São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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Encontro enfoca conexão entre avanço científico e humanidades

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU

A necessidade de aproximar a discussão entre avanços científicos e as humanidades e também a de abandonar os enfoques nacionalistas em detrimento de uma visão mais global dos problemas definem o momento das ciências sociais hoje, na opinião do antropólogo Roque de Barros Laraia, presidente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e professor da UnB (Universidade de Brasília).
Laraia apresenta hoje, em Caxambu, no 26º encontro anual da associação, uma conferência em que avalia os 25 anos de atividade da Anpocs e faz um balanço dos principais desafios das ciências sociais no Brasil hoje.
O evento, que começou oficialmente ontem na cidade mineira, a poucos dias do segundo turno do pleito presidencial, ainda deixa transparecer de forma tímida o clima de eleições. Um telão deve ser colocado num dos salões do hotel Glória, que sedia o encontro, para que os participantes possam assistir ao debate entre os presidenciáveis, no dia 25. Durante as inscrições, estudantes e palestrantes podiam ser vistos com camisetas e estrelas do PT.
Laraia, porém, acredita que o processo eleitoral não deve marcar o evento. "A Anpocs prima por ser uma reunião científica, e é justamente por isso que ela consegue acontecer no intervalo de dois turnos. Chegamos a pensar que não seria bom realizá-la com os ânimos políticos exaltados, mas cientistas sociais estão acostumados com a diversidade."
O tema "Eleições 2002 e cenários pós-eleitorais" será tratado na primeira mesa-redonda do evento, hoje, com coordenação de Maria D'Alva Gil Kinzo (USP) e participação de Luiz Werneck Vianna e Wanderley Guilherme dos Santos (Iuperj) e Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo (Unicamp).
Laraia acredita que a abordagem de temas atuais deve ganhar cada vez mais espaço. "Estamos enfrentando novas realidades. No ano passado, montamos uma mesa correndo para abordar os ataques de 11 de setembro, neste ano há uma sobre a crise da Argentina. Este compromisso com questões de hoje tem aumentado devido a um processo de internacionalização das preocupações."
O presidente da Anpocs chama a atenção para o fato de o nacionalismo ter se tornado um ponto de vista obsoleto. "No final do século 19 e começo do 20, quando ocorreram as grandes exposições [como a de Paris em 1900", a preocupação era exaltar a grandeza dos países. Já na virada do 20 para o 21, as grandes conferências organizadas pela ONU nos dão a chave para entender que não se trata mais de falar de nacionalismo, mas de discutir problemas globais da humanidade, como direitos humanos, ambiente."
Quanto ao debate científico, Laraia acredita que o tema tem de ser trazido para o âmbito da sociologia, da cultura e da política. "Os avanços da biotecnologia e da genética precisam ser aproximados de seu impacto social. Muitas vezes a própria imprensa faz uma abordagem excessivamente biológica ou dá demasiado peso aos receios que estes avanços trazem, como na clonagem, enquanto se menospreza outros aspectos."


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