São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Frase de Lula é criticada pela CNBB e por oposicionistas

D. Dimas Barbosa diz que Cristo acolheu pecadores, mas não se aliou aos fariseus

Presidente do DEM afirma que Lula admite acordo até com o pior traidor; a base aliada diz que alianças com Collor e Sarney são naturais


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

As declarações do presidente Lula de que no Brasil até "Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão" causaram reações no Congresso e na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A frase, segundo a oposição, revela que vale tudo para conseguir a governabilidade, até a união com traidores.
Em entrevista à Folha, Lula também disse que o futuro presidente, seja ele "xiita" ou o "maior direitista", será obrigado a se aliar politicamente com o PMDB e com partidos do centro conservador.
"Estamos tão mal assim?", brincou d. Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB quando indagado sobre a menção do presidente a Judas. Ele afirmou que Cristo acolheu, sim, pecadores, mas não fez alianças com fariseus, "pessoas que parecem uma coisa por dentro, mas por fora são outra". Após a declaração, ele disse que não se refere a nenhum partido político específico.
Para o líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO), Lula "é tão arrogante que se comparou a Cristo, e disse que os aliados são Judas": "Ou seja, a governabilidade não tem preço. Compromisso com o processo ético, moral e pragmático, ele não tem", declarou.
"É um governo pragmático que, para garantir sua sustentação, faz aliança até com o pior traidor", disse o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ainda segundo ele, Lula está disposto a se aliar com o que há de "pior na política" para conseguir eleger Dilma Rousseff ao Planalto em 2010.
A interpretação do tucano José Aníbal (SP) é que Lula e o seu governo não "estão mais interessados em questionamentos democráticos".
Na entrevista, questionado sobre o apoio ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante a crise na Casa, Lula disse que o vice do peemedebista [o senador tucano Marconi Perillo] "não era uma pessoa que a gente possa dizer que dá mais garantia ao Estado brasileiro do que o Sarney".
"Lula é risível. Sem guardar mágoas, justifica o injustificável, atira em quem não lhe é subserviente e faz de conta que acredita no que diz. Recebo a crítica como elogio, já que o presidente Lula está acostumado a lidar com políticos cooptáveis", respondeu Perillo.

Base aliada
Do outro lado, na base aliada, deputados e senadores classificaram a entrevista como "lúcida, franca e corajosa". Apesar de negar que Lula tenha comparado partidos aliados a Judas, o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), disse que "para fazer a obra de Deus pode-se até aliar-se a Satanás": "Mas em vez de discutir citações bíblicas, eles [oposição] deveriam discutir a situação do Brasil", disse.
Já o deputado José Genoino (PT-SP) disse que Lula só usou metáforas para mostrar que "na democracia é preciso fazer alianças para poder governar".
O deputado Mário Negromonte (BA), líder do governista PP, também acredita que Lula estava se referindo a requisitos importantes da governabilidade, como a conversa, o diálogo, sem a chamada "tratorada".
Na opinião do deputado, são naturais as alianças feitas, por exemplo, com o ex-presidente e atual senador Fernando Collor (PTB-AL), com Sarney e demais lideranças: "Quem errou já pagou, ninguém pode ficar pagando eternamente. O Collor, por exemplo, já foi absolvido pelo povo, que o elegeu".
O líder do PTB no Senado, Gim Argello (DF), defendeu Lula: "O parâmetro para o presidente do Brasil é o Lula. Ele é popular, super bem avaliado e sabe os problemas do povo. E ele está resolvendo esses problemas. Eu sou PT. Sou Lula".
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reagiu com ironia às declarações do presidente Lula. Questionado pelos jornalistas sobre se Cristo seria obrigado a fazer acordo com Judas, o tucano afirmou: "Não sei, quem fala com Cristo pode perguntar a ele", disse.
Em seguida, reiterou que não gostaria de comentar as declarações do presidente, mas completou: "A entrevista mostra bem, de ponta a ponta, como é o Lula, na forma e no conteúdo. É muito importante".
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), aliado de Serra, foi mais claro ao comentar o assunto. "O presidente Lula quer justificar suas alianças. Nós não fazemos alianças a qualquer custo", disse. (MARIA CLARA CABRAL, ADRIANO CEOLIN, ANGELA PINHO e JOSÉ ALBERTO BOMBIG)


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