|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLCLORE POLÍTICO
No limiar de um novo tempo
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
Frequentei este espaço nos últimos dois meses. Puxei pela
memória pinçando, ao acaso, episódios esparsos do processo político brasileiro. Desde a campanha
eleitoral, em Minas Gerais, que levou o Milton Campos ao governo
(desde, portanto, meus 16/17
anos), tenho participação política
ativa. Pintando a rua com cal
roubada de uma obra em Belo
Horizonte, distribuindo panfletos
na porta de igrejas ou subscritando envelopes com cédulas eleitorais. E, depois, participando de
conselhos das campanhas majoritárias ou sendo eu próprio candidato. São mais de 50 anos de janela. Nesse caleidoscópio particular fui reconstituindo a vida pública brasileira da mistura com a
minha própria. Reconstituí a posse de Milton Campos a resistir, sereno, a tentativa de um botim
partidário do seu governo que começou e terminou com o mesmo
secretariado -pluripartidário,
mas constituído, sem exceção, por
nomes de sua escolha e confiança.
Relembrei a sua saída do governo, passando o cargo ao Juscelino
Kubitschek, com um discurso
mordaz, mas elegante, em que recorda as origens políticas de seus
sucessos -prefeito nomeado no
Estado Novo e exalta as virtudes
do mandato político com fundamento no voto popular, celebrando a alternância no poder com
fundamento de democracia.
Passo a passo, desde 1950
-quando votei para presidente
pela primeira vez- até agora,
com voto eletrônico, a paixão política temperada, a emoção cívica
abafada pelos marqueteiros de
plantão, estou no limiar de assistir e testemunhar a primeira vitória, direta e sem rodeios, de um
partido de esquerda elegendo um
candidato próprio, de origem popular, forjado na luta social, um
ex-retirante nordestino.
Fecho estas reminiscências assinalando este momento único da
história brasileira -a tomada do
poder político pelo voto popular
de um partido de esquerda que se
manteve na oposição desde a sua
fundação, guardando a sua identidade intacta e vindo a se constituir, no final, num instrumento
de esperança da maioria no anseio por mudança que sacode o
país. Eleitor de Serra, desejo ao
PT e aos seus eleitores toda felicidade do mundo nesta hora verdadeiramente revolucionária em
que ingressa o país por força, inclusive, de uma reação coletiva
aos ideólogos de verdade única, e
do fim da história.
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES,
71, ex-governador da Guanabara e
ex-ministro da Previdência do governo
Sarney, escreve às quartas nesta seção
Texto Anterior: Colar ou Descolar Próximo Texto: Segundo Turno: Garotinho culpa PT por discurso do medo Índice
|