|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGUNDO TURNO
Ex-presidenciável diz que Lula assume posições contraditórias, mas considera que Serra "passou da dose" com ataques
Garotinho culpa PT por discurso do medo
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-governador do Rio e candidato derrotado a presidente,
Anthony Garotinho (PSB), 42,
culpou ontem o próprio PT pelo
discurso do medo adotado pelo
tucano José Serra (PSDB) contra
Lula (PT) neste segundo turno.
Em entrevista à Folha, Garotinho disse que, dependendo do
problema, Lula assume posições
contraditórias que, segundo ele,
confundem o eleitor. "Por exemplo, o Lula diz que vai aumentar o
gasto social e, ao mesmo tempo,
vai manter o superávit primário.
Isso é o mesmo que dizer que eu
vou tomar banho de mar sem me
molhar. É impossível", afirmou.
Segundo Garotinho, Serra se
aproveitou dessa contradição de
Lula, mas "passou da dose". "Deixou de ser exploração da contradição, para ser exploração do medo. É uma tentativa desesperada
de inverter o quadro eleitoral."
O ex-governador continua
mostrando que anda inquieto
com o apoio a Lula -decisão formalizada pela cúpula do PSB no
último dia 10. Apesar de se dizer
eleitor de Lula, acentua suas diferenças com o PT até quando fala
no episódio da atriz Regina Duarte, criticada por declarar ter medo
de um governo Lula.
"O que eu acho engraçado é que
o PT exerce um certo patrulhamento ideológico, inconcebível
num regime democrático. Por
exemplo, a atriz Paloma Duarte
era uma das que vestiu a camisa
do "Rosinha Não" [movimento
contrário à candidatura da governadora eleita do Rio e mulher de
Garotinho, Rosinha Matheus, do
PSB]. Ela pode fazer campanha
pelo "Rosinha Não", mas não querem que a Regina Duarte faça a
campanha do "Lula Não'? Deve
haver coerência das pessoas."
Para ele, o posicionamento do
PT tem posto o partido em xeque
com o eleitor. "Lula vai no Tocantins, critica o [governador] Siqueira Campos [PFL], dizendo
que é uma oligarquia insuportável. Mas vai no Maranhão e elogia
[José] Sarney [PMDB]. Então, dá
a impressão de que oligarquia boa
é a que está do lado do PT."
Sem cargo
Garotinho criticou a campanha
de Lula no segundo turno, que,
para ele, foi "superficial" e não se
"aprofundou nos temas nacionais". Disse ainda que não aceitará nenhum cargo num governo petista e que defenderá que o PSB
faça uma "oposição propositiva".
"Acho que não devemos participar do governo [de Lula]. Tudo
que ele mandar de bom para o
Brasil, vamos votar a favor. Agora, tudo o que contrariar os interesses do projeto nacional que defendemos, vamos votar contra."
Os socialistas estão divididos
sobre a participação num governo petista. Os históricos do partido, como o governador reeleito
de Alagoas, Ronaldo Lessa, defendem a imediata adesão, mas os
neo-socialistas, liderados por Garotinho, preferem a neutralidade.
"Se a minha posição for derrotada e o partido decidir participar
do governo, quero adiantar desde
já que não ocuparei nenhum cargo. O PSB tem um projeto para o
Brasil. Nós não estamos atrás de
boquinha de governo nenhum."
A independência do PSB em relação a um governo Lula atenderia melhor ao projeto pessoal de
Garotinho: o de ser candidato à
Presidência em 2006. Ele pretende
percorrer o país para estruturar o
PSB para as eleições municipais
de 2004, como presidente da Fundação João Mangabeira.
"Minha candidatura à Presidência em 2006 é consequência da estruturação do PSB. Vamos lançar
candidatos a prefeito em todas as
capitais e, pelo menos, nas 200 cidades mais importantes do país."
Texto Anterior: Folclore Político - Raphael de Almeida Magalhães: No limiar de um novo tempo Próximo Texto: Lula critica uso da crise argentina em propaganda de Serra Índice
|