São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Presidente deu declaração de apoio a Palocci em Luziânia, no interior de Goiás, onde participou de evento com trabalhadores rurais

Lula diz que ministro está "firme" no cargo

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A LUZIÂNIA

Mesmo diante das ameaças de Antonio Palocci de deixar o cargo por conta de seu enfraquecimento no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o ministro da Fazenda está "mais firme do do que nunca".
A declaração foi dada em Luziânia (GO), onde Lula participou de evento com trabalhadores rurais. Debaixo de chuva, no trajeto entre o salão de eventos e os carros da comitiva presidencial, Lula foi questionado por jornalistas se Palocci continua no governo.
"Ele [Palocci] está mais firme do que nunca", respondeu o presidente. Sorridente ao cumprimentar os jornalistas, Lula adotou um semblante sério ao responder, com aparente convicção, sobre a situação de Palocci, que, um dia antes, havia lhe dito que poderia deixar a pasta caso não tivesse suas reivindicações atendidas.
A seguir, já em frente do veículo presidencial e cercado por seguranças e assessores, Lula gesticulou negativamente com a cabeça ao ser indagado se realmente Palocci não sairá do governo no momento em que sofre pressões para mudar a política econômica e responde a denúncias de corrupção.

"Capeta"
Em Luziânia, município do entorno de Brasília, o presidente participou de congresso da Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Brasil). Logo no início do evento, depois de ter seu nome gritado por cerca de 2.000 pessoas, Lula acompanhou uma apresentação teatral na qual o tema era o confronto do "bem" contra o "mal".
A atriz que simbolizava o "capitalismo" e a "concentração de terra" estava vestida de "capeta". Ao deixar o evento, o presidente gargalhou ao ser questionado, por duas vezes, se o "capeta" estava atacando o Palocci.
Ontem, em sua fala de 45 minutos toda improvisada, o presidente não abordou a questão econômica do governo. Relatou uma série de números sobre agricultura familiar, compra de alimentos e Bolsa-Família, o que provocou a dispersão dos presentes, que estavam em clima eleitoral.
No dia em que nova pesquisa CNT/Sensus mostrou que o prefeito paulistano, José Serra (PSDB), venceria Lula num evento segundo turno em 2006, o presidente insinuou que não terá um segundo mandato no Planalto.
A declaração, dias depois de ter admitido (e depois recuado) sua candidatura, ocorreu no momento em que cobrava dos agricultores a elaboração de projetos via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "Vocês podem fazer isso [projetos], e o BNDES certamente dará a assessoria que for necessária. E vocês têm que aproveitar porque o mandato termina no dia 31 de dezembro do ano que vem. Depois, vocês não vão nem conseguir falar "bom dia" para o presidente do BNDES."
Antes, Lula havia ouvido do presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), João Felício, a promessa de apoio caso decida disputar a reeleição.
E, no mesmo dia em articulou com o governador Aécio Neves (PSDB-MG) uma espécie de pacto de não-agressão com a oposição, Lula não perdeu a oportunidade de atacar os adversários ao falar sobre a transposição do rio São Francisco: "Porque tem gente que não quer acabar com a miséria neste país, porque a miséria é a fonte da sua manutenção em cargos políticos".


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