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POLÍTICA DA IMAGEM
Quando o eleitor diz não
RENATA LO PRETE
Quando Ciro apanhou de Serra, viu despencar sua intenção
de voto e dobrar, em menos de
um mês, sua taxa de rejeição.
Agora Lula apanhou de Serra.
Decorrida uma semana de maus
tratos, o petista ganhou quatro
pontos no Datafolha. O tucano,
além de perder dois, tomou de Ciro o posto de líder em rejeição.
É cedo para decretar que o tiro
de Serra saiu pela culatra. O tom
usado na propaganda contra Lula, entre crítico e ostensivamente
negativo, às vezes custa a surtir
efeito. Como pedra que cai no lago, dizem os marqueteiros.
Confirma-se, no entanto, a previsão de que abater Lula é tarefa
mais difícil do que a anterior.
Com uma semana de hostilidades, Ciro entrou em rota descendente. Como costuma ocorrer
com candidatos menos conhecidos do eleitor, o "ruim" grudou
nele ainda mais rapidamente do
que havia grudado o "bom".
Curtida ao longo de quatro
campanhas, a imagem de Lula é,
para o bem e para o mal, mais
consolidada. Menos suscetível,
portanto, a operações-desmonte.
Exceto por semear o crescimento da rejeição a Serra, a derrubada de Ciro teve custo zero. Foi feita pela boca do próprio, tanto nos
episódios desenterrados do passado quanto nas novas contribuições oferecidas pelo candidato.
Contra Lula, a campanha tucana se viu obrigada a assumir um
ataque de cunho preconceituoso e
hierarquizante, na tentativa de
caracterizar o adversário como
despreparado para governar.
Ainda que pesquisas indiquem
ser esse um ponto vulnerável do
petista, tudo leva a crer que não
foi boa idéia cobrar-lhe um diploma universitário com todas as letras no horário eleitoral gratuito.
Confiantes por dever de ofício,
assessores de Serra cuidaram de
espalhar que o programa levado
ao ar na terça-feira passada foi
"superbem nas qualitativas".
No máximo concederam que o
quadro do diploma despertou
reações negativas em eleitores das
classes A e B, movidos, avalia a
marquetagem, por condescendência para com o petista.
Talvez. Mas a um redator mais
sutil teria ocorrido que a cobrança explícita de curso superior pode soar ofensiva a um eleitorado
que majoritariamente não o tem.
Não deve ter sido à toa que Serra contradisse a própria propaganda no dia seguinte, opinando
que para ser presidente é preciso
ter "preparo", não necessariamente diploma. E que também
FHC, mais titulado do que seu
candidato, veio a público dizer
que canudo não é fundamental.
Pedra no sapato de candidatos,
a taxa de rejeição pode se modificar no decorrer de uma campanha e na sucessão de eleições.
Em 1989, a de Lula foi alimentada pelo medo da mudança
brusca. Em português claro, da
"baderna". Em 1994, baseou-se
na idéia de ameaça ao Real.
Passados oito anos e o consequente desgaste da administração tucana, é possível que alguns
dos fatores históricos de rejeição
ao PT e a seu candidato façam
menos sentido para a nova freguesia do mercado eleitoral.
Quanto a Serra, é preciso mais
tempo para determinar as consequências de sua rejeição. Se ela
vier apenas ou principalmente do
eleitorado de Lula, significará
mais polarização do que teto. Se
vier de todos os lados, pode limitar seriamente as chances do tucano na hipótese de segundo turno com sua participação.
É sintomático que, após a artilharia exibida na terça e na quinta, o programa de Serra tenha sido todo "paz e amor" na noite de
sábado. Houve mão da Justiça Eleitoral, é verdade, mas, se certeza houvesse, sempre se poderia tirar outro ataque da gaveta.
A repórter RENATA LO PRETE escreve
às segundas-feiras nesta coluna.
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