São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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Lula estuda nome "auto-explicável" na pasta da Fazenda

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Luiz Inácio Lula da Silva pode não ter escolhido ainda o ministro da Fazenda de seu eventual governo, mas já tem para ele uma definição clara: será um nome "auto-explicável". Traduzindo: o nome por si só dirá tudo sobre o ministro, sem que jornais e especialistas precisem revirar arquivos e baús ou consultar os amigos do indicado para saber o que esperar dele.
Ao ser "auto-explicável", o nome tampouco causará surpresas, a não ser, talvez, pelo fato de que muito possivelmente não será do PT. A cinco dias da votação, a lista de possíveis ministros está reduzida a no máximo seis nomes. É possível que a escolha já esteja feita, mas, até onde a Folha conseguiu apurar, não é comentada nem mesmo entre o estado-maior de sua campanha.
São justamente os quatro integrantes do estado-maior que estão incumbidos de fazer a checagem de nomes para o ministério (não apenas para a Fazenda e Banco Central). O comando petista é formado, além de Lula, por José Dirceu, presidente do PT, Antônio Palocci, prefeito licenciado de Ribeirão Preto e coordenador do programa de governo, Luiz Dulci, secretário-geral do partido, e Luiz Gushiken, ex-deputado e braço direito de Dirceu.
A eles ocasionalmente se somam outros cardeais do partido, como o senador eleito Aloizio Mercadante, a prefeita Marta Suplicy e o economista Guido Mantega, sem falar no vice, o senador José Alencar (PL-MG), único não-petista no núcleo da campanha.
O perfil do ministro da Fazenda terá que ser combinado também com o do presidente do Banco Central, já que o PT, como é óbvio, não pretende correr o risco de que um desentendimento entre eles, no início do governo, gere mais turbulência. No caso do BC, a idéia que orienta a escolha é de puro sentido comum: "De jeito nenhum, vamos indicar alguém que vá aprender fazendo", ouviu a Folha no QG do partido.
Significa dizer que será alguém que saiba muito bem como apertar os botões de resposta aos mercados. Mas Lula tem dito a seus próximos que mercado não se resume ao câmbio; inclui também indústria, comércio, turismo e demais atividades produtivas. É uma pista adicional para indicar que o PT poderá escolher algum empresário para a Fazenda.
Já para o BC, o perfil buscado é mais o de operador, pela seguinte lógica: o ministro da Fazenda trabalha com políticas econômicas, o que significa que pode, eventualmente, tomar dois ou três dias para decidir um dado assunto.
Já o presidente do BC opera sob pressão permanente e tem que agir no ato. Das conversas de Lula, quando se dispõe a analisar nomes de economistas, seus pontos fortes e suas deficiências, parece possível concluir que nem Delfim Netto (PPB-SP), uma das mais recentes incorporações ao "lulismo", nem Aloizio Mercadante (PT) terão vaga no ministério.
O próprio Mercadante tem ponderado que é complicado eleger-se senador e, no ato de posse, já se licenciar. Ajuda muito a hipótese de Mercadante ficar no Senado o fato de que Lula tem chamado a atenção de seus companheiros para a necessidade de ter fortes lideranças do PT e do governo nas duas Casas legislativas. Os dois líderes do governo terão status de ministros. Logo, Mercadante pode continuar senador, tornar-se líder no Senado e, como tal, equiparar-se aos ministros.
Já Delfim Netto está destinado ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o mecanismo consultivo que o PT vai criar e para o qual serão chamadas personalidades dos mais diferentes partidos e setores.
A intenção de Lula continua sendo a de não anunciar os nomes do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central antes dos demais componentes da equipe. Não quer passar a sensação de que a equipe econômica será a mais forte no seu governo. Além disso, quer equiparar Planejamento e Fazenda.
Mas, se a pressão dos fatos exigir que se anuncie mais depressa o ministro da Fazenda e o presidente do BC, Lula divulgará no mesmo momento também sua equipe política (ministro da Justiça, secretário-geral da Presidência, chefe do Gabinete Civil). O recado implícito seria: no governo do PT, a política é que comanda a economia, não o contrário.

O time político
Para a equipe política, os indicados, ao que tudo indica, serão exatamente os nomes que já compõem o estado-maior de Lula: Dirceu, Palocci, Dulci e Gushiken (embora problemas de saúde possam fazer com que este permaneça em São Paulo, cuidando mais do partido). Além deles, Gilberto Carvalho, que hoje cuida da agenda de Lula na campanha, é outro nome virtualmente certo.
Antes de qualquer ministro, no entanto, Lula anunciará, na segunda-feira, dia 28, os coordenadores de sua equipe de transição. Mas avisa desde já: a equipe de transição não é necessariamente a equipe de governo.
Lula não tem intenção de fazer o pronunciamento da vitória no próprio domingo. No máximo -e dependendo da rapidez da apuração-, fará uma saudação protocolar e emocional, agradecendo os votos. Na segunda-feira, sim, fará o discurso de conteúdo político-administrativo. Na terça-feira ou no máximo na quarta, vai a Brasília conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o qual acertará os detalhes centrais da transição.



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