São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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OSMAR DIAS

Senador diz que faz oposição, mas tem diálogo com governo

Pedetista sustenta que governos anteriores deixaram 280 municípios do Paraná com IDH abaixo da média nacional

Osmar Dias defende seu vice, rebate acusações de enriquecimento ilícito e diz que pagou propriedade no Tocantins com seu dinheiro

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O candidato do PDT ao governo do Paraná, Osmar Dias, 54, critica governos anteriores dos quais fez parte -de Alvaro Dias (PSDB), seu irmão, do próprio rival, Roberto Requião (PMDB), e de quem o apóia agora, Jaime Lerner (ex-PFL, hoje PSB)- para justificar a necessidade de ampliação de programas assistencialistas. Osmar diz que as políticas públicas dos governadores dos últimos 20 anos fracassaram e que o estilo precisa mudar. Na gestão do irmão, o senador reeleito Alvaro Dias, ele foi presidente de uma empresa estadual de fomento. No primeiro governo Requião, foi secretário da Agricultura. Osmar diz que modernizou a agricultura do Paraná quando foi secretário de Requião, mas que não era o governador para colocar em prática programas sociais. Leia os principais trechos da entrevista:  

FOLHA - Seu rival diz que o sr. não tem programa de governo. Que marca pretende deixar, se vencer?
OSMAR DIAS
- Quem fala que não tenho projeto deixou o Estado sofrer uma queda de 3% na indústria em 12 meses. Proponho um projeto claro de desenvolvimento para a agricultura, a agroindústria e para atrair investimentos. O Estado tem que abrir o diálogo com os investidores, ser parceiro, e não espantar investidores.

FOLHA - Quanto vale hoje sua fazenda de 8.335 hectares em Formoso do Araguaia, no Tocantins, que o sr. declarou por R$ 2,5 milhões?
OSMAR
- Comprei por R$ 2,5 milhões, em 2003. Não sei, não fiz avaliação, mas é só pegar as áreas que estão sendo vendidas perto dela. Tem uma oferta de área de 25 mil alqueires, perto dela, por R$ 40 mil. Fiz um bom negócio, paguei com meu dinheiro, limpo.

FOLHA - Como o sr. pretende se relacionar com o MST, se eleito governador? Pelas terras que herdou e comprou, o sr. é um latifundiário.
OSMAR
- Depende do conceito. Para o Tocantins, a fazenda é uma propriedade média. Meu relacionamento com os movimentos sociais será de acordo com a Constituição e a lei e o que elas preceituam: propriedade improdutiva deve ser desapropriada; a que tem projeto em execução é produtiva e a que esteja produzindo não pode ser invadida.

FOLHA - O sr. diz que não sabia das ações por suspeita de improbidade administrativa e fraude em licitações que seu vice [ex-prefeito de Toledo Derli Donin] responde na Justiça e que pediu levantamento à assessoria jurídica. Pensa em trocá-lo?
OSMAR
- Não. Isso seria a atitude extrema. Os processos do vice foram impetrados por adversários políticos. Confio que todas as respostas dele serão positivas para a falta de fundamento das denúncias. São processos não julgados e que o candidato à reeleição [Requião] tem mais de 200 iguais.

FOLHA - Caso Lula se reeleja e o sr. se eleja, como será a relação com o presidente que não apoiou?
OSMAR
- Em janeiro de 2003, o [Leonel] Brizola avisou que estávamos nos afastando porque ele não concordava com a linha que o governo adotava. Então o PDT foi oposição do primeiro mês até hoje. Votamos matérias a favor quando achamos que era importante. Mas foi um partido de oposição. Nem por isso deixei de ter entendimento com o presidente. Fui chamado várias vezes para opinar sobre agricultura, ajudei a fazer o projeto do biodiesel. Pretendo enriquecer esse diálogo juntando a bancada do Estado.

FOLHA - Se eleito, pretende manter algum programa do atual governo?
OSMAR
- O de [isenção] de micro e pequenas empresas, vamos melhorar e ampliar faixas. Esses assistencialistas [de distribuição de leite para crianças e subsídio nas contas de luz e água a famílias pobres], vamos ampliar. Essa é a maior prova de que o Paraná precisa mudar o estilo de governo. De 1990 a 2006, lá se foram 16 anos, e só teve dois governadores [Lerner e Requião]. E esses dois governadores deixaram 280 municípios com IDH abaixo da média nacional. Todos os indicadores são piores que dos Estados vizinhos. Isso revela o fracasso das políticas públicas dos últimos governos. E, se voltarmos a 1986, serão três, em 20 anos: do Alvaro, do Lerner e do Requião.

Folha - O sr. integrou as equipes de Alvaro e Requião. É co-responsável...
OSMAR
- Não. Se você voltar no passado, vai ver que a agricultura do Paraná foi a mais moderna do país. Foi com ela que o Paraná pôde se manter até hoje. Os governos fracassaram com as políticas sociais. Fui um secretário da Agricultura, não um governador para colocar em prática projetos de educação, saneamento e segurança.

Folha - O sr. define Requião como um governante autoritário. Mas há quem aponte semelhança no perfil do senhor. O sr. é autoritário?
OSMAR
- De jeito nenhum, eu dialogo muito. A minha convivência com ele por oito anos no Senado fez com que eu aprendesse a fazer o contrário do que ele faz. Foi bom exemplo para que eu não seguisse. Eu não censuro jornalista.


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