São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2001

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CAÇA À RAPOSA

Petista vê "mercado a disputar" nas fileiras peemedebistas com eventual desistência de governador mineiro

Saída de Itamar ajuda muito o PT, diz Lula

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O provável candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que a eventual impossibilidade de Itamar Franco disputar o Planalto "ajudaria muito" o PT.
Nesta semana, a Executiva Nacional do PMDB, dominada por governistas, restringiu o universo da prévia presidencial do partido a 3.870 participantes.
Em um colégio eleitoral pequeno, as chances de Itamar vencer a disputa são escassas. Dessa forma, o partido tende a apoiar um candidato governista.
"Eu acredito que a decisão do PMDB, que é da Executiva, deixa claro que foi feita para dificultar a indicação do Itamar para uma candidatura [presidencial". Acho que, se o PMDB não tiver candidato a presidente da República, acredito que isso termina por ajudar muito o PT", declarou Lula, em entrevista na sede do diretório nacional petista, em São Paulo.
O petista disse que a eventualidade de Itamar ser impedido pelo PMDB de disputar a presidência evidenciaria a divisão na legenda.
Nesse caso, disse Lula, haveria um "mercado a disputar" nas fileiras peemedebistas. O próprio Itamar e outras figuras do partido, como o senador Roberto Requião (PR), já sinalizaram que pretendem apoiar o petista e não aderir ao candidato governista.
"Você sabe quem são os governistas do PMDB. Mas sabe também que tem uma quantidade enorme de gente no partido que não concorda com a vinculação ao governo", declarou o pré-candidato petista. "Eles poderão canalizar suas revoltas e seus votos para os partidos de oposição. Obviamente, o PT tem a disputar o mercado de votos que vai se apresentar se isso acontecer."
Lula disse que o presidente nacional da legenda, José Dirceu, tem sido um "peregrino" da união das oposições já no primeiro turno. "Mesmo que isso não seja possível, é preciso abrir uma estrada para uma aliança no segundo turno", disse Lula.
Para Dirceu, há uma "base social e eleitoral" do PMDB que não votará no candidato governista. "Essa base tende a votar na oposição. E nós somos o partido que tem mais proximidade com essa base, é só ir nos Estados e ver. E o Lula é a liderança que tem mais proximidade", afirmou.
O presidente petista ressalvou que, apesar de considerar o impedimento da candidatura Itamar eleitoralmente bom para o partido, é "ruim para a democracia".
"Para a democracia brasileira, é muito importante que existam várias candidaturas no primeiro turno. O PT não tem problema nenhum com relação a isso. É um direito dos partidos", declarou.
Bem-humorado, Dirceu afirmou que vai cobrar direitos autorais do governo por supostamente se apropriar de bandeiras do PT. Ele citou a atuação da delegação brasileira na reunião da Organização Mundial do Comércio, em Doha (Qatar) como exemplo.
Na reunião, o Brasil conseguiu mudar a lei de patentes de remédios -permitindo a quebra em casos de emergência na área de saúde- e obteve a promessa de maior acesso aos mercados de países desenvolvidos.
"No fundo, tem um pouco de PT no discurso do governo, é só ver. Foi lá em Doha e fez um discurso que é o nosso."
Dirceu também ironizou a declaração do governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que se comparou ao Afeganistão enquanto o ministro José Serra (Saúde) seria os EUA -ou seja, o presidenciável favorito de FHC. "Quem entende de terrorismo são eles. Nós entendemos de paz."


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