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Frase de Lula é criticada pela CNBB e por oposicionistas
D. Dimas Barbosa diz que Cristo acolheu pecadores, mas não se aliou aos fariseus
Presidente do DEM afirma que Lula admite acordo até com o pior traidor; a base aliada diz que alianças com Collor e Sarney são naturais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
As declarações do presidente
Lula de que no Brasil até "Jesus
teria de chamar Judas para fazer coalizão" causaram reações
no Congresso e na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil). A frase, segundo a
oposição, revela que vale tudo
para conseguir a governabilidade, até a união com traidores.
Em entrevista à Folha, Lula
também disse que o futuro presidente, seja ele "xiita" ou o
"maior direitista", será obrigado a se aliar politicamente com
o PMDB e com partidos do
centro conservador.
"Estamos tão mal assim?",
brincou d. Dimas Lara Barbosa,
secretário-geral da CNBB
quando indagado sobre a menção do presidente a Judas. Ele
afirmou que Cristo acolheu,
sim, pecadores, mas não fez
alianças com fariseus, "pessoas
que parecem uma coisa por
dentro, mas por fora são outra". Após a declaração, ele disse que não se refere a nenhum
partido político específico.
Para o líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO), Lula "é tão arrogante
que se comparou a Cristo, e
disse que os aliados são Judas":
"Ou seja, a governabilidade não
tem preço. Compromisso com
o processo ético, moral e pragmático, ele não tem", declarou.
"É um governo pragmático
que, para garantir sua sustentação, faz aliança até com o pior
traidor", disse o presidente do
DEM, deputado Rodrigo Maia
(RJ). Ainda segundo ele, Lula
está disposto a se aliar com o
que há de "pior na política" para conseguir eleger Dilma
Rousseff ao Planalto em 2010.
A interpretação do tucano
José Aníbal (SP) é que Lula e o
seu governo não "estão mais
interessados em questionamentos democráticos".
Na entrevista, questionado
sobre o apoio ao presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante a crise na Casa,
Lula disse que o vice do peemedebista [o senador tucano Marconi Perillo] "não era uma pessoa que a gente possa dizer que
dá mais garantia ao Estado brasileiro do que o Sarney".
"Lula é risível. Sem guardar
mágoas, justifica o injustificável, atira em quem não lhe é
subserviente e faz de conta que
acredita no que diz. Recebo a
crítica como elogio, já que o
presidente Lula está acostumado a lidar com políticos cooptáveis", respondeu Perillo.
Base aliada
Do outro lado, na base aliada,
deputados e senadores classificaram a entrevista como "lúcida, franca e corajosa". Apesar
de negar que Lula tenha comparado partidos aliados a Judas, o líder do PT na Câmara,
deputado Cândido Vaccarezza
(SP), disse que "para fazer a
obra de Deus pode-se até aliar-se a Satanás": "Mas em vez de
discutir citações bíblicas, eles
[oposição] deveriam discutir a
situação do Brasil", disse.
Já o deputado José Genoino
(PT-SP) disse que Lula só usou
metáforas para mostrar que
"na democracia é preciso fazer
alianças para poder governar".
O deputado Mário Negromonte (BA), líder do governista
PP, também acredita que Lula
estava se referindo a requisitos
importantes da governabilidade, como a conversa, o diálogo,
sem a chamada "tratorada".
Na opinião do deputado, são
naturais as alianças feitas, por
exemplo, com o ex-presidente e
atual senador Fernando Collor
(PTB-AL), com Sarney e demais lideranças: "Quem errou
já pagou, ninguém pode ficar
pagando eternamente. O Collor, por exemplo, já foi absolvido pelo povo, que o elegeu".
O líder do PTB no Senado,
Gim Argello (DF), defendeu
Lula: "O parâmetro para o presidente do Brasil é o Lula. Ele é
popular, super bem avaliado e
sabe os problemas do povo. E
ele está resolvendo esses problemas. Eu sou PT. Sou Lula".
O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), reagiu com
ironia às declarações do presidente Lula. Questionado pelos
jornalistas sobre se Cristo seria
obrigado a fazer acordo com
Judas, o tucano afirmou: "Não
sei, quem fala com Cristo pode
perguntar a ele", disse.
Em seguida, reiterou que não
gostaria de comentar as declarações do presidente, mas completou: "A entrevista mostra
bem, de ponta a ponta, como é o
Lula, na forma e no conteúdo. É
muito importante".
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), aliado de
Serra, foi mais claro ao comentar o assunto. "O presidente
Lula quer justificar suas alianças. Nós não fazemos alianças a
qualquer custo", disse.
(MARIA CLARA CABRAL, ADRIANO CEOLIN, ANGELA PINHO e JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
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