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Encontro enfoca conexão entre
avanço científico e humanidades
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU
A necessidade de aproximar a
discussão entre avanços científicos e as humanidades e também a
de abandonar os enfoques nacionalistas em detrimento de uma visão mais global dos problemas
definem o momento das ciências
sociais hoje, na opinião do antropólogo Roque de Barros Laraia,
presidente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais) e
professor da UnB (Universidade
de Brasília).
Laraia apresenta hoje, em Caxambu, no 26º encontro anual da
associação, uma conferência em
que avalia os 25 anos de atividade
da Anpocs e faz um balanço dos
principais desafios das ciências
sociais no Brasil hoje.
O evento, que começou oficialmente ontem na cidade mineira, a
poucos dias do segundo turno do
pleito presidencial, ainda deixa
transparecer de forma tímida o
clima de eleições. Um telão deve
ser colocado num dos salões do
hotel Glória, que sedia o encontro, para que os participantes possam assistir ao debate entre os
presidenciáveis, no dia 25. Durante as inscrições, estudantes e palestrantes podiam ser vistos com
camisetas e estrelas do PT.
Laraia, porém, acredita que o
processo eleitoral não deve marcar o evento. "A Anpocs prima
por ser uma reunião científica, e é
justamente por isso que ela consegue acontecer no intervalo de dois
turnos. Chegamos a pensar que
não seria bom realizá-la com os
ânimos políticos exaltados, mas
cientistas sociais estão acostumados com a diversidade."
O tema "Eleições 2002 e cenários pós-eleitorais" será tratado
na primeira mesa-redonda do
evento, hoje, com coordenação de
Maria D'Alva Gil Kinzo (USP) e
participação de Luiz Werneck
Vianna e Wanderley Guilherme
dos Santos (Iuperj) e Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo (Unicamp).
Laraia acredita que a abordagem de temas atuais deve ganhar
cada vez mais espaço. "Estamos
enfrentando novas realidades. No
ano passado, montamos uma mesa correndo para abordar os ataques de 11 de setembro, neste ano
há uma sobre a crise da Argentina. Este compromisso com questões de hoje tem aumentado devido a um processo de internacionalização das preocupações."
O presidente da Anpocs chama
a atenção para o fato de o nacionalismo ter se tornado um ponto
de vista obsoleto. "No final do século 19 e começo do 20, quando
ocorreram as grandes exposições
[como a de Paris em 1900", a preocupação era exaltar a grandeza
dos países. Já na virada do 20 para
o 21, as grandes conferências organizadas pela ONU nos dão a
chave para entender que não se
trata mais de falar de nacionalismo, mas de discutir problemas
globais da humanidade, como direitos humanos, ambiente."
Quanto ao debate científico, Laraia acredita que o tema tem de
ser trazido para o âmbito da sociologia, da cultura e da política.
"Os avanços da biotecnologia e da
genética precisam ser aproximados de seu impacto social. Muitas
vezes a própria imprensa faz uma
abordagem excessivamente biológica ou dá demasiado peso aos
receios que estes avanços trazem,
como na clonagem, enquanto se
menospreza outros aspectos."
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