São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO TUCANA

Presidente do PSDB, que teve dívida de R$ 700 mil paga com cheque de Valério, disse que devolveu dinheiro com ajuda de Walfrido Mares Guia

Ministro confirma versão de Azeredo sobre empréstimo

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos coordenadores da campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998, o ministro Walfrido Mares Guia (Turismo) confirmou ontem que, em 2002, fez um empréstimo para pagar uma dívida de Azeredo com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como "operador do mensalão".
A versão do empréstimo, no valor de R$ 500 mil, foi dada pelo próprio Azeredo, depois que a revista "IstoÉ" revelou que uma dívida de R$ 700 mil do tucano com Cláudio Mourão, que havia sido seu tesoureiro de campanha em 1998, foi paga por Valério.
Segundo Azeredo, hoje senador e presidente nacional do PSDB, o dinheiro foi devolvido a Valério após a concretização do empréstimo. O financiamento foi feito no Banco Rural e avalizado pelo próprio Azeredo, segundo o tucano e Mares Guia.
Além de ser investigado por ter operado caixa dois para campanhas do PT nos últimos anos, Valério também é suspeito de ter ocupado o mesmo papel em campanhas tucanas em Minas Gerais.
Walfrido disse ontem à Folha que somente tomou conhecimento da dívida de Azeredo com Mourão. Ele afirmou não ter sido informado sobre a participação de Valério na negociação.
"Foi aí [com a contração da dívida] que ele [Azeredo] me pediu pra fazer o financiamento para ele de R$ 500 mil no Banco Rural. Eu, como tenho uma empresa, fiz o financiamento de R$ 500 mil com o aval dele [Azeredo]. E depois, com a posse dos R$ 500 mil, ele pagou o pessoal", afirmou o ministro.
Questionado se teria feito o pagamento diretamente ao empresário Marcos Valério, o ministro negou: "Eu não me envolvi com nada disso. A única coisa que eu fiz foi tirar R$ 500 mil, porque eu sou amigo dele, o Eduardo [Azeredo] é um homem de bem. Na dificuldade que ele estava, ele me pediu uma ajuda".
E completou: "Ele [Azeredo] me falou que tinha uma dívida com o Cláudio Mourão, que ele estava cobrando dele um dinheiro." Sobre a participação de Valério, voltou a dizer: "Eu nem sabia disso. Eu não me envolvi com isso. Eu fiz uma ação com o Eduardo Azeredo".
Azeredo nega envolvimento direto com Marcos Valério. Diz que a atuação do empresário em sua campanha de 1998 foi combinada, sem o seu conhecimento, com o seu então tesoureiro, Cláudio Mourão.
O relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), descartou a atuação da comissão na investigação do caso. "Ele [Azeredo] não é personagem em nenhum dos dois fatos [de criação da CPI]", disse, numa referência às suspeitas sobre compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, em 1997, e de parlamentares pelo PT para aprovar projetos de interesse do governo no Congresso entre 2003 e 2004.
"Nós temos de aprofundar as nossas investigações dentro da matéria definida e dentro do espaço declarado da CPI. Na nossa comissão, está fora, não cabe dentro de nossas atribuições", disse o relator.

Apoio tucano
Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), as novas acusações contra o presidente do seu partido não alteram o quadro atual. "Não muda nada, são relações privadas entre eles, não há ilegalidade nenhuma. É que, em qualquer matéria em que o nome do Marcos Valério aparece, já surge especulação."
Para o tucano, o episódio confirma a versão de Azeredo de que as finanças de sua campanha estavam exclusivamente sob controle do tesoureiro.
"Não há nenhuma novidade até [nas novas acusações], não contradiz o que o Azeredo havia dito antes. Do contrário, confirma que o Cláudio Mourão assumiu um compromisso e depois jogou nas costas do Azeredo. O tesoureiro, está na cara, extrapolou suas atribuições", disse Goldman.


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