se trata de uma palavra
desgastada, mas é um pacto. Isto é
que vai fazer o Congresso se mover. Há ainda muita desconfiança
e preconceito de parte a parte.
Hoje, eu acho que as desconfianças e os preconceitos estão mais
localizados na elite. Você tem os
xiitas do lado de lá e os xiitas, que
ninguém fala, do lado de cá, do lado da elite. Os xiitas daqui são
piores porque ainda têm dinheiro. Você precisa juntar os que estão entre esses dois extremos. Para isso, precisamos de um político, uma pessoa que enxergue isso,
e não uma pessoa que tenha se
atritado com todo mundo...
Folha - ...como o Serra?
Staub - Não vou falar do Serra,
mas não podem ser pessoas que
tenham arestas. O Fernando Henrique tem grande aptidão para isso, mas não é mais elegível. Ele demonstrou isso quando disse que
não precisa de ninguém formado
para ser presidente. Isso desmente o candidato dele.
Fernando Henrique é uma dessas pessoas que enxerga o todo e
conversa com todo mundo. Agora é a vez do Lula. O diploma é
muito importante no início de
uma carreira. Nessa idade que eu
estou, que o Lula está, o que você
aprendeu na vida supera o diploma. E, no caso específico do Lula,
é até uma maldade dizer que ele
ficou sem fazer nada durante esses últimos anos. Ele conhece o
Brasil como muito pouca gente.
Qualquer assunto que se converse com ele, ele viu "in loco". Ele
conhece a coisa no chão do Brasil,
enquanto outros conhecem fazendo PhD nos Estados Unidos,
ou cursos em Harvard, ou ainda
em gabinetes, que também são
formas lícitas de adquirir conhecimento. O dele é um conhecimento prático. O Lula também é
uma pessoa idônea. Eu conheço
empresários que negociaram com
ele, no calor das disputas sindicais, e todos acordos que fez ele
cumpriu até o fim.
Folha - Como o sr. acha que essa
sua decisão será recebida por seus
colegas empresários?
Staub - Isso não vai ser muito
bem compreendido, principalmente por pessoas do meu meio,
pelo menos de imediato.
Folha - O sr. acha que não irá conseguir arrastar outros empresários
a tomar essa mesma decisão?
Staub - Espero que muitos venham a dar esse passo, já que todos terão que dar no final.
Folha - O sr. foi um crítico do governo Fernando Henrique Cardoso.
Não há, nessa sua decisão, um certo rancor com este governo?
Staub - Eu sempre tive muita
afinidade com o PSDB e, num certo momento, passei a ser crítico
da política econômica. Outras
coisas são positivas. Em ciência e
tecnologia houve um progresso.
Em educação também, mas o governo está terminando e o momento é de olhar para a frente.
Folha - O sr. sempre criticou, por
exemplo, o fato de o governo não
ter feito uma política industrial.
Staub - Mas agora será feito. O
próprio PSDB, se ganhar as eleições, vai fazer. As lições foram
aprendidas. Não se trata de quem
vai fazer política industrial ou
não, e sim de quem vai botar o
país nos trilhos. O "Lulinha, paz e
amor" não é uma frase de efeito.
Folha - Uma das críticas que se faz
ao Lula é o fato de ele não ter equipe econômica.
Staub - Quando Fernando Henrique foi empossado no Ministério da Fazenda no governo Itamar
Franco, ele nunca tinha tido atividade executiva. Ele tinha sido parlamentar e chanceler, mas teve visão política para chamar as melhores pessoas. Nenhum partido
tem a melhor equipe, e equipe
econômica não é tudo. Há uma
distorção no país em achar que o
ministro da Fazenda exerce funções de primeiro-ministro. Não é
assim. O Ministério da Fazenda e
o Banco Central são muito importantes para garantir a estabilidade
econômica do país, mas o resto do
governo é que vai fazer o resto.
Folha - Por que o Lula ainda causa
tanto medo? Nas últimas semanas,
o mercado vive um clima de pânico
com a possibilidade de vitória do
PT no primeiro turno.
Staub - O Lula não assusta os
brasileiros. O Lula assusta uma
parte dos brasileiros. Aqui, por
exemplo, existe essa entidade chamada mercado. Tem Deus e o
mercado. O mercado é constituído de dois tipos de grupos de interesses. Tem aquele que é investidor, nacional e estrangeiro, que
está atrás do melhor negócio. E
tem aquele que é o intermediário,
que está atrás da volatilidade para
obter o ganho.
O medo do primeiro grupo é o
de que, com Lula, a remuneração
do capital não seja mais tão boa
como era. Isso é miopia. Miopia
porque, se continuar do jeito que
está, com juros nessas alturas, o
país vai quebrar. Já o raciocínio
do outro grupo, que influencia a
mídia, é o de ganhar quando o dólar sobe muito ou cai muito.
O mercado tem essas duas metades e, por isso, tem interesses.
Os interesses falam mais alto. Não
estou dizendo que o mercado que
se lixe, mas nós temos de construir novos fundamentos na economia em parceria com o mercado, até porque não se pode deixar
de falar com os banqueiros. O objetivo é fazer o país voltar a crescer
a taxas de 7% e fazer com que o
mercado de ações passe a ser mais
importante que o de renda fixa.
Nos países desenvolvidos, o
maior interesse dos investidores
não é nos juros que o Banco Central estabelece, e sim a Bolsa. Nós
precisamos evoluir para isso.
Folha - O sr. não teme que o Lula,
caso vença, abandone essa sua
postura mais conciliadora?
Staub - Isso é outra falácia. Muitas pessoas me falam para eu ter
cuidado com o Lula. Dizem que
ele é um lobo vestido de cordeiro.
Ouvi isso várias vezes nas últimas
semanas. Isso não é um depoimento contra o Lula e sim contra
o Brasil. A democracia brasileira
não permite uma coisa dessas.
Outro dia um empresário americano me perguntou se o Lula
não seria um novo Chávez [Hugo
Chávez, presidente da Venezuela". Com todo o respeito, mas o
Brasil não é a Venezuela. O Brasil
tem instituições, tem imprensa e
esse negócio de que o Lula está
enganando a todos nós e depois
vai voltar a ser radical e só vai chamar para o governo a ala xiita do
partido, que é minoritária, isso é
impossível de acontecer. No dia
seguinte, a mídia irá denunciar isso. Ninguém melhor sabe disso
do que o Lula.
Folha - E como o Lula será recebido lá fora?
Staub - Acho que ele deve ser recebido com respeito. O único presidente que foi recebido duas vezes pelo Congresso americano foi
João Goulart. O Brasil precisa ser
respeitado. Nós temos uma grande desigualdade social, nós temos
potencial de crescimento, e precisamos pagar essa dívida social. Isso até o mais radical político de direita de um país desenvolvido vai
entender.
Folha - E se o Serra vencer? Com o
sr. fica?
Staub - Se o Serra ganhar, ele será um excelente presidente, e tenho certeza que ele terá grandeza
suficiente para entender meu ato.
Folha - Se convidado, o sr. aceitaria um cargo num eventual governo Lula?
Staub - Não é o momento de tratar disso, e sim de projetos. Tendo
um projeto que faz sentido, o Lula
irá buscar as pessoas mais competentes para isso e vai ter de estabelecer um diálogo permanecente
entre iniciativa privada e governo.
Estou muito feliz em participar
dessa mesa pelo lado da iniciativa
privada.
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