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ROBERTO REQUIÃO
Governador condena privatizações do PSDB e sinaliza apoio a Lula
Requião se diz vítima da imprensa e da incompreensão das cooperativas e acusa adversário de fazer campanha "nazista'
"Não podemos permitir que o Brasil seja uma reserva estratégica de ração para gado dos europeus", diz Requião sobre transgênicos
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARINGÁ
Candidato à reeleição, o governador licenciado do Paraná,
Roberto Requião (PMDB), 65,
acenou uma reaproximação,
nesta reta final do segundo turno, com o governo Lula, de
quem disse ter tido "algumas
decepções" e de quem foi crítico nos últimos dois anos.
Ele atacou o tucano Geraldo
Alckmin, a quem atribuiu um
perfil "privatista", e chamou de
"nazista" a campanha de seu rival, Osmar Dias (PDT), antigo
aliado na política paranaense.
Requião disse ser vítima de
armações de setores da imprensa do Paraná. Crítico do
plantio de soja transgênica, culpou o "imediatismo" de lideranças cooperativistas (que
apóiam Osmar Dias) pelo que
chama de não-compreensão da
dimensão "geopolítica" de sua
luta pelo plantio de soja convencional. Leia trechos da entrevista concedida na sexta:
FOLHA - O sr. foi envolvido na história do policial civil Rasera e grampos telefônicos [Délcio Augusto Rasera estava lotado na Casa Civil e foi
preso sob acusação de chefiar quadrilha de arapongas]. Houve ainda o
pedido da quebra de sigilo telefônico de jornalistas que noticiaram o
caso. Como o sr. explica isso?
ROBERTO REQUIÃO - Não tenho
qualquer relação com o Rasera.
Houve má-fé da "Gazeta do Povo" [jornal paranaense] nessa
história. Os repórteres defendem o sigilo da fonte, mas é preciso chegar a essa fonte para se
mostrar que houve armação.
Não teve pedido de quebra de
sigilo de jornalista. Eu não tinha como saber, em campanha,
o que os advogados estavam fazendo. Mas essa história de me
ligar a grampos é armação.
FOLHA - O sr. entrou na disputa do
primeiro turno como virtual eleito,
mas haverá segundo turno. O que
houve de errado na campanha?
REQUIÃO - Tínhamos só dois
minutos e meio de TV. E teve
uma campanha da RPC [Rede
Paranaense de Comunicação,
afiliada da Globo] e "Gazeta do
Povo" [do mesmo grupo RPC]
contra meu governo. Sem contar que todos batiam no candidato majoritário. Neste segundo turno tudo mudou e estamos firmes de volta à liderança.
FOLHA - O senador Osmar Dias
[PDT] afirma que o sr. o procurou
seis vezes para pedir que ele não fosse candidato. Isso é verdade?
REQUIÃO - Não é verdade. Osmar estava doente e queria falar comigo. Fui até ele três vezes para conversar. Ele disse
que queria ser candidato em
2010 e que me apoiaria agora
com a condição de eu não
apoiar seu irmão, Alvaro [Dias,
reeleito senador pelo PSDB].
Mas até aí eu não sabia de sua
megafazenda no Tocantins.
Ele disse que tinha uma chácara lá. Ele não conseguiu explicar seu enriquecimento. Temos uma vida parecida, de classe média, e até cargos iguais.
Então, como explicar duas fazendas no Paraná e essa megafazenda no Tocantins?
FOLHA - Sobre o modelo agropecuário, o sr. é contra os transgênicos
e a favor do MST, e Osmar é favorável ao agronegócio exportador. O sr.
concorda com essa tese?
REQUIÃO - Eu não fui eleito pelas multinacionais. É bom frisar que o transgênico é permitido no Brasil. O que existe é uma
visão geopolítica. Não podemos
permitir que o Brasil seja uma
reserva estratégica de ração para gado dos europeus. Se o Brasil só plantar transgênicos, perderá competitividade logística
para os EUA. Precisamos ter
essa visão da geopolítica mundial. As cooperativas possuem
uma visão de curtíssimo prazo
e não pensam estrategicamente. Já o MST é um movimento
social, e não vou atacar movimentos sociais legítimos.
FOLHA - O sr. ficou em cima do muro no primeiro turno em relação à
Presidência. Vai se decidir agora?
REQUIÃO - Eu tive algumas decepções com o governo Lula.
Acredito que até o próprio Lula
teve. Neste segundo turno, o PT
está comigo, e o PMDB do Paraná, com Lula. Meu vice [Orlando Pessutti, do PMDB] sobe
no palanque do Lula. Já o Alckmin privatizou linhas de transmissão em São Paulo e não deixou a Copel participar do leilão
porque era uma estatal. Vejo isso como uma continuação privatista do que foi o governo
FHC. Vejo isso [privatizações]
como conseqüência necessária
do tipo de coligação que embala
o Alckmin. Mas logo irei me definir e anunciar minha posição.
FOLHA - A campanha abalou sua
amizade com Osmar Dias?
REQUIÃO - Não dá para negar
isso. Meu adversário faz uma
campanha nazista, repetindo
mil vezes um mentira. E tem a
história do seu vice, o Donin.
Uma chapa com o Donin como
vice não é uma chapa, é formação de quadrilha. E quem diz
formação de quadrilha não sou
eu, é o Ministério Público.
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