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Lula estuda nome "auto-explicável" na pasta da Fazenda
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Luiz Inácio Lula da Silva pode
não ter escolhido ainda o ministro
da Fazenda de seu eventual governo, mas já tem para ele uma definição clara: será um nome "auto-explicável". Traduzindo: o nome
por si só dirá tudo sobre o ministro, sem que jornais e especialistas
precisem revirar arquivos e baús
ou consultar os amigos do indicado para saber o que esperar dele.
Ao ser "auto-explicável", o nome tampouco causará surpresas,
a não ser, talvez, pelo fato de que
muito possivelmente não será do
PT. A cinco dias da votação, a lista
de possíveis ministros está reduzida a no máximo seis nomes. É
possível que a escolha já esteja feita, mas, até onde a Folha conseguiu apurar, não é comentada
nem mesmo entre o estado-maior
de sua campanha.
São justamente os quatro integrantes do estado-maior que estão incumbidos de fazer a checagem de nomes para o ministério
(não apenas para a Fazenda e
Banco Central). O comando petista é formado, além de Lula, por
José Dirceu, presidente do PT,
Antônio Palocci, prefeito licenciado de Ribeirão Preto e coordenador do programa de governo,
Luiz Dulci, secretário-geral do
partido, e Luiz Gushiken, ex-deputado e braço direito de Dirceu.
A eles ocasionalmente se somam outros cardeais do partido,
como o senador eleito Aloizio
Mercadante, a prefeita Marta Suplicy e o economista Guido Mantega, sem falar no vice, o senador
José Alencar (PL-MG), único não-petista no núcleo da campanha.
O perfil do ministro da Fazenda
terá que ser combinado também
com o do presidente do Banco
Central, já que o PT, como é óbvio, não pretende correr o risco de
que um desentendimento entre
eles, no início do governo, gere
mais turbulência. No caso do BC,
a idéia que orienta a escolha é de
puro sentido comum: "De jeito
nenhum, vamos indicar alguém
que vá aprender fazendo", ouviu
a Folha no QG do partido.
Significa dizer que será alguém
que saiba muito bem como apertar os botões de resposta aos mercados. Mas Lula tem dito a seus
próximos que mercado não se resume ao câmbio; inclui também
indústria, comércio, turismo e demais atividades produtivas. É
uma pista adicional para indicar
que o PT poderá escolher algum
empresário para a Fazenda.
Já para o BC, o perfil buscado é
mais o de operador, pela seguinte
lógica: o ministro da Fazenda trabalha com políticas econômicas,
o que significa que pode, eventualmente, tomar dois ou três dias
para decidir um dado assunto.
Já o presidente do BC opera sob
pressão permanente e tem que
agir no ato. Das conversas de Lula, quando se dispõe a analisar nomes de economistas, seus pontos
fortes e suas deficiências, parece
possível concluir que nem Delfim
Netto (PPB-SP), uma das mais recentes incorporações ao "lulismo", nem Aloizio Mercadante
(PT) terão vaga no ministério.
O próprio Mercadante tem
ponderado que é complicado eleger-se senador e, no ato de posse,
já se licenciar. Ajuda muito a hipótese de Mercadante ficar no Senado o fato de que Lula tem chamado a atenção de seus companheiros para a necessidade de ter
fortes lideranças do PT e do governo nas duas Casas legislativas.
Os dois líderes do governo terão
status de ministros. Logo, Mercadante pode continuar senador,
tornar-se líder no Senado e, como
tal, equiparar-se aos ministros.
Já Delfim Netto está destinado
ao Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, o mecanismo
consultivo que o PT vai criar e para o qual serão chamadas personalidades dos mais diferentes
partidos e setores.
A intenção de Lula continua
sendo a de não anunciar os nomes
do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central antes
dos demais componentes da
equipe. Não quer passar a sensação de que a equipe econômica
será a mais forte no seu governo.
Além disso, quer equiparar Planejamento e Fazenda.
Mas, se a pressão dos fatos exigir que se anuncie mais depressa o
ministro da Fazenda e o presidente do BC, Lula divulgará no mesmo momento também sua equipe
política (ministro da Justiça, secretário-geral da Presidência,
chefe do Gabinete Civil). O recado
implícito seria: no governo do PT,
a política é que comanda a economia, não o contrário.
O time político
Para a equipe política, os indicados, ao que tudo indica, serão
exatamente os nomes que já compõem o estado-maior de Lula:
Dirceu, Palocci, Dulci e Gushiken
(embora problemas de saúde possam fazer com que este permaneça em São Paulo, cuidando mais
do partido). Além deles, Gilberto
Carvalho, que hoje cuida da agenda de Lula na campanha, é outro
nome virtualmente certo.
Antes de qualquer ministro, no
entanto, Lula anunciará, na segunda-feira, dia 28, os coordenadores de sua equipe de transição.
Mas avisa desde já: a equipe de
transição não é necessariamente a
equipe de governo.
Lula não tem intenção de fazer o
pronunciamento da vitória no
próprio domingo. No máximo
-e dependendo da rapidez da
apuração-, fará uma saudação
protocolar e emocional, agradecendo os votos. Na segunda-feira,
sim, fará o discurso de conteúdo
político-administrativo. Na terça-feira ou no máximo na quarta, vai
a Brasília conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o qual acertará os detalhes centrais da transição.
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