São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Nova direção deve aprovar diretriz que abre caminho para coligação com partidos envolvidos no "mensalão" para reeleger Lula

PT pode manter alianças com PL, PTB e PP

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova direção do PT está disposta a aprovar, como um de seus primeiros atos, uma diretriz que abre caminho para a coligação com os protagonistas do escândalo do "mensalão" -PL, PTB e PP- para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A proposta deve ser discutida em encontro nacional do partido, no início de dezembro, que dará a largada para o planejamento eleitoral do PT. A medida pode gerar o primeiro grande embate entre o Campo Majoritário e as alas radicais, que querem uma mudança completa na política de alianças.
O Campo Majoritário apresentará a tese para o encontro, que deve ocorrer entre 2 e 4 de dezembro, em São Paulo. O texto diz: "O fator orientador da política de alianças para 2006 deverá consistir na criação das condições necessárias para garantir a reeleição do presidente Lula".
"Sou um aliancista. Nós não vamos ser contraditórios e procurar aliados entre os que não estão na base de sustentação do governo", diz o presidente do PT, Ricardo Berzoini, ao explicar a tentativa de revitalizar a atual base aliada.
A política de alianças é um dos temas que mais dividem o PT. Muitos apontam a relação com partidos considerados fisiológicos como a raiz da crise política.

Condução errada
Berzoini discorda da avaliação e diz que a aliança com o centro-direita não pode ser culpada. "As alianças não são a causa da crise, elas foram corretas. A condução política é que pode ter sido errada em alguns momentos", diz.
O sonho do PT é ter o PMDB como aliado principal em 2006, mas se sabe, internamente, que isso é improvável, já que o partido deve ter candidato próprio. Restam os aliados tradicionais de esquerda como PSB e PC do B, os três partidos no centro do "mensalão" e o PMR, de José Alencar.
"Sou a favor sempre, sempre, sempre, de ampliar alianças. Sou um aliancista por natureza. Não tenho preconceito", diz Francisco Rocha, um dos coordenadores do Campo Majoritário.
Aprovar a diretriz vai exigir do Campo negociação com outras alas. Atrair o Movimento PT, corrente moderada que também se define como "aliancista", deve ser o suficiente para conseguir maioria interna. "Precisamos de uma aliança para ganhar e para governar. Deve ser derivada da base que existe hoje", diz Romênio Pereira, um dos líderes da corrente.

"Explosão"
É o tipo de conversa que horroriza os radicais. Raul Pont, que disputou o segundo turno da eleição petista e deve ser o novo secretário-geral do partido, alerta para o risco de uma "explosão".
"Não podemos manter o leque de alianças que hoje sustenta o governo. Essas alianças nos esgarçam, nos tensionam. Não aceitamos o centro-direita. Se for tentar repetir o que se fez até aqui o partido explode", diz Pont.
Segundo ele, o PT não pode ignorar o fato de que foi a relação com tais aliados que jogou o governo na atual crise. "Quero ver alguém ter a coragem de defender a entrada do PTB na coligação depois de tudo o que aconteceu", declara. O problema é que a oposição ao Campo Majoritário, apesar de ter crescido um pouco na renovação do Diretório Nacional, responde por apenas 45% dele.
Uma possível saída seria a aprovação de uma resolução que definisse um núcleo formado pela esquerda e deixasse a adesão das legendas de direita em aberto.


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